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Garis de Porto Alegre: a precarização do trabalho também é racista

Nesta quarta (08) ocorreu em Porto Alegre uma paralisação dos trabalhadores terceirizados encarregados da limpeza urbana, que tiveram seus salários atrasados. Este caso escancara mais uma vez a precarização do trabalho imposta pela terceirização, carregada de racismo, em que a grande maioria dos que ocupam estes empregos precários são negros.

quinta-feira 9 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

A empresa Belém Ambiental, contratada pela prefeitura de Porto Alegre, não pagou em dia os salários dos trabalhadores, que iniciaram o dia de ontem paralisados. Na última segunda (02), os trabalhadores do mesmo setor, em Várzea Grande (MT), também iniciaram paralisação pelo pagamento do salário, vale-alimentação, cesta básica e assistência nos frequentes casos de acidente que ocorrem. No final do ano passado, as terceirizadas da UFRGS também tiveram que paralisar suas atividades pelo pagamento dos salários e 13º.

Há outros inúmeros casos, como a grande greve dos garis do Rio de Janeiro em 2014, em que os trabalhadores destes setores se esgotam e paralisam suas atividades, muitas vezes para exigir o mínimo, que é o pagamento dos salários. A precarização do trabalho, agravada pela terceirização, atinge principalmente a população negra, que ocupa os piores postos de trabalho e é maioria entre os trabalhadores terceirizados.

A terceirização é forma de trabalho que mais sintetiza a herança escravocrata brasileira. Nos empregos terceirizados os direitos trabalhistas, conquistadas com muita luta pela classe trabalhadora, são constantemente violados. Além disso, os terceirizados recebem, em média, 25% menos do que os trabalhadores contratados e trabalham cerca de 3 horas a mais.

A empresa contratada pela prefeitura de Porto Alegre se comprometeu em pagar os salários atrasados ainda no dia de ontem. Porém nada garante que estes trabalhadores terão seus empregos mantidos após a mobilização, pois outra característica muito marcada na terceirização é a rotatividade. Além disso, enquanto trabalhadores do serviço público contratados diretamente tem estabilidade, valores maiores de vale-alimentação e, em geral, mais direitos garantidos, os terceirizados estão completamente à mercê da vontade das empresas. Muitas inclusive fecham as portas sem dar satisfações aos trabalhadores e sem pagar seus direitos.

A população negra, maioria entre os terceirizados e que mais sofre com a precarização do trabalho, é também a parcela mais pobre da população, que vive em piores condições. Entre os brasileiros mais pobres, 76% são negros. Entre os trabalhadores desempregados no Brasil, a maioria também é negra. Em 2013, a população negra representava 60% dos que estavam sem emprego. De lá pra cá, com o aumento do desemprego em geral, é possível que este dados tenha se agravado também.

Quando retornam às suas casas, depois de exaustivas jornadas de trabalho, boa parte dos trabalhadores terceirizados ainda é obrigada a conviver com a violência policial. É também a população negra e pobre que mais sofre nas mãos da polícia, que assassina cotidianamente os jovens na periferia.

Tudo isso é parte de uma herança de mais de três séculos de escravidão, em que a população negra foi brutalmente explorada, além de inúmeras violências às quais era submetida. Quando foi abolido este tipo de trabalho no Brasil, os negros foram jogados à própria sorte nas piores condições de vida possíveis. O racismo ainda hoje é uma poderosa ferramenta da qual a burguesia se utiliza para garantir maior exploração e dividir os trabalhadores, sendo a terceirização um marco importante disso, aumentando a taxa de lucro às custas da precarização do trabalho e da vida de milhares de pessoas.

É por isso que, na luta contra a terceirização e a precarização, é de tanto peso o tema do racismo. Lutar pela efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso é lutar também contra o racismo que sustenta esse histórico e brutal sistema de exploração e opressão.




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