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5 MORTOS | Escrever com sangue: a máxima do presidente contra os professores mexicanos

No domingo a Polícia Federal reprimiu ferozmente os professores de Oaxaca, deixando até agora um saldo de 5 mortos que pode aumentar com o correr das horas.

terça-feira 21 de junho de 2016 | Edição do dia

Frente à exigência de diálogo com o governo feita pelo magistério democrático organizado na Coordenadora Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), a Polícia Federal reprimiu ferozmente os professores de Oaxaca que se mobilizavam em diversos pontos como Salina Cruz, Huitzo e Nochixtlán.

Os docentes iam acompanhados de moradores e de pais de família, demonstrando a ascendência que o magistério ainda tem sobre as classes populares que, assim como em Oaxaca, já em Chiapas, está se expressando como uma revolta operária e popular contra o governador do Partido Verde Ecologista do México (PVEM, partido satélite do Partido Revolucionário Institucional), Manuel Velasco Coello, como a própria direção do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) liderada por Galeano (ex-Marcos) teve que reconhecer.

Em Nochixtlán, a polícia avançou sobre os docentes com armas de fogo deixando até agora um saldo de 5 mortos e dezenas de feridos que estão sendo atendidos pelos próprios moradores nas escolas e na igreja da região.

Ainda que a sistemática campanha de criminalização que pende sobre os professores tenha pesado em alguns setores da opinião pública, esta última semana começou a surgir um amplo repúdio democrático à repressão: os sindicatos opositores como o Sindicato de Trabalhadores da UNAM (STUNAM) e telefonistas, integrante da UNT, se mobilizaram na terça-feira em solidariedade com o magistério, centenas de personalidades e intelectuais nacionais e estrangeiras se pronunciaram contra a repressão em um comunicado feito na primeira página do La Jornada e a direção do Morena convocou uma marcha em solidariedade para 26 de junho.

Ainda assim e como demonstração de que há muito em jogo com a reforma educativa ordenada pela OCDE e pelos grandes empresários nacionais, o atual titular da Secretaria de Educação Pública (SEP), Aurelio Nuño, optou por tentar liquidar a CNTE encarcerando seus dirigentes e desatando uma das repressões mais cruas dos últimos anos.

A administração do PRI que vinha tendo alguns gestos “progressistas” para as classes médias, como a legalização do consumo da maconha ou a iniciativa de lei sobre o matrimônio igualitário não titubeou em controlar de maneira brutal a dissidência magisterial, para disciplinar o conjunto do movimento operário e popular do México.

As aspirações presidenciais de Aurelio Nuño

A intenção de acabar de uma vez por todas com o conflito docente é chave para as aspirações presidenciais de Aurelio Nuño. Há apenas um mês e como documenta o semanário Proceso, o titular da SEP apareceu na revista Líderes Mexicanos posando em enormes fotografias e gabando-se do grande êxito da reforma educativa. A trajetória de Nuño esteve marcada por sua proximidade com o presidente e por ser o operador do pacto estratégico que depois das eleições fraudulentas de 2012 deram Peña Nieto um respiro: o Pacto pelo México.

Mas, além disso, foi parte da organização empresarial “Mexicanos Primeiro” em cujas filas militam “eruditas” figuras do mundo empresarial como Emilio Azcárraga Jean e Enrique Salinas Pliego que foram promotores aguerridos da Reforma Educativa.

Nuño “floresceu” entre os próximos ao presidente depois de que homens chave do gabinete como Miguel Ángel Osorio Chong e Luis Videgaray foram salpicados por escândalos de corrupção e pela insólita fuga de “El Chapo” de uma prisão de segurança máxima sob responsabilidade direta da Secretaria de Governo da qual Chong é cabeça. Não é um segredo que Nuño tem pretensões presidenciais para 2018.

Com a cumplicidade do atual líder do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Educação (SNTE), Nuño prometeu melhoras com a instrumentação de uma Reforma que tende a perder a base social que lhe deu sustentação. E é que nem a “qualidade educativa”, nem o investimento em educação, nem a formação docente – demagogia com a qual a imprensa governista quer “vender” a Reforma para a opinião pública – foram os eixos da modificação institucional. Se trata simplesmente de precarizar o trabalho docente, com a escola imitando uma empresa e recorrendo ao punitivismo mais descarnado para “controlar” os professores.

Que bela a solidariedade

Junto à heroica resistência docente cujo epicentro é Oaxaca e Chiapas, onde foi despertada a solidariedade popular, o elemento mais alentador da última semana são os gestos solidários de diversas organizações sindicais, políticas e intelectuais de renome contra a repressão.

No imediato, se trata de impulsionar uma grande campanha nacional e internacional de solidariedade com o magistério e contra a repressão que comova os professores que hoje por medo ou passividade não se mobilizam nas escolas, exigir dos sindicatos que se dizem opositores que se solidarizem ativamente e impulsionar a paralisação nacional e estender ao movimento estudantil e à intelectualidade progressista, às organizações de Direitos Humanos, aos pais e mães de família o chamado a rodear os professores de apoio.

O Esquerda Diário como parte da Red Internacional de diários digitais cujo lema é “5 idiomas, 11 diários e uma mesma voz” é um portal aberto às denúncias, problemas, ações e ideias dos professores que, desde a costa até a serra e nas grandes cidades do país, estão padecendo esta feroz ofensiva contra suas condições de vida.

"Tradução Francisco Marques"




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