Sem concurso desde 2014, as escolas estaduais do Rio de Janeiro possuem hoje 205 professores de Filosofia na ativa, e 1018 professores de Sociologia para uma rede de quase 700 mil alunos.
sexta-feira 29 de abril de 2022 | Edição do dia
Sem concurso desde 2014, as escolas estaduais do Rio de Janeiro possuem hoje 205 professores de Filosofia na ativa, e 1018 professores de Sociologia. Os dados apresentados nesta matéria foram conseguidos por uma professora que compartilhou nas redes:
O dado contrasta com o tamanho da rede administrada pela Secretaria de Estado da Educação do RJ. São 1.230 escolas, com 23 mil turmas e 678,2 mil estudantes essencialmente do Ensino Médio. Ao invés de novos concursos, a Seeduc RJ opta por remanejar professores de outras áreas que possuam habilitação. É assim que um professores de história, geografia ou outras disciplinas, através de uma habilitação, acabam dando aulas de Filosofia e Sociologia (quadro abaixo):
Mesmo assim a carência de professores não se resolve:
Os professores estaduais tem o salário totalmente defasado: R$ 1.333,26 para DOC I por 16 horas semanais, R$ 2.499,82 para DOC I por 30 horas (ambos do Ensino Médio), e R$ 1.062,85 para DOC II por 22 horas por semana (fundamental anos finais).
Com isso, têm que procurar regências em outras disciplinas e ainda dependem das horas de GLP, em turmas sem professores que precisam ser cobertas, e que a Seeduc oferece como uma "hora extra", que não conta como tempo de serviço, pagando somente a hora trabalhada (sem receber nas férias, sem acrescentar no décimo terceiro ou aposentadoria).
Essa situação só piora na passagem de 2022 para 2023, quando a Seeduc prevê a implementação total da nova BNCC. Os tempos das disciplinas de Filosofia e Sociologia estão sendo substituídos por "Projeto de Vida" e matérias similares da ideologia do empreendedorismo que veio junto com o Novo Ensino Médio (NEM).
E os professores que protestarem contra a nova BNCC terão que correr atrás para se manter dando aulas, pois Filosofia e Sociologia ficarão com apenas um ano do Ensino Médio, sendo os outros dois anos preenchidos com estas novas disciplinas moldadas ao sabor das empresas privadas que vendem material didático para o Estado.
Quer dizer, um professor de Filosofia ou Sociologia que tinha 6 tempos de aula em uma escola e 6 em outra, por exemplo, terá que correr atrás de mais outras 4 escolas agora, para cumprir a carga horária no ano que vem. O mesmo ocorre em outras disciplinas, a diferença é que quanto menos tempo de aula você dá em uma escola, mais escola terá que correr para cumprir sua carga horária.
A precarização do Ensino Médio enquanto sobra verba para projetos absurdos de militarização como o Cidade Integrada de Cláudio Castro mostra que a preferência do Estado do Rio de Janeiro tem sido investir na repressão policial, que mata todos os dias os nossos alunos. Castro preferiu investir nas polícias e no aparato repressivo porque essa é a sua base eleitoral: bolsonaristas e milicianos. Em sua oposição, porém, Marcelo Freixo parou de falar de educação, tem afirmado abertamente que dialoga preferencialmente com os empresários, policiais e pastores! Não é uma alternativa pois em seu programa, busca negociar o regime de recuperação fiscal com a União, procurando pagar as caras parcelas impostas durante o governo Temer que poderiam muito bem ser investidas em educação.