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GREVE BANCÁRIOS | Greve Bancários 2016, reflexões no nono dia de greve

Completa nesta quarta-feira (14/09) nove dias da greve dos bancários de 2016. Deflagrada nacionalmente, a paralisação atinge cerca de 11.500 agências e 50 centros administrativos, representando algo em torno de 50% dos estabelecimentos no país.

quarta-feira 14 de setembro de 2016 | Edição do dia

Entre as principais reivindicações estão:

  •  Reajuste Salarial com reposição de inflação (9,62%) mais ganho real de 5%;
  •  Participação nos Lucros e Resultados de 3 salários mais R$8.317,90;
  •  Fim das demissões, mais contratações, fim da rotatividade e combate às terceirizações diante dos riscos de aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 30/15 no Senado Federal, além da ratificação da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que coíbe dispensas imotivadas;
  •  Aumento nos benefícios de Vale Alimentação, Vale Refeição, etc., ao nível do salário mínimo (R$ 880,00);
  •  Melhores condições de trabalho, saúde e segurança, com fim das metas abusivas que têm levado a categoria ao adoecimento.

    Após seis reuniões com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), na reunião do dia 13 de setembro os banqueiros mantiveram-se irredutíveis: ofereceram 7% de aumento nos salários e abono de R$ 3.300,00, sinalizando que a mobilização deve continuar por tempo indeterminado.

    Na verdade, a greve se configura, principalmente, como uma tentativa de combater a sangria a que o sistema financeiro tem levado o país, seus clientes e funcionários. A Selic, taxa básica de juros, definida em 14,25% ao ano, figura entre as mais altas do mundo. De acordo com o Banco Central do Brasil, a taxa média de de juros no crédito para as famílias situou-se em 42% ao ano, com elevação de 5,7% nos últimos doze meses. Para as empresas, a taxa estabeleceu-se em 22,1% ao ano, com aumento de 2,3% em doze meses. Só o spread bancário - a diferença entre o que é captado e o que é emprestado, ou seja, o ganho bruto do dinheiro para os bancos – foi de 23,2% ao ano para o mês de julho. As tarifas bancárias, ainda que regulamentadas pelo Banco Central, tiveram, normalmente, reajustes acima da inflação.

    Mesmo com a retração de cerca de 4% do PIB em um ano, algumas instituições conseguiram um retorno sobre o patrimônio de mais de 15%. Não obstante, somente até o mês de maio, foram fechados quase 6.000 postos de trabalho nestas instituições.

    Do ponto de vista da saúde dos funcionários, ocorre uma verdadeira epidemia de transtornos psíquicos e distúrbios LER/DORT, sendo a cobrança abusiva por metas a principal causadora de tais problemas. Do ponto de vista do consumidor, os bancos só ficam atrás das operadoras de telefonia, contabilizando quase 29.000 atendimentos no PROCON do estado de São Paulo, no acumulado deste ano. A nível nacional, no ranking do Banco Central sobre as instituições mais reclamadas, as cinco maiores instituições financeiras do país (Itaú, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco e Santander) acumularam quase 86.000 reclamações no acumulado do ano de 2016.

    Representada majoritariamente pela CONTRAF/CUT, a categoria bancária tem um histórico de grandes conquistas realizadas, como a carga horária de seis horas, vales alimentação e refeição, planos de saúde, etc. Tem também um modelo organizativo exemplar, com coesão nacional e um sistema de infraestrutura e apoio invejável. No entanto, a política que a CUT tem adotado encontra sérias deficiências que em momentos de instabilidade como este mostra suas contradições. A começar por sua organização extremamente burocrática, composta por órgãos dissociados da base e ligados invariavelmente ao Partido dos Trabalhadores.

    Além disso, toda a linha política para as campanhas salariais é definida em Congressos majoritariamente ocupados por diretores e delegados liberados ligados à Central, orientados em maior ou menor grau pela Diretoria Executiva e dominados pela Articulação-Unidade na Luta, corrente predominante no Partido desde a sua fundação. De fato, em momentos de grande convulsão social, como as Manifestações de Junho de 2013, a CUT manteve-se fora de cena, contentando-se em realizar assembleias separadas por categoria.

    Nesses encontros, a Central aplicou um script de início e fim de greve, com votações questionáveis e posições distorcivas. Chegou mesmo a alardear que, na greve de 2015, havia “arrancado” 0,1% de reajuste dos patrões.

    Mesmo após o golpe, o esforço para o chamado à Greve Geral foi mínimo, não passando de reuniões pontuais com representantes de algumas categorias como a dos petroleiros e funcionários dos Correios. Como uma Central que representa cerca de 90% dos sindicatos do país pode manter-se à margem de mobilizações sérias que apresentem propostas para o conjunto da classe trabalhadora? Não é necessário ser cientista político para perceber que sua dança vai depender da música tocada pela situação do PT na luta política nacional.

    Mesmo depois de ser tirado a pontapés do Executivo, o Partido não atuou de maneira coerente contra o golpe, se esforçando em pequenos apelos parlamentares movidos por puro cinismo e oportunismo. Sua tentativa de se abrigar na classe trabalhadora, “último bastião contra o golpe”, se dá de maneira totalmente inconvincente, com acusações rasas às oposições e à insistência em um discurso reformista que provou levar à ruína e desagregação. À sua ilusão parlamentar corresponde a descrença da classe trabalhadora em seu programa e seus representantes. Ao seu fracasso como força política seguirá o seu revés nas urnas.

    Independentemente de quem ocupe os cargos no aparelho estatal, o capital cobrará seu preço mundialmente, vide os casos da Grécia, França, Portugal e Espanha. A onda de reformismo e pequenas conquistas ficou para trás; agora, o momento é de uma ressaca conservadora com possibilidades de retrocessos históricos na luta entre capital e trabalho. Porém, abrem-se possibilidades para que a esquerda se reorganize radicalmente e que surja a resistência onde houve a domesticação. Não pode haver uma luta séria em que não se questione o sistema econômico e político global, especialmente seu carro chefe, o sistema financeiro. Em relação a este, não poderá existir oposição que não levante os temas como: a tributação dos lucros dos Bancos; a criação de Frentes Públicas de Trabalho que absorvam a massa de desempregados para a ampliação da infraestrutura produtiva nacional, financiada pelos grandes Bancos e Fundos de Pensão; a revisão das obrigações financeiras para os trabalhadores endividados; a baixa de juros e a estatização de todo o sistema financeiro.

    Enquanto continuarmos isolados, lutando apenas por questões específicas, não será possível despertar a consciência dos setores mais explorados como um todo. É necessário avançar para uma união entre as categorias, começando com aquelas mais organizadas até as mais precarizadas, rumo a uma greve geral que aponte novos rumos políticos para o país.




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