×

CRIME DE HOMOFOBIA | ’Eu odeio viado!’ – teria dito suspeito de assassinar Adriano Oca

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

sexta-feira 14 de agosto de 2015 | 00:07

Quarta-feira, dia 12/07, a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) identificou o suspeito de matar o produtor cultural e dançarino do bloco Tambores de Olokun, Adriano da Silva Pereira, o Adriano Cor, 33 anos, em 05 de julho. Na época o corpo do dançarino foi encontrado no rio Cabuçú, em Nova Iguaçu, e laudo da perícia demonstrava o assassinato por 12 facadas e muitas agressões no rosto.

Segundo as investigações, André Luís dos Santos Vieira, 19 anos, teria assassinado Adriano por motivação homofóbica. O mandado de prisão temporária já foi expedido, mas André Luís segue foragido.

Segundo o Delegado do caso, Adriano e André teriam se encontrado na porta de uma casa de festas, feito amizade e combinaram de ir a uma festa em outro bairro. Adriano foi de carro com André e mais dois amigos deste. Segundo relato dos amigos do suspeito, André teria flertado com Adriano durante o caminho. Ao desembarcarem, André teria golpeado Adriano com socos e joelhadas. Antes de desmaiar, ainda teria perguntado:“O que eu fiz para você?”.
Os amigos alegam que teriam tentado, sem sucesso, impedir as agressões e que André teria pego uma chave de fenda no carro, com a qual voltou a golpear Adriano no pescoço e tórax enquanto gritava: “eu odeio viado!”. Segundo o Delegado, os amigos de André são somente testemunhas neste momento da investigação.

“O que eu fiz pra você?”

Essa súplica verbalizada de Adriano, antes de morrer, é um questionamento que persegue silenciosamente, em vida, todas as pessoas LGBT’s. E, em todos os casos, a resposta assume a forma de uma violência com graves consequências físicas e psicológicas, quando não mortais.

“O que eu fiz pra você?”. Quando vemos a tentativa desesperada das instituições do Estado e da ação de algumas pessoas em silenciar as LGBT’s, inclusive chegando algumas vezes até a retirar a sua vida para alcançar esse objetivo, só podemos presumir uma única resposta para essa pergunta: “O que eu fiz pra você?”. “Existiu”.

A permissão da existência aberta e livre das práticas de prazer homossexuais não apenas coloca em xeque a hegemonia naturalizada da identidade heterossexual, como desmascara que essa norma sexual tem como único intuito reforçar a lógica reprodutiva do sexo, a supremacia do homem sobre a mulher, o machismo e a dominação burguesa, impedindo que passos concretos se dêem no caminho da unidade da classe trabalhadora para a emancipação da humanidade pela via revolucionária.

Repressão sexual, um problema social

O assassinato de Adriano Oca relembra o caso deJoão Donatti, 18 anos, há praticamente um ano. Jovem de Goiânia que foi encontrado assassinado em um terreno baldio. Investigações levaram ao lavrador, Andrie Maycon, 20 anos. Suspeito e réu confesso, ele declarou no depoimento que havia feito sexo com João e que não o havia matado "por ele ser gay. Eu até gosto, não tenho nada contra eles. O problema foi que ele quis fazer gracinha comigo”, disse no depoimento. A ‘gracinha’, segundo ele, era ser o ‘ativo’ no ato sexual.
A masculinidade, a heterossexualidade, o masculino e o conceito social de homem não são apenas palavras. São definições, conceitos construídos e sustentados cotidianamente pelas instituições sociais. O Estado, a mídia, a escola, a família, o casamento e a Igreja reforçam a norma, o padrão e a moral que mantém segura a ideologia desse sistema social. Qualquer transgressão desses conceitos é prontamente combatida por essas instituições. Essa repressão social, o isolamento e silenciamento de quem transgride as normas são fantasmas permanentes que assombram o cotidiano das pessoas. O medo de assumir ‘trejeitos’ ou praticar ações vistas como do outro gênero ou de sentir desejos e afetos homossexuais são parte das motivações que levam a crimes como o de João Donati e Adriano Oca.

Quando dizemos ser necessário retomar Stonewall não falamos apenas da organização das LGBT’s, com as trans*, negras, latinas e lésbicas na linha de frente da resistência e do enfrentamento com o Estado e a polícia. Falamos também de resgatar uma tradição de luta pela libertação sexual das décadas de 60 e 70, que passava pelo combate a toda a norma social que submetia as pessoas à limitação sexual e de gênero. Que entendia que a luta pela igualdade na vida passava pela luta contra o sistema social capitalista, e que mesmo um possível alcance da igualdade na lei, se subordinado a esse sistema social, seria limitada e contraditória, trazendo mais amarras normativas à nossa sexualidade e identidade, e consequentemente, à nossa emancipação social.
É necessário que esse crime seja julgado conforme foi: um crime de homofobia, e que dessa luta exijamos do Estado o reconhecimento da sua responsabilidade na manutenção desse e de outros crimes de ódio, e penalizemos as empresas, os meios de comunicação e as instituições públicas que naturalizem e reproduzam essa doença social, a homofobia!




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias