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CRIVELLA E AS ESCOLAS BLINDADAS | Especialistas criticam proposta de Crivella de blindar escolas: "uma loucura, um delírio"

Na segunda, 3, o prefeito do Rio Marcelo Crivella (PRB) afirmou que irá trazer argamassa especial dos Estados Unidos para blindar as escolas em áreas de grande violência na cidade. A proposta foi duramente criticada tanto por especialistas em segurança como professores.

terça-feira 4 de abril de 2017 | Edição do dia

O primeiro ponto levantado pelos especialistas consultados, conforme divulgado no jornal Extra, é que as escolas blindadas de Crivella podem se tornar pontos preferenciais para serem tomados pelos traficantes fazerem verdadeiras fortalezas nos morros.

Isso foi apontado por Marcelo Ramos Ruizree, da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (alguém insuspeito de ter qualquer posição de esquerda ou contrária à ação violenta e racista da polícia):

"Acho o projeto uma loucura, um delírio. Como a criminalidade desfruta de total liberdade no interior das comunidades, as escolas poderão se tornar, dependendo do projeto adotado, excelentes posições para o tráfico, nas quais criminosos com armas de guerra vão se defender e disparar com mais segurança contra as incursões policiais ou bandidos rivais."

O que o Ruizree não menciona é que, atualmente, diversos relatos de moradores que afirmam que quem invade as casas de moradores das favelas, expulsando as pessoas de casa e transformando as moradias em base de operações são os agentes do BOPE, em ações absurdas contra os moradores. O mais provável é que seria a própria polícia que tomasse as escolas blindadas de Crivella como base para ataques. O prefeito faria com que as escolas fossem tomadas, deixando os alunos e professores sem sequer prédios para ter aulas.

O sociólogo Ignácio Cano, que coordena o Laboratório de Análise da Violência da UERJ, afirmou:

"Além dos efeitos colaterais, eu diria que é impossível blindar completamente uma escola. Isso parece uma miragem, não existe. Seria muito melhor o prefeito buscar medidas de redução de risco para moradores e estudantes, como procurar o secretário estadual de Segurança para garantir a redução de confrontos perto de escolas. É importante que a polícia não troque tiros com traficantes nesses ambientes."

A resposta ao utópico conselho do sociólogo já foi muito bem expressa na declaração do porta-voz da PM, que afirmou que mortes como as de Maria Eduarda são um "dano colateral".

O projeto de Crivella não é novo. Em 2007, fez uma proposta semelhante quando era senador, batizada com o absurdo nome de "cimento social", o senador propunha blindar as casas dos moradores do Morro da Providência. Contudo, o projeto foi modificado e acabou se limitando à revitalização de fachadas e telhados - que continuaram sendo alvo das balas de policiais e traficantes na sanguinária guerra ao tráfico promovida pelo Estado.

A medida foi criticada também diretora do Sindicato dos Profissionais de Educação (SEPE), Marta Moraes, que disse:

"Isso não resolve. Um governo que diz que está em crise vai resolver a situação blindando escolas? Parece descaso."

A prefeitura não informou nem os custos de seu projeto, nem como seria contratada a empresa texana que fornecerá a argamassa blindada. Empresas brasileiras de segurança contatadas pela reportagem do jornal Extra estimaram os custos em R$ 140 mil para blindar um muro de 40 metros quadrados. Crivella usa a situação como pretexto para se reunir com especialistas em segurança americanos e articular parcerias para aumentar ainda mais a repressão nas favelas.

Carolina Cacau, professora da rede estadual em Nova Iguaçu e ex-candidata a vereadora do MRT pelo PSOL comentou a proposta:

"É de um cinismo impressionante. A polícia carioca matou 182 pessoas apenas nos dois primeiros meses do ano. Todos vimos o vídeo que circulou nas redes, mostrando a execução praticada por dois policiais em frente ao colégio onde Maria Eduarda foi morta, que deixa claro como age a polícia. Esses mesmos policiais estão envolvidos em outros 37 casos de ’auto de resistência’, uma verdadeira fachada legal para execuções policiais - um desses policiais inclusive está envolvido com a morte de uma outra menina de apenas 11 anos. A política de ’guerra às drogas’, que é o pretexto utilizado pelo Estado para manter um verdadeiro estado de guerra nas favelas, com a polícia massacrando a juventude negra, é a responsável por esse estado de coisas. É a miséria social criada pelo capitalismo que é a responsável. E, ao invés de fornecer escolas, moradia, saúde, saneamento e lazer para essas crianças, Crivella afirma que vai gastar milhões para criar escolas blindadas, enquanto crianças continuam morrendo. É revoltante."




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