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UFABC | Grupo de estudos Marx Voltou: a virada histórica da filosofia com o materialismo histórico e dialético

Neste sábado (13/04) ocorreu o segundo encontro do grupo de estudos Marx Voltou impulsionado pelo grupo de mulheres feminista e socialista, Pão e Rosas, o Quilombo Vermelho - luta negra anticapitalista e o Esquerda Diário. Reunindo novos participantes, o grupo de estudos debateu a virada histórica da filosofia com o surgimento do pensamento marxista materialista, histórico e dialético. Em base ao texto de Marx respondendo o livro de Proudhon, onde ensaia sua crítica a filosofia alemã e abre um novo momento da história da filosofia: o momento de utilizar o conhecimento para transformar o mundo.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

domingo 14 de abril de 2019 | Edição do dia

Tanto para os que tinham participado da primeira sessão, como para os novos integrantes, uma ideia ficou muito marcada: a virada histórica que o livro A miséria da Filosofia significava para o pensamento marxista e para a compreensão da realidade. Se poderia parecer estranho abordar a filosofia partindo de um debate econômico entre valor de uso e valor de troca, o grupo de estudos buscou aprofundar a metodologia de Karl Marx em buscar compreender as coisas, pelas próprias coisas, refutando a ideia da filosofia especulativa.

Que é a sociedade, qualquer que seja a sua forma? O produto da acção recíproca dos homens. São os homens livres de escolher esta ou aquela forma social? De modo algum. Considere-se um certo estado de desenvolvimento das faculdades produtivas dos homens e ter-se-á tal forma de comércio e de consumo. Considerem-se certos graus de desenvolvimento da produção, do comércio, do consumo e ter-se-á tal forma de constituição social, tal organização da família, das ordens ou das classes, numa palavra, tal sociedade civil. Considere-se tal sociedade civil e ter-se-á tal Estado político, que não é mais do que a expressão oficial da sociedade civil. Eis o que o sr. Proudhon nunca compreenderá, porque julga fazer uma grande coisa quando apela para a sociedade civil contra o Estado, isto é, para a sociedade oficial contra o resumo oficial da sociedade.

É desnecessário acrescentar que os homens não são livres árbitros das suas forças produtivas — as quais são a base de toda a sua história — pois toda a força produtiva é uma força adquirida, o produto de uma actividade anterior. Assim, as forças produtivas são o resultado da energia prática dos homens, mas esta própria energia está circunscrita pelas condições em que os homens se encontram situados, pelas forças produtivas já adquiridas, pela forma social que existe antes deles, que eles não criam, que é o produto da geração anterior. Pelo simples facto de que toda a geração posterior encontra forças produtivas adquiridas pela geração anterior, que lhe servem como matéria-prima de nova produção, forma-se uma conexão [connexité] na história dos homens, forma-se uma história da humanidade, que é tanto mais a história da humanidade quanto as forças produtivas dos homens, e por consequência as suas relações sociais, tiverem crescido. Consequência necessária: a história social dos homens nunca é senão a história do seu desenvolvimento individual, quer eles tenham consciência disso quer não a tenham. As suas relações materiais formam a base de todas as suas relações. Estas relações materiais não são senão as formas necessárias em que se realiza a sua actividade material e individual. - Carta a Pável V. Annenkov - 28 de Dezembro de 1846

A justeza deste pensamento não é um mérito aleatório, mas fruto do momento histórico onde Karl Marx podia ver as primeiras crises econômicas capitalistas, onde se agudizavam de maneira crescente as diferenças entre os pensadores da classe trabalhadora. Baseado na críticas dos economistas burgueses, David Ricardo e Adam Smith, Marx é capaz de apresentar um ponto de vista original de analisar a realidade concreta e pela primeira vez, ao seu auto denominar economista, apresenta uma poderosa crítica baseada no materialismo histórico e dialético.

Debates e Conclusões

A sessão passou por diferentes temas, chegando a refletir os próprios contratualistas como John Locke, Jean-Jacques Rosseau e Thomas Hobbes e a expressão da burguesia revolucionária combatendo o aprisionamento secular do homem a terra imposto pelo feudalismo, e a contraposição a concepção idealista do mundo e das ideias, onde a abstração do pensamento se descola de tal maneira da realidade, que perde-se sua ligação e fidelidade com o existente concreto.

Uma das conclusões fundamentais deste ponto foi a maneira intransigente com qual Marx apresenta seu ponto de vista que revolucionou a forma de compreender a realidade e de pensar a própria filosofia. Sem diplomacia - "como é uma tradição da esquerda brasileira" - Marx não acreditava que fosse possível negar as diferenças ou secundarizá-las em nome de uma unidade em abstrato. A necessidade de fazer saltar as diferenças, sempre de maneira bem humorada e irônica como marcam sua personalidade política, Marx apresenta pela raiz as diferenças e as consequências decorrentes das divergências.

A sessão terminou concluindo um primeiro momento do grupo de estudos da busca pela compreensão do momento histórico que possibilitou o surgimento de um pensamento como de Marx. A transição entre a burguesia não ser mais uma classe revolucionária e o surgimento do proletariado como tal. As profundas lições absorvidas pelos processos da luta de classes pelo o que ficou conhecido por Primavera dos Povos e o método de analisar a realidade a partir do materialismo histórica embutido de uma lógica do movimento das coisas, a dialética. Compreender o pensamento da época, como se deu o surgimento da ciência do marxismo, e sua expressão como continuidade - e aperfeiçoamento - do movimento pelo comunismo, pela libertação da alienação produzida pela cisão construída entre os homens e os meios de produção, as formas com as quais irão reproduzir a sua vida.

Debatemos de na próxima sessão iniciarmos um estudo sobre dialética, o que ela é e qual sua utilidade para pensar a luta pela transformação radical da sociedade. Agora, partindo da compreensão deste momento histórico, buscaremos aprofundar os conceitos e seu conteúdo nos estudos sobre dialética. Para tal propomos como leitura obrigatória “Marxismo e Dialética” de Juan Dal Maso e “ABC da Dialética” do Leon Trotsky, e como bibliografia complementar o 2° capitulo de “A miséria da Filosofia” de Karl Marx.

27/04 – 10HRS
UFABC Santo André
Sala 0006-0

Para ler os textos acesse:
https://marxvoltouufabc.wordpress.com/2019/04/14/3-encontro-27-04-19-10-horas/

Para acompanhar o G.E: https://www.facebook.com/groups/112201336280766/
Contato: 11963189085




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