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REVOLTA NEGRA | Forte ato contra racismo na Unicamp

Em dia histórico na Unicamp, ontem (21), dezenas de estudantes negras e negros e apoiadores realizaram um forte ato contra o racismo na universidade. O ato, foi chamado pelo Núcleo de Consciência Negra da Unicamp em resposta a pichações racistas encontradas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e tinha como objetivo exigir da reitoria um posicionamento e atitudes pra combater não só casos como esses, mas o racismo estrutural da universidade.

Guilherme ZanniProfessor da rede municipal de Campinas.

terça-feira 22 de março de 2016 | Edição do dia

O núcleo feminino da Escola de Capoeira Angola Resistencia, que se organiza na Moradia Estudantil, abriu o ato com uma belíssima intervenção, resgatando parte vital da história e cultura do povo negro. Outras manifestações artísticas emocionaram, como as poesias do MC Mauricio e os raps, que em coro, expressaram um grito de revolta. Além disso, vários coletivos, entidades e estudantes independentes denunciaram com muita força a estrutura racista da universidade, que não permite que a maior parte da população, que é negra, tenha acesso ao ensino superior publico e de qualidade.

Um dos gritos mais ouvidos era: “A pergunta que não cala, quantos negros tem na sua sala?”, evidenciando por um lado os problemas de uma universidade que até hoje absurdamente se nega a adotar cotas raciais e também os ínfimos 2% de professores negros nas salas de aula. Esta realidade é a que permite que o ensino e a pesquisa aqui produzidos, tendo poucos negros como sujeitos de sua realização, ainda seja baseado numa visão totalmente eurocentrada, onde sua história é apagada cotidianamente. A juventude negra quer e tem direito de estudar, vamos agarrar em nossas mãos nossa história e produzir o melhor do conhecimento humano para também servir aos nossos.

A terceirização tem pele negra

Se pouquíssimos negros entram na universidade para estudar ou pesquisar, por outro lado ela se sustenta sobre o trabalho terceirizado, extremamente precário e mal remunerado, no qual a maior parte são trabalhadoras negras.

A Unicamp se vangloria em ter uma política de permanência estudantil com moradia, bandejão, bolsas-trabalho e faz quase um mês que conquistamos o direito ao café da manhã, mas um avanço para os estudantes pobres e negros como este não pode significar que se mantenha a super-exploração do trabalho de negras e negros nos restaurantes, na limpeza, na manutenção etc. Uma conquista nossa não pode ser uma derrota dos trabalhadores, por isso precisamos lutar incessantemente para que todo trabalhador terceirizado seja efetivado, sem ser necessário qualquer concurso, já que demonstram fazer muito bem o trabalho todos os dias. Além das necessárias batalhas contra o absoluto descaso com suas condições de trabalho ou mesmo seus empregos, como foi com a demissão de centenas de trabalhadores no ano passado diante da troca de empresas.

A violência racista também é institucional

Durante o ato também foram feitas outras denuncias, como o descaso com os estudantes negros que procuram o SAPPE (Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante), onde em alguns casos, psicólogas chegaram a relativizar o racismo e dizer coisas como “isso é coisa da sua cabeça”. A perseguição institucional sofrida por um trabalhador por ser militante do movimento negro também foi denunciada durante a manifestação.

Fica evidente que as pichações racistas, que ocorreram como provocação no único instituto da Unicamp a adotar cotas na pós-graduação, como resultado de luta dos estudantes, bem como o absurdo caso da expulsão de Paulo são expressões que tem por trás toda a estrutura racista e elitista da Unicamp e de todo o ensino público do país. Em meio a um cenário de crise política onde nossos direitos conquistados durante os últimos anos estão sendo ameaçados com ajustes bilionários por parte do governo do PT e o avanço da direita reacionária que não se satisfaz com tudo isso e quer todo nosso sangue, este ato mostrou que não deixaremos que arranquem o que é nosso por direito e que lutaremos por muito mais. O recado foi dado, não aceitaremos que nos humilhem por conta do nosso cabelo, nossas roupas ou nossa fé! Não aceitaremos a terceirização! Não aceitaremos que não possamos entrar na universidade e que os poucos que entram não tenham condições de estudar, nem liberdade pra pesquisar o que querem, por isso a luta contra a expulsão do Paulo é urgente, um princípio para o MN da Unicamp e todo o movimento estudantil! Não deixaremos que assassinem os nossos! Se ainda somos poucos por aqui, já mostramos que somos fortes!




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