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IX EPMARX | Entrevista com Jadilson e Daniel, da comissão organizadora do EPMARX no Recife

sábado 25 de novembro de 2017 | Edição do dia

O Esquerda Diário entrevistou organizadores do EPMARX (Encontro de Grupos de Estudo e Pesquisas Marxistas) realizado em Recife, nesta nona edição. Jadilson Miguel da Silva e Daniel Rodrigues responderam algumas perguntas sobre o evento e a importância do resgate das lições da revolução russa para a situação brasileira.

Como vocês avaliam esta nona edição do EPMARX?

Jadilson: Já é o nono EPMARX, voltou para Recife. Ele tem sido itinerante, já foi pra Campina Grande, pro Maranhão e pra João Pessoa. Acho que o evento se firma no campo da academia e dos movimentos em um âmbito regional, no âmbito do Nordeste. Quando se fala em EPMARX eu acho que a gente tá mais ligado nesse campo, como referência aqui no Nordeste. Eu acho que o evento se mantém. Ele se mantém numa dimensão, acho que ele se repete numa dimensão um pouco igual ao que foi nas últimas duas edições, mas que tem condições para crescer. Esse ano que é o ano do centenário da revolução russa, a gente tentou pela primeira vez pensar, formular o evento coletivamente. Trazendo os demais grupos, algumas outras organizações, para pensar e propor. Sempre levando em conta os limites que a gente encontrou. Esse ano é um ano atípico, do ponto de vista da conjuntura política. Os entraves também no âmbito da universidade, de financiamento, acho que a grave crise que também vem afetando a universidade reflete no evento. Mas eu acho que a gente tá conseguindo manter este importante evento que serve para formação, enfim, para o debate político e acadêmico e isso é o que é mais importante. Acho que o EPMARX tem uma vida a continuar ainda.

Daniel: O EPMARX este ano, ficou muito claro, tem uma participação da juventude muito importante. E isso pra mim tem dois elementos: a juventude vem para a luta e quer um instrumento de análise para lutar, para fazer uma transformação radical da sociedade. E o segundo que o evento olha para a juventude, então desde o valor baixíssimo de uma solidariedade na inscrição, só para ajuda, não tem um valor caro, desde a garantia do alojamento, desde que o estudante faça um resumo para apresentar e ele traga suas dúvidas. A gente não quer um pesquisador, a gente quer que as pessoas tragam suas dúvidas numa perspectiva marxista pra gente debater. Então nos grupos de trabalho por exemplo, tinha doutor, mestrando, graduando, ou seja, tinha toda o tempo diferente de vários marxistas então isso foi extremamente importante. As mesas tiveram duas grandes características, todas as mesas que a gente teve até agora: a primeira de aprofundamento, de levantamento de novas temáticas, sabe? De coisas, não novidades no sentido da moda, no sentido de aprofundamento teórico. E a segunda elas foram instigantes, como disse a Danielle, uma monitora do evento, “eu saí na instiga”, então acho que essa característica do evento é importante. É um evento de reflexão, mas um evento que se caracteriza como um lugar político dentro da academia e dentro da sociedade. Ou seja, um posicionamento político do lado da transformação radical da sociedade.

Qual a principal lição a se extrair da Revolução Russa neste centenário?

Daniel: Várias, inúmeras lições. O evento demonstra a necessidade de não só estudar como um evento histórico, mas de apontar o que acontece enquanto desenvolvimento da luta de classes. Ele fez parte fundamental para se compreender que é possível sim construir e romper as barreiras da ordem. É um exemplo claro. E entender com seus acertos, com seus erros, que desafios nós temos agora, de hoje para cem anos a frente, como foi dito pelo Iasi. Então, sim, a grande lição é que somos sim sujeitos da história. Quem somos? Somos a classe trabalhadora, somos negras, somos lésbicas, ou seja, o conjunto dos oprimidos, dos explorados, nós somos sim sujeitos e temos que nos constituir, temos que nos construir enquanto sujeitos da história. Talvez o maior legado é dizer sim nós somos necessários e fundamentais para transformar a realidade.

Jadilson: Acho que também o resgate a partir dos debates e das mesas, resgataram a força da atualidade da revolução russa, em diversos campos. E em um momento de disputa, de leitura sobre esse evento histórico, acho que o EPMARX trouxe uma riqueza de abordar diferentes aspectos da Revolução Russa. Por exemplo, aí eu destaco a participação de uma mesa sobre a questão artística, não é? A gente percebe em um debate como esse como muita coisa ainda não sacou, não prestou atenção no vigor e na força de transformadora, como diversas questões da revolução russa a gente pode dizer que estão à frente do nosso tempo. Aí que a gente tem um caminho pra trilhar, no sentido da transformação. E que a Revolução Russa apontou . Então, de uma riqueza, eu acho que as pessoas que estão participando das atividades estão tendo esta percepção. E isso é muito bom e acho que nesse sentido o evento cumpre um papel político, um papel de formação, tendo este raio de transformação.

A gente tá vivendo no Brasil esse período pós-golpe institucional. Qual a importância de justamente de resgatar as lições da revolução russa e as ideias do marxismo para poder enfrentar essa ofensiva de digamos a direita e os empresários. O que vocês acham disso, do poder das ideias marxistas nesta situação?

Daniel: Na verdade é sempre uma recriação. A dialética não nos deixa simplesmente reproduzir e copiar, ela nos coloca essa experiência como concreta, ela nos coloca essa experiência da revolução russa com elementos de atualidade, porque o capital se reproduz, na forma da expropriação do trabalho, da exploração de homens e mulheres. Então, neste sentido, traz as suas atualidades. E os golpes e as tentativas de golpe que se colocam na história, a revolução russa também vai enfrentá-los. No processo em que as mulheres de repente vão à rua, no 8 de março e o próprio partido que depois chama a insurreição, naquele momento diz ‘não, não é pra ir pra rua’. Ela demonstra que a experiência de querer enfrentar, de ousar neste momento, em que o materialismo dialético é uma perspectiva dialética de compreender a realidade mas apontar para sua transformação, é um momento hiper necessário de unidade de classe, de unidade dos setores oprimidos, de possibilidade sim de enfrentar o que a gente chama de desmonte, que na verdade é uma radicalização do capital. Então, para a radicalização do capital só nos resta radicalizarmos também.

Jadilson: Eu penso que no momento de extrema dificuldade na conjuntura, de uma necessária unidade das esquerdas, eu acho que o evento tem também esta característica de trazer diferentes organizações e movimentos da esquerda. Acho que tirar lições da revolução russa que sirvam para nos organizar neste momento extremamente delicado é um desafio, mas é por aí que se começa. Eu acho que os debates, eles não conseguiram fugir da relação com essa conjuntura atual do Brasil, as diversas subtemáticas, elas tiveram vinculadas ao desafio atual que a gente está enfrentando. Com esse aguçamento do neoliberalismo e esse desmonte acelerado e aí, onde está, o vigor da lição histórica da revolução russa que eu confesso que o tempo do evento não foi suficiente, claro, para aprofundar tantas questões que se abrem. A gente precisaria de muito mais tempo, mas eu acho que joga luz sobre essa necessidade da reorganização que é histórica e que não ocorre de forma superficial. E a lição russa é extremamente rica Mais do que por exemplo eu imaginava. Ouvir diferentes subtemas deste tema maior, faz a gente fazer vários tipos de interrelação em diferentes campos, não apenas em uma ou outra questão. Foi muito bom, muito importante.

Daniel: E eu diria o seguinte, uma grande lição, a revolução é necessária. A revolução nos revoluciona, nos possibilita uma potencialidade mais andoura.




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