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Operação Mantiqueira | Exército simula repressão à esquerda e despeja cinismo: “sem conotação político-ideológica"

No final do ano passado veio a público uma operação do Exército na qual simulava a repressão contra organizações de esquerda. Nomes tão “fictícios” como "Partido Operário (PO)" e "Movimento de Luta pela Terra (MLT)" e "Mídia Samurai" foram dados aos alvos da repressão militar durante o treinamento de novembro de 2020. Após o escândalo, o Exército respondeu que o exercício não tinha “conotação político-ideológica nem de nacionalidade”.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

quinta-feira 27 de janeiro de 2022 | Edição do dia

Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

A Operação Mantiqueira, que teve como propósito intimidar as organizações de esquerda e de trabalhadores, movimentos sociais e mídias opositoras, simulava uma contra revolução das Forças Armadas contra uma insurreição popular. Após detalhes do exercício serem revelados em reportagem da Intercept, o deputado Ivan Valente (PSOL) solicitou uma explicação através da Lei de Acesso à Informação.

Naresposta, o Exército recorreu mais uma vez ao artigo 142 da Constituição de 88, imposto sob pressão ameaçadora das Forças Armadas durante a transição compactuada e tutelada com os generais para o regime democrático. Nos últimos anos, o mesmo artigo foi citado recorrentemente em declarações e documentos oficiais públicos quando a cúpula militar intervinha com mais peso na política diante das disputas com o STF para arbitrar a política nacional.

A interpretação das Forças Armadas, sustentada, sobretudo, neste artigo-resquício da Ditadura Militar, é que colocar a classe trabalhadora, camponeses e suas organizações como potenciais inimigos a serem caçados (com o nome oficial de Operações Contra Forças Irregulares), alvos dos tanques e fuzis da tropa especializada para o sufocamento de revoltas (com o nome oficial de Forças Especiais) faz parte da preparação da defesa da “Pátria, da Garantia dos Poderes Constitucionais e da Lei e da Ordem, ou seja, na defesa do Estado Democrático de Direito”, como consta na resposta.

Afirmam, ainda por cima, que não houve “conotação político-ideológica nem de nacionalidade” na escolha dos nomes do alvo de suas balas e mísseis serem Partido Operário e Movimento de Luta pela Terra. De fato, uma ideologia forte nas Forças Armadas, nada mais do que uma manobra discursiva que deixa aliviados os jornais neoliberais, é de que, enquanto uma instituição de Estado e não de governo, os militares não se baseiam em ideologia nenhuma.

Análise | As relações entre militares e Bolsonaro diante das eleições

As Forças Armadas ainda mantêm-se, contudo, como a principal base de sustentação do governo Bolsonaro, ainda que dêem indícios de afastamento diante das eleições de 2022 e o desempenho fraco do ex-capitão nas pesquisas. Milhares de cargos, verbas, regalias e uma posição de destaque na política nacional foram conquistas pela cúpula militar neste governo.

Não poderia ser diferente, a instituição que formou-se no decorrer da história brasileira protagonizando massacres contra a população pobre, como em Canudos e no Paraguai, além das incontáveis repressões de revoltas de escravos e ataques à quilombos, responde sobre a Operação Mantiqueira expressando seu autoritarismo e medo visceral da ameaça que a classe trabalhadora organizada se levante contra a condição de miséria imposta pelo capitalismo, contra as regalias e privilégios que envolvem o oficialato das Forças Armadas.




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