Depois de uma dura e longa greve dos professores da rede estadual de São Paulo, carregando toda a nossa indignação com a truculência e desrespeito do governo em relação à categoria, retornamos às salas de aula no último dia 15. Vimos nessa volta, contudo, a concretude da tomada de uma consciência crítica sobre a situação da educação pública no Brasil por parte de nossos (as) estudantes. Solicitamos aos alunos e alunas a produção de um artigo de opinião sobre a greve de professores, a fim de podermos ter uma noção mais abrangente da leitura que foi feita por eles sobre a situação pela qual passamos. O texto a seguir foi produzido por uma estudante do segundo ano do Ensino Médio da E.E. Patriarca da Independência, na cidade de Vinhedo. Fomos questionadas várias vezes por nossos (as) alunos e alunas se havíamos "ganhado ou perdido" a greve. Creio que este texto explique. Minha gratidão e orgulho à Ana Cláudia!
quarta-feira 1º de julho de 2015 | 01:52
Depois de 3 meses de greves os professores retornaram para as salas de aula .... As professoras pediram para que escrevêssemos uma redação falando sobre o que achamos da greve... Aqui está o meu texto! Para mostrar que sempre estarei a favor da greve, não por ficar em casa ou ir para a escola e ficar sem fazer nenhuma lição, mas para mostrar que tenho orgulho de ter professores que vão a LUTA por uma educação melhor!!!
Ironia? Não, Brasil!
Ligamos a TV e ouvimos no noticiário que a educação sofre os efeitos das greves de professores que querem ter atendidas suas reinvindicações. Assim fazem com que se questionem as responsabilidades destes profissionais, afinal, como pode um professor deixar seus alunos?
Os professores não são nossos inimigos e muito menos tem a intenção de prejudicar seus alunos, apenas querem que a educação tenha a evolução que dentro das salas de aula, sabem que precisa.
É voz corrente que a educação é o maior patrimônio de uma nação e que por consequência a profissão de professor é a mais ’nobre’ e mais importante de todas.
Ocorre que em concreto, a educação pública, porque rivaliza com o grande mercado que a educação atingiu no setor privado, é deixada em situação de extrema deterioração por falta de cuidados e os professores da rede pública sofrem as consequências disso, o que, ademais, impulsiona o implemento de uma lógica de mercado no próprio ensino público, favorecendo à formação não de cidadãos conscientes e críticos, mas mão-de-obra para o mercado, cabendo lembrar que os alunos de rede pública integram-se no geral, a classe trabalhadora em seus estatutos mais pobres. Tudo isso se reforça com a imposição aos próprios professores de metas de produção.
Educação é a saída, mas qual educação? Aquela defendida pelo pessoal do "Joãozinho"? Educar por educar, passar dedos e técnicas, sem concretizar o futuro trabalhador e cidadão do papel que ele pode vir a desempenhar na sociedade, é o mesmo que mostrar a uma engrenagem o seu lugar na máquina e ponto final.
Uma das principais funções da escola deveria se produzir pessoas pensantes e contestadoras que podem colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está. Educar pode significar libertar ou pode significar enquadrar. Que tipo de educação precisamos ter? Para essa tarefa, professores bem formados e remunerados, com qualidade de vida são fundamentais.
Por aqui, pessoas que protestam, discutem, debatem, são vistas com desconfiança e chamadas de mal educadas e vagabundas. Ironia? Não, Brasil. Um bom exercício seria tentar entender e relatar as greves de professores como algo que faz parte das necessárias disputas sociais e econômicas e não tema para a primeira página policial.
Ao organizarem uma greve a reivindicarem por uma vida melhor, os professores estão dando talvez uma das mais importantes aulas para seus alunos. PORQUE NEM TUDO QUE SE ENSINA ESTÁ NA SALA DE AULA.
Ana Cláudia Benides, estudante secundarista de Vinhedo
Temas
