Em reunião online nesta quinta-feira (21/05) entre governadores do país todo e o presidente Bolsonaro, o tom foi de união, até mesmo entre os governadores da oposição.
quinta-feira 21 de maio de 2020 | Edição do dia
Como já noticiamos aqui, na reunião desta quinta-feira, onde participaram os 27 governadores, o presidente Jair Bolsonaro, os presidentes ds Camâra e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e ministros do Governo Federal, o tom foi de unidade nacional para enfrentar o coronavírus.
Inclusive os governadores de PT e PCdoB, que por serem de oposição ao governo de Bolsonaro seria de se esperar um tom mais áspero em relação a sua política, pouco falaram sobre o encontro nas redes sociais. Wellington Dias (PT), do Piauí, Camilo Santana (PT), do Ceará, e Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, fizeram postagens protocolares em suas redes sociais. Dino disse que foi uma iniciativa positiva e Santana ressaltou a importância de deixar de lado as divergências ideológicas neste momento. Rui Costa (PT), da Bahia, nem sequer se pronunciou nas redes sobre a reunião.
Reunião dos governadores com os presidentes da República, Câmara e Senado sobre as medidas econômicas neste momento. Defendo que haja a união de todos, deixando de lado divergências políticas e ideológicas. O mais importante é a proteção de todos brasileiros para superar a crise. pic.twitter.com/UxZlonYzAS
— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) May 21, 2020
A única a desenvolver um pouco mais sobre o tema foi Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte. Também ressaltando o tom respeitoso do encontro e como “as divergências foram deixadas de lado para que pudéssemos focar na união de todos em defesa da saúde do povo brasileiro e na superação da crise.” Se opôs ao congelamento dos salários de servidores estaduais, mas por considerar que isto representa uma interferência da União nos estados e municípios.
A reunião entre nós, governadores do Brasil, e o presidente da República acabou há pouco, num clima institucional respeitoso. As divergências foram deixadas de lado para que pudéssemos focar na união de todos em defesa da saúde do povo brasileiro e na superação da crise.
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— Fátima Bezerra (@fatimabezerra) May 21, 2020
Mesmo que o repasse aos estados e municípios, cujo valor chega a 60 bilhões de reais ao longo de 4 meses, seja fundamental neste momento de pandemia e crise econômica, as contrapartidas exigidas são absurdas. A proibição de reajustes salariais para servidores, bem como a não contagem do período 2020-2021 para progressão salarial, a proibição do aumento de gastos públicos obrigatórios acima da inflação e a proibição de contratações, abertura de concursos e criação de novos cargos são ataques inaceitáveis ao funcionalismo público.
A própria reunião de hoje teve como objetivo principal para Bolsonaro angariar apoio para seu veto às emendas feitas ao projeto que previam a exclusão de certas categorias do congelamento salarial, através de uma oferta de liberação mais rápida dos recursos.
O papel de PT e PCdoB
PT e PCdoB apoiaram os projetos tanto na Câmara quanto no Senado, ainda que na Câmara dos Deputados a bancada do PT tenha sofrido uma divisão (30 votos a favor e 20 contra). O fato de não se pronunciarem de maneira frontal contra as medidas de ajuste fiscal impostas pelo “pacote de ajuda” aos estados mostra qual é a política destes partidos em suas gestões.
Desde o ano passado, diversos estados governados pela oposição aprovaram suas próprias Reformas da Previdência, muitas vezes sob dura repressão contra servidores públicos por parte da Polícia Militar. Junto a isso, a política da CUT e CTB, centrais sindicais dirigidas por PT e PCdoB, respectivamente, é de conciliação de classes, como ficou demonstrado no ato de 1º de Maio deste ano com o convite a figuras como Rodrigo Maia, FHC e outros.
Essas centrais, que poderiam levar a frente uma enorme luta contra Bolsonaro e o Congresso, atuam como freio das lutas dos trabalhadores, como por exemplo em 2019 quando separaram a luta da educação que levou milhões de jovens às ruas, da luta contra a Reforma da Previdência. Dessa forma garantem estabilidade a Bolsonaro e fazem com que o protagonismo da oposição a ele seja assumido por setores da “burguesia responsável”, que hoje se apresenta em Dória, Maia e o STF, enquanto a luta de classes é tirada de cena.
Isto tudo está à serviço da estratégia eleitoral petista, que busca “sangrar” o governo visando a vitória na eleição de 2022. A postura dos governadores petistas e de Flávio Dino, do PCdoB, é de uma atuação completamente por dentro “das regras do jogo”, aceitando as imposições absurdas do governo federal e clamando pela unidade nacional, em um momento onde os danos econômicos e sanitários atingem aos mais pobres e as periferias de maneira muito mais devastadora.