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Fome e miséria na pandemia: famílias comem menos para todos poderem comer

O Brasil já passou dos 13 milhões de infectados por Covid-19, chegando ao marco de 333 mil vidas perdidas em meio a essa pandemia. As condições de vida estão se degradando cada vez mais, dia após dia.

quarta-feira 7 de abril de 2021 | Edição do dia

A crise toma proporções gigantescas também com o elevado número de desempregados, muitos que entraram nessa condição em meio a pandemia. Já são cerca de 14,3 milhões de brasileiros desempregados, ou sem nenhuma renda, acarretando, dessa forma, um nível de miséria que há anos não víamos no país.

Novamente, a fome se torna uma realidade para a população pobre no Brasil. Uma pobreza que sabemos, que tem o rosto de mulher negra.

Em entrevista à BBC News, Josinete Antonia da Silva, de 64 anos, doméstica, residente de uma periferia de Recife, no estado de Pernambuco, contou sobre sua condições atuais de vida.

Josinete vive com uma pensão no valor de um salário mínimo (R$1,100) e mora com três filhas, uma com três filhos e grávida, e outra com dois filhos. Essa quantidade no fim é insuficiente para sustentar a família. O único que tem um trabalho em seu entorno é seu filho que tem um emprego informal como pedreiro e mora próximo a sua casa.

Josinete relata uma triste realidade que é vivida por muitos brasileiros nesse momento:

“Ela falou: hoje, cada um de vocês come um pouquinho menos hoje para ter comida para a vó também. E me mandou carne moída, feijão e arroz. Se não fosse ela, não sei o que eu teria feito". Uma das filhas pediu que seus filhos comecem menos para que a avó pudesse ter o que comer em casa.

Essa brutal realidade é cada vez mais visível como explicitado em recente pesquisa da Rede PENSSAN de dezembro de 2020 e publicado em março de 2021, onde aponta que, do total da população brasileira, aproximadamente a metade da população vive com um grau de insegurança Alimentar (->Entre a pandemia e o desemprego, a fome já é uma realidade para 19 milhões de brasileiros). Com cerca de 43,4 milhões que não dispõem de uma quantidade suficiente de alimentos e 19 milhões que enfrentam diretamente a fome.

Com o aumento do valor da cesta básica e com um auxílio emergencial de míseros R$150, possibilitado pela destruição do funcionalismo público e de setores chaves como a educação e saúde, com a nova PEC emergencial votada às escuras (->PEC emergencial que ataca saúde e educação é aprovada às pressas em segundo turno), a população pobre e periférica é joga à miséria pelo governo Bolsonaro e pelos capitalistas. Como colocado por Josinete:

"Eu tenho vergonha de pedir para outras pessoas, mas não (quando é) para meus filhos. Eu só peço misericórdia para quem tem um pouco mais (de dinheiro) se unir com os outros e ajudar quem não tem condições de sair dessa sozinho. O governo poderia ter mantido o auxílio emergencial em R$ 600, mas a gente não tem escolha"

Ainda, os gastos em geral aumentaram na pandemia. A inflação está nas alturas deixando alimentos básicos, como arroz, feijão e o óleo de cozinha com valores exorbitantes. tudo para aumentar o lucros dos grandes latifúndios brasileiros, herança direta da origem escravagista na formação do Brasil.

“Está tudo muito caro. Vou ao mercado comprar feijão, arroz, uns pedacinhos de galinha, macarrão e salsicha e não gasto menos de R$ 100. O que pesa é a carne, o arroz e o leite, ainda mais morando com uma criança de 3 anos e outra de 9 meses. Tem dia que dá para comprar pão, outros não" diz Josinete,

O aumento também abarca o combustível e o gás de cozinha, no qual sofreu um aumento pela quarta vez neste ano (4º aumento do gás no ano: sufoco para o trabalhador, fortuna para os acionistas). Esses aumentos refletem a política entreguista de Bolsonaro para a Petrobrás, onde ela vem sendo vendida, pouco a pouco, para empresas estrangeiras e para grandes acionistas milionários. Políticas que já tiveram expressão no governo PT e que tomaram uma outra magnitude após o golpe com Temer e Bolsonaro.

Enquanto isso, a família Bolsonaro esbanja R$2,4 milhões em férias luxuosas valor que poderia garantir a alimentação de 4,3 mil famílias por um mês através de cestas básicas. Esse é o tamanho do descaso com a população pobre e trabalhadora deste país.

Uma pesquisa feita pelo Data Favela, uma parceria entre Instituto Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa), em fevereiro, apontou que, entre os 16 milhões de brasileiros que moram em favelas, 67% tiveram de cortar itens básicos do orçamento com o fim do auxílio emergencial, como comida e material de limpeza.

Outros 68% afirmaram que, nos 15 dias anteriores à pesquisa, em ao menos um faltou dinheiro para comprar comida. Oito em cada 10 famílias disseram que não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza ou pagar as contas básicas durante os meses de pandemia se não tivessem ajuda de alguma forma auxilio.

A exigência por um auxílio emergencial de no mínimo um salário mínimo, virou questão de vida ou morte para grande parte da população. Os setores que vivem nas áreas periféricas, que em sua maioria são compostas por negros, são aqueles que mais sofrem com a crise gerada pela pandemia. São os que mais morrem por Covid, os que menos receberam vacinas e aqueles que têm que conviver com violência policial e Estatal diariamente. Não pode ser aceitável em nenhuma condição cenas como a relatada por Josinete, em que a condição de uns é piorada para auxiliar a condição de outros.

Contudo, medidas assistencialistas, tanto individuais quanto de organizações sociais, não são suficientes. Medidas de combate à fome são de extrema importância, inclusive é necessário que as grandes centrais sindicais como a CUT e a CTB, levantem medidas ativas de solidariedade a todos que estejam na miséria no país. Porém, sabemos que medidas como estas não bastam para responder à crise, é necessário ir à raiz.

A crise tem responsáveis claros que são o Governo Bolsonaro, os governadores, o STF e todo o regime do golpe que aplicam cada vez mais ataques aos trabalhadores para manter os lucros dos capitalistas. Estes mesmo capitalistas que são responsáveis pelo desemprego, pelo sucateamento da saúde e da educação, pelo aumento dos preços, são os mesmo que demagogicamente tentam aparecer como setores preocupados com medidas sociais realizando ações pontuais enquanto colocam nas costas dos trabalhadores o peso da crise. A saída só pode ser feita com a auto organização desses setores, para exigirem melhores condições de vida, e isso só é possível através de mobilizações contra o status atual.

Temos que tomar como exemplo o Black Lives Matter que demonstrou a força dos negros e negras que continuam em luta contra a violência policial unificados com demais setores de trabalhadores que sabem que essa não são condições possíveis de vida. É com essa força e com essa moral que devemos lutar contra a miséria no país. Com essa moral devemos exigir testagem em massa e vacinas para todos, colocando sob controle operário as indústrias e a economia, girando a produção para insumos necessários para manter os trabalhadores da saúde em segurança, e para garantir o tratamento aos infectados por Covid-19 e para o uso racional dos nossos recursos em favor dos trabalhadores.

Os aumentos dos preços apenas servem para o lucro dos capitalistas, por isso, também é necessário exigir que a Petrobrás seja 100% estatal, sob controle operário, para que os preços dos combustíveis e do gás de cozinha sejam menores conforme a necessidade dos trabalhadores. Isso só pode ser feito através da luta, não por meios institucionais, como boa parte da esquerda tenta manejar essa fúria da população. Por isso lutamos para que os trabalhadores sejam sujeitos de seus próprios destinos.

Veja também: Brasil agoniza nas UTIs lotadas e pela fome: a resposta não é esperar 2022




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