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França: Multidão rejeita nas ruas a lei que ataca a liberdade de imprensa

A lei de Segurança Nacional impulsionada por deputados governistas foi aprovada nesta última sexta-feira pela Assembleia Nacional. No sábado ocorreu uma segunda rodada de manifestações em Paris, Marselha, Bordeaux, Toulouse, entre outras cidades. Houve repressão.

segunda-feira 23 de novembro de 2020 | Edição do dia

Milhares de pessoas se manifestaram este sábado em várias cidades da França contra o projeto de lei de segurança que limita as gravações de vídeo de policiais em ação.

A lei restringe a difusão de imagens de policiais e gendarmes em intervenções e o direito de manifestação, generalizando o uso de drones em manifestações.

"A liberdade de imprensa é um direito fundamental" defendeu o secretário geral do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNP), Emmannuel Poupard, perante os milhares de pessoas que assistiram ao comício de Paris, na praça de Trocadero. "A intenção da lei é clara, disciplinar os jornalistas", acrescentou.

Sindicatos, associações de jornalistas e organizações de direitos humanos insistem em seu temor que a nova lei permita aos agentes mais atuações fora da lei e encobrir possíveis casos de brutalidade.

Apesar de sua aprovação, este sábado houveram diversas convocatórias de manifestações e milhares de pessoas responderam ao chamado em Paris, Marselha, Bordeaux, Toulouse e muitas outras cidades.

Ao menos 20.000 pessoas se manifestaram em Paris, a mobilização também foi forte em outras grandes cidades francesas. Em Toulouse, também foram milhares de pessoas para as ruas em um clima de determinação. A repressão veio no final da manifestação.

Em Paris, a praça do Trocadero estava blindada, e a aprovação da lei não afetou a determinação dos manifestantes. Mais uma vez, os jovens marcaram presença na linha de frente contra esta lei liberticida e a instrumentalização islamofóbica do governo para justificar sua ofensiva de segurança.

Na marcha também se juntaram os coletes amarelos, fazem dois anos do início de seu movimento que ainda hoje representa temor para as classes dominantes, assim como também se fizeram presentes muitos setores da classe trabalhadora, desde os bairros operários até aos setores do mundo de trabalho.

"Esta lei é uma resposta muito violenta ao movimento contra violência policial, mostra que o governo não escutou nossas demandas", disse Jeanne, uma estudante de 17 anos presente na manifestação de Paris. O mesmo para Diane, Emma, Lila e Mona, "dispostas a fazer campanha até a revogação da lei. Só queremos uma democracia como a que nos prometeram".

O coletivo de funcionários aeronáuticos também participou e deu seu apoio à equipe dos hospitais. Uma faixa dizia "do campo de aviação aos hospitais, todos juntos contra o macronavírus". Também deram claro apoio aos trabalhadores da fábrica de Toray, que atualmente se encontram em greve no marco de uma luta exemplar contra o corte de postos de trabalho.

A mobilização também foi forte em vários lugares, variando de centenas a milhares de pessoas em cidades como Lille, Lyon, Marselha, Bordeaux, Montpellier, Grenoble e muitas outras cidades.

Por exemplo, um jornalista da televisão estatal francesa foi detido durante doze horas na terça-feira passada enquanto cobria, creditado, um pequeno protesto contra a lei perto da Assembleia Nacional.

O que fez o parlamento, a rua pode desfazer

No contexto atual, marcado por um giro reacionário generalizado e um discurso político de direita, vale a pena se perguntar se assistimos ao início de uma mobilização massiva contra a ofensiva de segurança do Governo. Ainda que a pergunta não tenha uma reposta categórica, é evidente a rejeição da lei de segurança integral que constitui um ponto de inflexão na situação, e é expressão de um descontentamento social latente e mudo até agora, mas muito presente em muitos setores das classes populares e juvenis.

Além do respeitável número de manifestantes diante da situação atual e o clima de medo do vírus, da repressão ou das demissões que atomizaram o protesto nas últimas semanas, duas considerações têm que ser levadas em conta.

Por um lado, o início do movimento atual tem como ponto central uma questão eminentemente política, que questiona inclusive diretamente um dos pilares da Quinta República, que é a instituição policial, e enfrenta diretamente a repressão estatal. Neste sentido. O início dessa mobilização é particularmente explosivo, seu desenrolar poderia ser fatal para o governo Macron.

Por outro lado, embora hoje o movimento possa se caracterizar como um movimento "vanguardista", o certo é que as marchas veem convergir objetiva e espontaneamente diferentes setores do nosso campo social como a juventude, o movimento dos coletes amarelos, trabalhadores, mulheres, minorias de gênero, população dos bairros trabalhadores, etc. Esse coquetel social é particularmente explosivo para o governo.

Neste contexto, o movimento operário e suas organizações têm a responsabilidade de oferecer uma perspectiva política a esta mobilização espontânea, buscar a ampliação mais extensa possível para o desenrolar de um plano de luta consistente contra o governo e suas políticas. O chamado a lutar contra todos os planos de demissões e ataques diversos e variados, mediante assembleias gerais nos lugares de trabalho, em apoio a luta dos bairros operários, de jovens, mulheres e minorias de gênero, podem abrir caminho para a mobilização massiva, através de greves contra a gestão catastrófica da crise econômica, social e de saúde dos capitalistas e seu Governo.




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