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TRIBUNA ABERTA | Estudantes da UNIFESP de Santos votarão greve contra corte de auxílios

Estudantes da UNIFESP de Santos votarão greve hoje (26), contra os cortes de bolsa permanência e a precarização da educação pública.

segunda-feira 26 de março de 2018 | Edição do dia

Foto: Leandro Campos/G1

No dia 6 de março muitos estudantes de diferentes campi ocuparam a reunião CAE (Conselho de Assuntos Estudantis) em São Paulo para tentar barrar o corte das bolsas e conseguiram, através de um diálogo firme e constante, convencer técnicos e professores de votarem a favor da manutenção dos valores das bolsas e do fim da lista de espera dos/as estudantes que se inscrevem no edital de bolsas permanências.

Esta mobilização resultou em uma vitória do movimento estudantil intercampi da UNIFESP que frente à votação conseguiram doze votos favoráveis, um contrário e uma abstenção. A partir desse momento o diálogo realizado com a PRAE (Pró Reitoria de Assuntos Estudantis) era de que depois da votação não haveria corte das bolsas permanência até o mês de agosto, mês no qual o valor utilizado para permanência estudantil, assim como o Restaurante Universitário, irá acabar, pois a verba da universidade está congelada pelo MEC e desde o ano passado o governo federal cortou 40% do PNAES (Programa Nacional de Auxílio Estudantil). Esse corte reflete o momento em que vivemos, não só na UNIFESP, como em todas as universidades federais do país.

No entanto, na madrugada do dia 22 de março de 2018 próximo às 3h da manhã, estudantes da UNIFESP campus Baixada Santista, localizado na cidade de Santos, receberam a notícia de que a PRAE UNIFESP tinha publicado uma lista de cortes referente às bolsas de auxílio permanência. Assim que os estudantes tiveram conhecimento do corte e diminuição de centenas de bolsas, o CARFG (Centro Acadêmico Livre de Serviço Social Ricardo Ferreira Gama) convocou uma reunião de emergência entre os discentes para debater e pensar estratégias de ação contra os cortes, pois o impacto foi tão grande que alguns alunos deixaram a cidade de Santos no mesmo dia, além de vários outros que permaneceram, mas ficaram em estado de choque com a notícia que implica no fim de inúmeros projetos de vida.

Essa reunião ocorreu no dia 22 de março das 18hrs às 22hrs. Nela, após ampla discussão do coletivo, foram tirados três principais pontos: o primeiro foi a paralisação de todas as atividades que estavam ocorrendo no campus naquele momento com o intuito de convocar todos e todas presentes para compor o debate e informar o que estava ocorrendo; o segundo ponto determinou que estaríamos em estado permanente de greve desde a noite de quinta-feira, 22, como escreveu o CARFIG “essa decisão foi pautada a partir do entendimento da urgência que se configura o CORTE nos AUXÍLIOS que podem se estender ao R.U. e outros eixos da universidade”; já o terceiro ponto chegou a proposta de retomar as atividades de debate entre estudantes no dia seguinte 23 de março com o intuito de paralisar as aulas, convidar todos/as os/as estudantes a compor a discussão e pensar estratégias de organização. Além disso, o coletivo presente compreendeu a grande necessidade de dialogar ao máximo com os estudantes de todos os prédios da UNIFESP BS para divulgar, dialogar e discutir a emergência de um plano de ação e resposta até a assembleia estudantil marcada para a próxima segunda-feira, 26 de março às 17h.

No dia 23 de março os discentes se reuniram na UNIFESP a partir das 7h30m para conseguir abordar o máximo de alunos que chegavam às aulas e fazer o repasse de informações acerca do que estava ocorrendo. Com uma abordagem menos incisiva do que no dia anterior - momento em que os nervos estavam a “flor da pele” -, o movimento obteve retorno, pois muitos estudantes fizeram parte da reunião por iniciativa própria, outros por apoio do/a docente, assim conseguiram dialogar e ouvir ex-bolsistas que estão sendo prejudicados diretamente, como também dialogaram com aqueles que participaram ativamente das reuniões do CAE em São Paulo.

O microfone ficou aberto para quem quisesse se colocar ou tirar dúvidas, sendo assim, permanecemos em discussões das 7h30 até às 13h na unidade Silva Jardim. Após o almoço, o movimento seguiu para a unidade Carvalho de Mendonça, disposto a permanecer em diálogo com o máximo de estudantes. Durante nossa marcha pelas calçadas, o coletivo puxava palavras de ordem que anunciavam para a comunidade a precarização realizada pelo governo golpista e os cortes das bolsas permanência.

Ao chegar na unidade da Carvalho de Mendonça, o movimento seguiu para o auditório onde ocorria uma aula aberta do curso de Psicologia sobre Psicanálise e Democracia, com participação do professor doutor Tales Afonso Muxfeldt Ab’Sáber, no qual o movimento estudantil foi convidado a participar e teve espaço de fala para anunciar os cortes e a paralisação. Em paralelo, alguns membros do coletivo passaram nas salas para anunciar que às 16h ocupariam o saguão principal do prédio para discutir e refletir com os discentes do BICT Mar e Engenharia a necessidade de nos mobilizarmos e compreendermos as intenções políticas dos cortes. Muitas falas foram realizadas pelos alunos/as presentes e após um debate o movimento encerrou suas atividades, retornando para o prédio da Saúde e Sociedade, Silva Jardim, para dialogar com as pessoas no noturno e passar nas salas do Cursinho Popular Cardume - que no dia anterior foi vítima de uma abordagem desnecessária do coletivo que agia com muita emoção naquele momento.

Com isso, o movimento estudantil segue em diálogo e na tentativa constante de reflexões para pensar ações concretas em relação aos cortes. Precisamos ressaltar que o ataque a universidade pública tem sido feito há anos e que anterior a tais acontecimentos os trabalhadores terceirizados do campus UNIFESP BS têm sofrido com essa precarização antes mesmos dos estudantes. Com uma equipe reduzida no RU e na limpeza é possível verificar uma tática de precarização em pirâmide. Nós estudantes estamos sofrendo neste momento com o mais brutal ataque que é tirar o direito à universidade pública daqueles que batalharam muito para estar neste lugar. Há uma urgência em ressaltar que isso faz parte de um projeto político neoliberal no Brasil que vem ganhando forças e tem crescido a paços largos visando a privatização das universidades públicas, bem como o ataque direto aos pretos e pretas, pobres e periféricos. Estes acessaram a universidade como um lugar de direito, contudo agora estão sendo expulsos do seu lugar, tendo como resultado a interrupção de projetos de vida e o impedimento do acesso à educação pública.

O movimento estudantil vai crescer e já é grande neste momento. Não deixaremos que isso seja esquecido ou que siga com naturalidade. Nós iremos parar a universidade se esse histórico não for revertido. Não aceitaremos nenhum estudante a menos na universidade e iremos juntos/as criar táticas de luta e acirramento para que nosso inimigo comum seja afetado. Precisamos pressionar as categorias presentes na universidade para nos unirmos frente a tal luta.

Precisamos dialogar com o movimento secundarista e com a comunidade para que todos/as compreendam que esse é um ataque direto a nós que acessamos a universidade, mas também é uma ofensa ao direto daqueles que sonham e lutam por um espaço na academia. Precisamos radicalizar a luta, visar o fim dos vestibulares e refletir sobre quais são os valores de investimento na educação do Brasil, visto que nosso país hoje é a oitava maior economia do mundo, ultrapassando até mesmo a França e o Reino Unido. Nossa luta vai crescer e vai se unificar, pois nosso objetivo é fortalecer um movimento estudantil nacional para que ganhemos as ruas pela luta por nosso direito básico de acesso à educação.




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