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QUAL "SAÍDA PELA ESQUERDA"? | Esquerda do PSOL se cala sobre a greve dos professores do Macapá que enfrenta o prefeito Clécio

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

Val LisboaRio de Janeiro

domingo 10 de maio de 2015 | 12:44

A greve de professores estaduais, e inclusive municipais, neste momento é um tema nacional. São quatro estados em greve, o que escancara a situação dos professores no Brasil, país que foi chamado pela presidente Dilma de “Pátria Educadora”. Não bastasse isso, os professores no Paraná sofreram uma das maiores repressões dos últimos anos, com bala de borracha e muito sangue. Em São Paulo, os professores sofrem com o corte de ponto e a intransigência do governo Alckmin. Não é de estranhar que venha, também, a repressão, tão comum no governo paulista. É o “modelo tucano” contra a educação, os professores e os lutadores sociais.

Por enquanto, a maioria das correntes da esquerda aparece com a política de solidariedade aos professores. Ainda assim uma solidariedade insuficiente e pouca política de coordenação das greves. Na prática, a greve dos professores paulistas chega aos dois meses sem ter sido encampada pela CSP-Conlutas (PSTU) e Intersindical (PSOL) como parte de um plano de luta em defesa da educação pública e gratuita, e menos ainda temos visto as entidades do movimento estudantil (Anel, DCEs, CAs) dirigidas por essa esquerda disposta a unificar as demandas estudantis contra os cortes de verbas. Assim poderia fortalecer a greve dos professores, massificar a luta pela educação e impor uma relação de forças que obrigasse Alckmin a ceder ou pagar um alto custo político.

Mas todos que se reivindicam de esquerda precisariam se atentar, também, para o que ocorre em Macapá e se perguntar: qual a política do prefeito Clécio Luis, do PSOL, na prefeitura de Macapá frente a greve dos professores desta cidade? Qual a diferença entre um governo do PSOL com um governo tucano ou petista quando se trata das lutas dos trabalhadores e da educação pública?

Por um lado, chama a atenção um silêncio de praticamente todas as correntes do PSOL, em especial das correntes da ala esquerda, que simplesmente não tocam neste assunto. Por que isso? Por que estes partidos fazem tanta campanha eleitoral se na hora que podem fazer a diferença – com seus parlamentares e seus cargos executivos – não o fazem? Essas perguntas dizem respeito ao futuro da greve de professores nacionalmente e a construção efetiva de uma terceira força realmente independente do governo do PT e da oposição de direita. Se a “saída é pela esquerda”, como a esquerda do PSOL diz, por que deixar os professores de Macapá isolados? Por que não concentrar todas as forças para obrigar o prefeito do PSOL a atender as reivindicações dos grevistas ou, em caso contrário, romper com este governo que reproduz o que o PT fez durante décadas em prefeituras e governos estaduais como ensaio para governar o país a favor dos capitalistas?

Uma “saída pela esquerda” exige, antes de tudo, independência política diante dos governos que preservam os interesses capitalistas e jogam os custos da crise nas costas dos trabalhadores. Mesmo que seja um governo do PSOL. Do contrário, qual a diferença com os petistas que continuam – mesmo com críticas – defendendo “seu” governo Dilma? Ou seja, uma “saída pela esquerda” não combina com “conciliar” os interesses dos trabalhadores, do povo e dos capitalistas. Com conciliação já sabemos quem pagará os custos da crise.

Se Clécio Luis atendesse a reivindicação salarial dos professores de Macapá, algo que deveria ser considerado elementar para um parlamentar ou executivo de um partido de esquerda, isso poderia ser um ponto de apoio para os professores nacionalmente, pois poderia, inclusive, mudar a correlação de forças das greves em várias cidades e estados, aparecendo como um contraponto a todo plano de ajuste que o PT e a oposição burguesa aplicam e aplicarão em todo o país.

Seria uma forma concreta de mostrar uma “saída pela esquerda” e fazer agitação de massas em um conflito da luta de classes, utilizando as posições conquistadas pela esquerda em nível nacional para fortalecer um “programa dos trabalhadores”. Uma medida simples: a “prefeitura do PSOL” deveria atender as reivindicações dos professores buscando os milhões de reais abocanhados pela casta política e governamental, enviando um decreto instituindo que “o prefeito, os secretários, os vereadores e os funcionários políticos devem ganhar igual a um professor”. Os professores em luta e o conjunto dos trabalhadores e do povo, com certeza, apoiariam esse programa, e seria um exemplo para todo o país de uma “saída pela esquerda”, justo quando o PT, para obter apoio ao governo Dilma e seus ajustes, distribui cargos, verbas e mordomias para a casta política.

Por que isso não acontece? Porque Clécio Luis reproduz o mesmo discurso dos governos petistas, dizendo que não há orçamento. Porém, continua pagando os elevados juros das dívidas municipais e os contratos – superfaturados, por certo – com as empresas. A página da prefeitura de Macapá publica notas explicando que não é possível atender as reivindicações dos professores. Por baixo, dizem que quem está contra a prefeitura de Clécio faz o jogo da direita. Para os negócios capitalistas não faltam recursos e benesses; para os trabalhadores nunca há "verba". Nenhuma diferença de qualquer governo capitalista do PT e dos demais partidos patronais.

Muitos teóricos de correntes do PSOL, sejam da ala direita ou da ala esquerda, tem utilizado interpretações de Gramsci e da importância das "posições". Pois bem, eis agora quando uma "posição" conquistada é questionada para ser colocada a serviço de maiores e melhores "posições" para fortalecer a luta dos professores em todo o país, o que prepararia em melhores condições um plano ofensivo de toda a classe trabalhadora contra os ajustes que favorecem os capitalistas e exige que os trabalhadores e o povo paguem pela crise. Aqui se trata, também, de debater se realmente governos de conciliação de classes – com tucanos do DEM e do PPS e “petistas” do PCdoB e PSB – como o de Macapá são reais “posições” favoráveis à luta da classe trabalhadora ou se, como estamos vendo, são novas posições – dirigidas pela “esquerda” – em prol dos interesses capitalistas e da casta política.

O silêncio da maioria das correntes de esquerda do PSOL (com exceção da CST, que apenas soltou uma nota crítica) demonstra que não há uma preocupação real com a situação da greve dos professores do Macapá e como poderiam dar um exemplo aí, influenciando todo o cenário nacional e demonstrando para que servem as “posições” – parlamentares, executivos, sindicatos, entidades estudantis etc. – nas mãos da esquerda. O MES de Luciana Genro soltou uma nota dizendo que o centro da conjuntura é o Paraná, mas simplesmente “esquece” da greve de Macapá.

Quando Clécio Luis ganhou as eleições para prefeito não faltaram notas de felicitações. Agora que o governo “socialista” do PSOL mostra sua verdadeira face capitalista, antioperária, todo o partido se cala, olha para o lado (para o Paraná dos tucanos). Os fatos não permitem essa manobra. Os interesses dos trabalhadores e a luta de classes deveriam ser princípios inegociáveis dos que pregam uma “saída pela esquerda”.

Como dissemos em outro artigo a esquerda tem uma grande tarefa diante da greve de professores e dos planos de ajuste que Dilma, PT e todos os partidos e governantes da base governista e da oposição burguesa avançam para aplicar em defesa das grandes corporações, dos banqueiros, dos detentores dos títulos da dívida pública e da casta política.

Romper com todo tipo de eleitoralismo e conciliação de classes com os inimigos dos trabalhadores e do povo pobre – PT incluído –, e se preocupar de forma decidida com a luta de classes, para a partir daí construir uma terceira força que não seja o PT nem a oposição de direita tucana, e que surja ligada à luta dos trabalhadores, independente de todas as variantes patronais ou petistas.

Com o Paraná no centro, a esquerda deveria colocar todas suas forças numa grande campanha para coordenar essas greves, e neste sentido os militantes do PSOL poderiam se colocar na linha de frente da solidariedade e do apoio efetivo à greve dos professores de Macapá para que denunciemos o papel que vem cumprindo a prefeitura de Clécio, exigindo assim o atendimento imediato de todas as reivindicações. Sob pena de ser cúmplice na derrota da luta dos professores de Macapá, a esquerda do PSOL não pode continuar se calando para “preservar” o partido e não atrapalhar sua imagem entre o eleitorado que apoia e apoiará uma verdadeira “saída pela esquerda”.




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