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MILITARES | General Villas Boas admite pressão golpista da cúpula militar pela prisão arbitrária de Lula em 2018

Em entrevista, o ex-comandante do Exército, General Eduardo Villas Boas admitiu que os tweets publicados por ele no dia anterior ao julgamento do Habeas Corpus do ex-presidente Lula, no STF, no ano eleitoral de 2018, foram em acordo com o Alto Comando do Exército.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

sexta-feira 12 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Na postagem, o ex-comandante anunciava que o Exército “compartilha o repúdio à impunidade e o respeito à Constituição”, pressionando claramente o STF pela manutenção da prisão arbitrária de Lula. Ainda, insinuou que o Exército estaria “atento às suas missões institucionais”, insinuando que não ficaria passiva diante do resultado contrário.

A justificativa dada por Villas Boas nessa entrevista ao Centro de Documentação Histórica da FGV é de que se tratava de um “alerta” e não uma “ameaça” por parte do Alto Comando. A razão, segundo ele, era o temor por uma possível “convulsão social diante do aumento das demandas por uma intervenção militar”. Depois, admitiu que se tratava também de uma iniciativa para que os militares pudessem intervir na política do país.

Lula havia sido preso pelo juiz Sérgio Moro, que comandava o TRF4 onde ele foi condenado e preso pelo caso do triplex no Guarujá. Tratou-se de uma medida da Lava-Jato para obrigar ao PT escolher um outro candidato para a disputa de 2018, tomando todo tipo de medidas arbitrárias, reveladas nos anos seguintes pela revista Intercept no escândalo da Vaza Jato.

A vitória de Bolsonaro nessa disputa, embora fosse pretérito frente a figuras da direita golpista como Alckmin, tratou de recompensar não só Sérgio Moro com o cargo de Ministro da Justiça, mas principalmente os militares, agradecendo pelo “braço forte e a mão amiga” que pavimentaram a sua vitória. Além de lotearem inúmeros postos chave do governo, puderam abocanhar uma parte ainda maior do orçamento estatal para a corporação. As 700 toneladas de picanha e 80 mil cervejas pagar com dinheiro público devem ter virado churrasco em comemoração por cada direito trabalhista arrancado. O sangue que se agarrou à farda não é de boi, mas de trabalhador.

Nada mais cínico de alguém que insinua ao papel golpista das Forças Armadas naquele tweet dizer que estava querendo “evitar” tal momento. É a declaração de que os militares novamente se colocaram como garantidores do avanço da política do golpe institucional de 2016, da violação de cada direito democrático para arrasar com a Previdência, com os direitos Trabalhistas, com as verbas da saúde.

A declaração de Villas Boas busca se relocalizar diante da retirada da Lava-Jato do arsenal político do golpismo. Após os principais ataques econômicos do golpe passarem, os mesmos setores do STF, dos militares, alinhados à nova gestão Biden nos EUA, agora se desfazem da operação, buscando dar um ar de “normalidade democrática” ao momento que vivemos. Buscam jogar a culpa de toda a crise política na operação e lavar as mãos por cada rasgo na já viciada Constituição de 1988.

A Lava Jato se desfaz, mas o autoritarismo do regime golpista segue marcado com um fortalecimento do lugar dos militares e do STF na condução política, poderes que não são eleitos por ninguém, e interferem diretamente na vida de toda a população, nas riquezas nacionais, fortalecendo o aparato militar e policial.

Nós do Esquerda Diário denunciamos e apontamos incansavelmente o papel pró-imperialista e golpista da Lava-Jato, da proscrição anti-democrática da candidatura de Lula e sua prisão, que vinha para aprofundar as privatizações e subordinação da classe trabalhadora brasileira aos interesses dos grandes capitalistas internacionais e nacionais. Contudo, jamais acreditamos que o PT poderia impedir tal investida, pelo contrário. Nos seus anos de governo fortaleceram cada um dos agentes golpistas no Congresso, no STF e no Alto Comando militar, a exemplo das operações militares no Haiti, e assimilando os métodos corruptos de governo junto aos empresários e o imperialismo.

Além disso, através das centrais sindicais como a CUT e a CTB, o PT e o PCdoB organizaram a derrota dos trabalhadores em cada ataque econômico e político, sequer mobilizando em cada local de trabalho o rechaço ao golpe institucional de 2016 ou a proscrição de Lula, a serviço da sua estratégia de voltar a governar ao lado dos agentes do golpe. Foram parte de alimentar o ceticismo na força dos trabalhadores e abrindo espaço para o bolsonarismo. Hoje seguem repetindo essa estratégia, já sinalizando Haddad para 2022 caso Lula não seja reabilitado pelo STF e possa disputar o pleito.

Os militares, golpistas e a extrema-direita não vão ser vencidos pelas vias “normais” do sufrágio universal, muito menos nesse regime do golpe institucional, onde nada irá passar sem aval de gente da estirpe de Villas Boas e outros ainda. É papel dos trabalhadores, encabeçando uma grande luta nacional hoje contra as reformas e privatizações em curso que podem abrir caminho para uma saída que rompa com os militares, juízes e seu mando pró-capitalista dos rumos do país cada vez mais dependente e saqueado pelo imperialismo.




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