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Estados Unidos: uma eleição que define mais que um novo presidente

Amanhã, terça-feira, começa a se definir uma das eleições mais importantes dos Estados Unidos.

segunda-feira 2 de novembro de 2020 | Edição do dia

A crise sanitária, a recessão, a polarização e o clima anti-trumpista se combinaram para despertar um maior interesse na decisiva primeira terça-feira de novembro. Antes de nos metermos no que pode acontecer, algumas chaves de compreensão para a definição eleitoral.

Quem vota?

Por volta de 230 milhões de pessoas estão inscritas para votarem. Nos Estados Unidos é necessário se inscrever para poder participar da eleição, isso implica alguns pré-requisitos.

Por exemplo, em muitos estados os presos ou pessoas em liberdade condicional não podem votar. Esse dado não é irrelevante e atinge os afroamericanos, que são só 13% da população do país, mas quase metade da população carcerária.

Como se definirá o novo presidente?

O sistema eleitoral dos Estados Unidos é indireto. O Presidente não é definido por voto popular, mas por um colégio eleitoral.

O colégio eleitoral é composto por 538 membros, para ganhar são necessários 270 votos, a metade mais um.

Os eleitores desse colégio se elegem por estado. Salvo dois estados, na maioria quem ganha leva a totalidade dos eleitores em jogo.

Ou seja, se na Flórida Biden ganha por 3 votos, leva os 29 votos eleitorais que correspondem a esse estado.

Esse aspecto antidemocrático explica como se pode ganhar a presidência sem ganhar o voto popular.

Aqui está um dos elementos que vamos ver na terça. Há seis estados em disputa: Flórida, Carolina do Norte, Arizona, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Somam-se a esses outros que não são tão transcendentais, mas que podem desempenhar um papel importante: Iowa, Nevada e Ohio.

Como se vota?

Nessa terça vai ocorrer uma jornada de votação de forma presencial, algo que também pode se fazer previamente em vários estados, como se viu há alguns dias com o Presidente Donald Trump emitindo seu voto.

O país também tem a opção de votação em ausência, conhecida como votação por correio.

Mais de 95 milhões já emitiram o voto antecipado. Esse número equivale a mais de 65,1% de todos os votos emitidos em 2016.

O voto por correio é uma questão em disputa, já que Trump afirmou que por meio dessa forma de votação estão preparando uma fraude para roubar sua reeleição. E os Republicanos vêm interpondo medidas judiciais em vários estados na busca de não reconhecer parte dos votos emitidos dessa forma, o que levaria a retirar o sufrágio de milhares de pessoas.

O contexto político da eleição

A perspectiva de reeleição de Trump no início desse ano era muito provável.

O Covid mudou todo o cenário. O (des)manejo da crise sanitária, a que se soma um sistema de saúde que exclui dezenas de milhões de pessoas, levou os EUA a sofrerem 200.000 mortes por coronavírus.

O outro efeito foi a convulsão econômica, que apresentou durante a primeira metade deste ano números arrepiantes que não eram vistos desde a Grande Depressão que seguiu ao crack de 1929.

Isso vai afetar as eleições, assim como a violência policial e a repressão estatal. Os autos de resistência e o gatilho fácil continuam, mesmo depois das mobilizações massivas em repúdio ao assassinato de George Floyd. Os protestos contra o racismo institucional são outro fator que irrompeu as ruas norte-americanas e o cenário eleitoral.

Nesse contexto, a eleição parece definida a favor do candidato democrata Joe Biden, que segundo a média das pesquisas, tem uma vantagem de 8 pontos sobre Trump.

Mas, como explicava antes, com a eleição indireta e o clima de polarização que vive o país, tudo pode acontecer.

Somamos a isso que, se não acontecer alguma surpresa que não registraram as pesquisas, não está descartado que Donald Trump não reconheça o resultado de sua derrota e a definição passe das urnas para a justiça, o que abriria outra situação com final incerto.

Não está descartado que a corte termine definindo a eleição, como em 2002, mas nesse contexto não seria apenas um novo exemplo do quão antidemocrático pode ser o sistema eleitoral, também seria uma crise de desenvolvimento incerto.

Por isso a “comunidade de negócios”, publicou uma declaração com assinatura de mais de 50 proeminentes burgueses, rechaçando qualquer alteração dos procedimentos eleitorais.

Nada pode assegurar que em 4 de novembro, o dia depois da eleição, os Estados Unidos e o mundo saberão se ganhou Biden ou Trump.

O que fica claro na campanha eleitoral é que uma vitória de Trump fortalece as tendências conservadoras que já conhecemos, mas também aprofunda uma tensão explosiva na principal potência mundial.

Joe Biden aparece como a opção de mudança eleitoral para canalizar através da via eleitoral a rebelião popular que se desatou após o assassinato de George Floyd. Para essa esperança contribui o “progressismo” e a esquerda Democrata, que apresentam o voto em Biden como a solução “malmenorista” para tirar Trump da presidência.

Biden também é a esperança dos grandes capitais para um retorno à “normalidade”. Um exemplo disso é que Biden tem se beneficiado das grandes contribuições dos líderes da Blackstone, JPMorgan, The Carlyle Group e Kohlberg Kravis Roberts, entre outras empresas.

Porém, os elementos profundos que levaram Trump à Casa Branca não vão desaparecer caso ganhe Biden, porque são efeitos de uma crise maior.

A polarização segue seu caminho e pela esquerda, se expressando na crescente popularidade do “socialismo” entre os jovens de 16 a 24 anos, que passou de 40 para 49% de aprovação no último ano segundo uma pesquisa desenvolvida pela YouGov.

Pela direita, vemos a existência de grupos ultradireitistas armados, ainda que hoje sejam elementos marginais.

Para além da mera foto da eleição, esses fenômenos antecipam cenários de maior radicalização política e luta de classes.




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