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Minas Gerais | Greve da educação: era possível derrotar Zema e as prefeituras?

Apresentamos nesse artigo um balanço da greve sanitária da rede estadual de educação de Minas Gerais.

sexta-feira 3 de setembro de 2021 | Edição do dia

Frente à situação reacionária em que vivemos, que conta com ataques históricos sendo aprovados a cada semana pelo governo Bolsonaro e Mourão, pelo STF e pelo Congresso Nacional, e frente à política de desmobilização das centrais sindicais como a CUT, que dirige o Sind-UTE/MG, apresentamos algumas lições para discussão com trabalhadores da educação de Minas Gerais para estarmos melhor preparados para as próximas lutas, pois ainda mais na difícil situação nacional reacionária, somente a unidade dos trabalhadores e lutas muito bem preparadas e coordenadas podem enfrentar os ataques.

1) Betim como balão de ensaio para novos ataques: era possível enfrentar Medioli e fortalecer a luta contra os ataques de Zema

Como apontamos neste artigo, vivemos na educação de Minas Gerais um dos ataques mais autoritários desde a redemocratização. E afirmamos como as medidas autoritárias em Betim seriam um balão de ensaio para ataques ainda mais autoritários daqui pra frente na educação. Como vemos agora com mais uma exoneração autoritária, agora em uma escola de BH. É uma mostra do que Bolsonaro, Zema e a direita estão dispostos a fazer para passar ainda mais ataques aos trabalhadores e ao povo. Medidas que fortalecem os ataques de Romeu Zema na educação, como visto com a decisão arbitrária do TJMG pela ilegalidade da greve da rede estadual.

Por isso colocamos como proposta de uma tarefa prioritária da greve a de cobrir a greve de Betim de solidariedade de forma a preparar um combate exemplar contra Medioli. Fazer Medioli recuar de seus ataques, ainda que parcialmente, teria sido uma importante demonstração de forças contra tamanhos ataques. Mas a greve ficou isolada por parte dos sindicatos e das centrais sindicais.

2) Unir os focos de resistência como uma só luta contra nossos inimigos de classe

Para buscar uma saída capaz de enfrentar os ataques em curso por parte dos governos e das prefeituras, nós do Nossa Classe e do MRT, junto a outros professores propusemos uma greve metropolitana da educação, por ser uma forma de concentrar forças contra os ataques em Betim e na região metropolitana e desta forma ser um ponto de apoio para um possível fortalecimento da greve contra os ataques de Zema e dos prefeitos. Fomos a única corrente da oposição que ofereceu essa proposta alternativa à rendição da CUT frente aos ataques, e frente à desmobilização desta central com a luta e a organização de trabalhadores.

Contra essa política divisionista também defendemos nas assembleias a unidade das lutas em curso, como o apoio à greve dos operários da construção civil da MRV em Campinas e a greve da educação em Betim, políticas que tiveram adesão de trabalhadores nas assembleias. Porém que não se transformaram em ação devido à política de divisão e isolamento das lutas em curso pelas centrais sindicais. As mesmas que dividem nossa classe ao não convocar um plano de lutas nacional para derrotar os ataques de Bolsonaro e Mourão.

3) Apenas a luta de classes pode derrotar os governos

Frente a esse cenário, fortalecer os trabalhadores contra os ataques passava por apoiar a disposição de luta que professores na rede estadual demonstraram, que, mesmo com o desmonte da luta organizado pela direção estadual do Sind-UTE/MG – com discurso de que se a greve seguisse seria demissão na certa, devido à ilegalidade da greve, como afirmou a coordenadora-geral do sindicato, Denise Romano – ainda assim quase 20% dos professores em assembleia votaram contra o encerramento da greve. E, acima de tudo, a disposição demonstrada pelos professores em Betim, que fizeram assembleias municipais com mais de 500 professores apenas da cidade.

Porém, a CUT, que dirige o Sind-UTE/MG, aceitou os ataques como uma fatalidade, se negou a apresentar qualquer plano de lutas para os trabalhadores e defendeu o fim da greve, justificando sua política na fragilidade da greve sanitária estadual, na alta aprovação eleitoral de Zema e tomando a greve como encerrada pela justiça ter julgado a greve como ilegal. Construindo o discurso de que, havendo luta, haveria demissões, e jogando dessa forma a responsabilidade nos trabalhadores e na população.

Essa política é continuidade da política nacional da CUT e do PT, de apostarem nas saídas institucionais e nas eleições de 2022. E que leva a desmobilizar a luta de trabalhadores, deixando passar ataques, como vimos na nossa greve da rede estadual. Ou seja, uma derrota construída pela CUT na categoria de professores da rede estadual de MG.

4) O corporativismo e a confiança na justiça burguesa pelas direções sindicais

A greve sanitária foi preparada pela direção do Sind-UTE/MG para ser uma greve essencialmente corporativa. Primeiro, aceitou a separação entre os próprios trabalhadores da educação, dividindo professores das ASB e ATB, que retornaram para as escolas desde o ano passado. Depois, a divisão da greve conforme os municípios, aceitando os protocolos de retorno de cada prefeito e desta forma dividindo a nossa luta. Além da divisão dos professores em relação ao conjunto da nossa classe, que em sua maioria não teve direito à quarentena em nenhum momento.

Essa foi a política das direções sindicais de professores em todo o país, tanto das majoritárias do PT e PCdoB, quanto da esquerda, que se limitaram a demandar o direito à quarentena aos trabalhadores da educação, mas sem nenhuma política que respondesse aos dramas que as comunidades escolares vivem. Uma política de unidade com a população na luta para responder a crise sanitária, econômica e social: essa era a única forma de durante a pandemia ir construindo uma aliança que pudesse garantir que os professores tivessem o direito à segurança sanitária e que a população não ficasse refém da política dos governos.

Mas as direções sindicais em sua maioria preferiram se contentar em fazer um discurso em que pareciam que estavam preocupados com a segurança sanitária dos professores em cada estado e chamando greves sanitárias mal preparadas e divididas. Assim, pareciam que lutavam pelo nosso direito como professores, mas na prática não era isso, e sim um discurso corporativo para contentar a categoria, mas que não responde às necessidades dos professores e das comunidades escolares. Política que vai na contramão da batalha que deve ser dada para que os trabalhadores atuem como sujeitos, pela unidade destes com o povo e seus setores mais oprimidos e por uma política de independência de classe.

Essa política foi combinada com a ação do sindicato ao longo de toda a pandemia em que não houve fóruns de base e apostaram suas confianças em liminares na Justiça burguesa – a que supostamente garantiu que os professores seguissem em quarentena nos últimos meses e que foi rapidamente derrubada frente à imposição do retorno, numa situação em que os trabalhadores da educação não contaram com nenhuma organização para a luta devido à política de confiança das direções nas instituições como o judiciário e o STF, mesmo esses sendo agentes de ataques profundos aos trabalhadores desde o golpe de 2016.

5) A greve sanitária poderia tomar para si as demandas da população: professores como defensores das demandas do povo

Frente à realidade em que a maior parte de trabalhadores não tiveram direito à quarentena, com a população amargando os impactos de uma pandemia sem auxílio emergencial, com aumento dos preços e da fome, os governos fazem uma ampla campanha contra os professores como se fôssemos nós os responsáveis pelo fechamento das escolas ou privilegiados pela possibilidade de estarmos em regime remoto enquanto a maioria dos trabalhadores foram obrigados a seguir trabalhando presencialmente.

A única forma de combater esse discurso hipócrita – que serve apenas para garantir piores condições de trabalho e estudo e para passar mais ataques visto a tamanhas mazelas criadas pelos impactos da pandemia e da crise política e econômica – era uma greve que se erguesse, junto às demandas contra o retorno inseguro, a defesa da garantia de alimentação das famílias, restaurantes populares, auxílio emergencial, internet de qualidade para as famílias, testagem massiva e vacinação para todos.

Uma campanha como essa mostraria como os governos é que são responsáveis pela situação atual. Apenas superando o corporativismo imposto pelas direções sindicais que poderemos enfrentar os governos e as alas do regime político que atuam todas de mãos dadas contra os trabalhadores e o povo.

6) Tomar os rumos de nossa luta em nossas mãos: a luta pela auto-organização de trabalhadores

Consideramos um exemplo o que os trabalhadores da educação de Betim fizeram, como na escola Osório Aleixo, criando comitês próprios devido ao retorno inseguro, em que educadores relataram as péssimas condições do retorno presencial e divulgaram situações absurdas de falta de infraestrutura nas escolas, como falta de banheiros suficientes, de áreas ventiladas, falta de vacinação e falta de merenda, mostrando que os trabalhadores da educação são os mais preocupados com a educação e com a saúde dos estudantes e da comunidade escolar.

Diferente de exemplos desse tipo, que permitem aos trabalhadores serem sujeitos de nossas lutas, a nossa greve na rede estadual teve seus organismos de base desarticulados pela direção do Sind-UTE/MG. Um exemplo, o fato da greve ter sido deflagrada por fora de uma assembleia geral e por isso demos a batalha a favor da base pode ter seus espaços democráticos de debate e organização, o que foi negado pela direção do sindicato, que chamou apenas em agosto uma assembleia de trabalhadores como forma de preparar uma greve fraca.

Em vários estados aconteceu parecido: o chamado pelas direções de greves sanitárias sem construir pela base, definidas de cima pra baixo, somente para “ficar bem” com a base de professores que almejava a justa demanda de ter a saúde de seus familiares, dos estudantes e da comunidade escolar preservadas.

Desde o início da greve, nós do MRT denunciamos práticas burocráticas da direção estadual do sindicato, de divisão da organização da nossa categoria, e defendemos propostas para fortalecer a organização de base contra os ataques para organizar a nossa resistência. Defendemos também a unificação de trabalhadores da educação numa mesma greve e em um mesmo comando com representantes eleitos nas escolas, para unificar as forças contra os ataques do governo. “Se os problemas dos trabalhadores e do povo são os mesmos, porque aceitar a divisão de nossa greve conforme calendários de retorno impostos pelas prefeituras? Os governos articulam e unificam seus ataques, nós trabalhadores temos que fazer o mesmo contra eles!”, dissemos. Essa é uma batalha que diferencia nossa corrente de todas as demais, pois lutamos pela auto-organização dos trabalhadores, de forma a batalhar para que nossos sindicatos estejam a serviço das lutas, e não de mandatos parlamentares e para as eleições de 2022, como se transformou o Sind-UTE/MG.

7) O PCdoB mais uma vez mostra que ataca as greves para servir à burguesia

Nesta greve o PCdoB mais uma vez mostra de que lado está, e defendeu a prefeitura de Medioli contra os trabalhadores. Isso não é uma novidade para trabalhadores de estados e prefeituras governados por esse partido. Na região metropolitana temos o exemplo da greve de 2016 da rede municipal de Contagem, em que a prefeitura do PCdoB na época, de Carlin Moura, colocou a Guarda Municipal para agredir trabalhadores e até professoras grávidas.

Por isso, por proposta do MRT e do Nossa Classe, a assembleia de professores da rede estadual votou um rechaço ao ataque deste partido à greve em Betim, que soltou uma nota contra os trabalhadores da educação e defendendo a prefeitura de Medioli e da secretária de Educação, Marilene Pimenta, do PCdoB.

Esse combate é parte da nossa batalha contra um projeto de conciliação de classes nacional e de frente ampla, que é levado à frente pelo PCdoB, mas também pelo PT. O PCdoB é o principal partido de tradição stalinista que tem peso hoje no Brasil em sindicatos e dirige uma importante central sindical como a CTB. Central sindical que, apenas em MG, dirige o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas), além de atuarem como verdadeiras burocracias na direção majoritária da UNE e da UBES. Sindicatos e entidades que não se posicionaram em rechaço ao PCdoB em Betim.

Não é pontual, portanto, o ataque feito em Betim, mas sim a expressão de um projeto que levam à frente nacionalmente, e que também se expressou no apoio a Rodrigo Maia na Câmara dos Deputados e na implementação de reformas contra trabalhadores nos estados que governam. Como quando Flávio Dino, governador do Maranhão, ainda no PCdoB, realizou a reforma da Previdência no estado e quando autorizou a concessão da base de Alcântara aos Estados Unidos, uma política de submissão imperialista absurda.

8) É preciso superar as burocracias e lutar pela independência de classe. Venha debater conosco esse projeto

Frente à crise que vivemos é fundamental a organização de trabalhadores da educação numa perspectiva de independência de classe e que não fique refém dos projetos de frente ampla e de ataques a nossos direitos. Nós do MRT e do Nossa Classe levamos mais uma vez essas batalhas à frente nessa greve, fazendo propostas de unidade com base na luta às correntes da oposição que atuam na categoria (PSTU, PSOL, PCB, UP), muitas delas negadas pelo seguidismo sindical dessas correntes à CUT em nossa greve, e pra além desta por não atuarem na batalha pela organização pela base de trabalhadores.

E queremos debater com cada trabalhador da educação, que nos conhece e que segue o Esquerda Diário, para fortalecer os trabalhadores e a unidade de nossa classe junto a todos mais explorados e oprimidos. Como parte de nossa batalha por um plano de lutas contra os ataques de Bolsonaro, Mourão, Zema e das prefeituras. E para batalhar para que os sindicatos estejam a serviço dos trabalhadores e não de alas da burguesia, ou seja, para tomar os sindicatos em nossas mãos.

Ao longo da greve e antes dela colocamos o Esquerda Diário a serviço de denúncias dos trabalhadores da educação e estivemos em todas as lutas em apoio a outras categorias que se mobilizaram, como metroviários, educadores de BH, petroleiros, e em defesa das lutas populares, como as ocupações. Por isso, nós do Nossa Classe Educação e do MRT convidamos você para o Encontro do Esquerda Diário, que faremos no dia 18 de setembro, para fortalecer essas batalha em cada escola de BH e de toda a região metropolitana.




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