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LITERATURA | Entrevista com Caroline Rodrigues, vencedora do prêmio Jabuti

O Esquerda Diário entrevistou Caroline Rodrigues, jovem escritora que ganhou o prêmio Jabuti pelo livro de contos "Sem vista para o mar", competindo com nomes importantes da literatura brasileira como João Ubaldo Ribeiro.

quinta-feira 10 de março de 2016 | 01:30

Esquerda Diário: Conte um pouco pra gente de onde surgiu a ideia de escrever seu primeiro livro "Sem vista para o mar"?

Caroline Rodrigues: Surgiu colhendo uns cacos na estrada até Presidente Prudente, e nunca vou saber o que significa a experiência da fuga que norteou a construção toda, nunca vou passar nem perto dela, acho que esse livro veio dessa sensação, das fugas que não são minhas, das fugas estranhas dos outros. O fio do livro, pra mim, é o caminhoneiro Murilo. Quero ainda um dia fazer um romance só sobre ele, é um personagem que ainda vive, que ainda dá bom enredo, acho.

Esquerda Diário: Quais são os principais temas abordados nos contos?

Caroline: Geralmente não tenho temas predeterminados, se eu tenho eles me dificultam a vida. As histórias sempre começam de um lugar, de uma pessoa, de uma coisa, é muito clichê dizer isso mas é a verdade: as histórias se fazem por si, não sei explicar pralém disso, tem o trabalho duro, tem a disciplina, mas a escrita não deixa de ter sua alquimia própria, sua irracionalidade. Das palavras surgem as histórias e delas surgem os temas. Eu gosto de um conto quando o tema vem de fora de mim, quando ele brota no texto - eu desconfio das opiniões muito racionais sobre as coisas. Nesse livro tinha sempre o tema da fuga, mas ele é tão aplicável a qualquer situação da vida que não considero ele um tema enquanto assunto, e sim uma atmosfera. Um assunto que se tornou recorrente, e que foi apontado por leitoras e leitores – foi a questão de gêneros. Apareceu em várias histórias e no fim das contas é uma questão pela qual as pessoas realmente fogem, todos os dias. Gênero é uma fonte de fugas, por infinitos motivos.

Esquerda Diário: O que você acha do papel das mulheres na literatura em nosso país?

Caroline: Alguma militância pela diversidade, pela pluralidade de vozes, é um papel de todo mundo que se envolve com literatura, pelo bem dela própria. As autoras atingiram bons resultados em 2015, em números, listas, debates, representatividade e acho que muito rapidamente precisamos ampliar essa discussão para as demais representatividades necessárias - livros escritos por homens e mulheres indígenas, por exemplo, o Brasil inteiro precisa buscar esses textos.

Esquerda Diário: Como foi receber o prêmio Jabuti por este livro?

Caroline: Maravilhoso por fazer o livro existir pra leitores e leitoras que estão fora do meu pequeno alcance social imediato, e um pouco assustador também, sem dúvida. A gente tem que amar muito o que coloca no mundo, amar demais. E depois tem que saber deixar a coisa fluir sozinha. Ganhar esse prêmio foi um episódio que trouxe muitas questões pra mim, nenhuma delas encerrada.




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