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UM RETRATO DO PAÍS | Entregue às chuvas e a exploração está o trabalhador; um retrato da precarização da vida

Enquadrada na mesma foto, dois elementos, atuais e trágicos, que compõe o quadro de precarização do Brasil. O trabalhador envolto pela situação precária das cidades brasileiras, que, ano após ano, mostram-se despreparadas para lidar com as chuvas que sabidamente ocorrem no período; e, ao mesmo tempo, imerso no contexto desolador da precariedade do mercado de trabalho.

quinta-feira 30 de janeiro de 2020 | Edição do dia

FOTO POR: ALEXANDRE MOTA

Uma máxima afirma que uma imagem vale mais do que mil palavras. Pois a imagem que viralizou ontem nas redes sociais equivale a própria realidade nacional, uma síntese dos tempos de precarização atual. Um dia após a Justiça negar a existência de vínculo empregatício entre entregadores dos serviços de aplicativo e empresas, tais como Ifood, Rappi, Glover, etc., um olhar oportuno capturou a brutal cena de um entregador transpondo a pé a enchente em Belo Horizonte, para concretizar uma de suas entregas pela qual ganhará uma mixaria.

Enquadrada na mesma foto, dois elementos, atuais e trágicos, que compõe o quadro de precarização do Brasil. O trabalhador envolto pela situação precária das cidades brasileiras, que, ano após ano, mostram-se despreparadas para lidar com as chuvas que sabidamente ocorrem no período; e, ao mesmo tempo, imerso no contexto desolador da precariedade do mercado de trabalho.

A tragédia anunciada das chuvas e a precariedade da urbanização

A tecnologia capitalista mostra-se incapaz de dar conta de um problema tão corriqueiro quanto as chuvas, ao mesmo tempo que o auge de sua inovação é submeter os trabalhadores ao cúmulo da exploração através da uberização do trabalho.

Na verdade, sabemos que a tecnologia e o conhecimento necessários para erradicar esse problema das enchentes está disponível. Não se trata de uma questão técnica, porém, de uma questão política. Basta visualizarmos as vítimas do poder avassalador das chuvas. Quem perde roupas, móveis, seus pertences em geral, até sua moradia, ou ainda a vida, para as chuvas são as pessoas mais pobres em condições de habitação mais precárias e vulneráveis. A própria consolidação da cidade capitalista gestou, e segue reproduzindo, os problemas da ocupação desordenada, da segregação espacial que relega os mais pobres para áreas de risco e sem estrutura.

Entretanto, como essa não é a realidade dos capitalistas que detém o poder político nas mãos, que vivem intocáveis em seus lares confortáveis sãos e salvos das tormentas que devastam a vida do trabalhador comum, nada é feito para alterar essa situação. Pelo contrário, os escassos recursos destinados a esse fim são negligenciados, numa demonstração do descaso com a situação de diversas pessoas.

Leia mais: Com 53 mortes pelas chuvas em MG, Bolsonaro gastou 1/3 dos recursos de prevenção de desastres

A precarização e exploração sob o disfarce da modernização e inovação

A salvo em seus lares, os capitalistas podem se privar até dos riscos de aventurar-se em meio as chuvas, e ao abrigo de seu conforto dispõe dos serviços de milhares de entregadores que faça sol ou faça chuva tem de se submeter a jornadas extenuantes de 12h ou mais.

Num país em que persistem altos índices de desemprego, a única alternativa para muitos desempregados torna-se a necessidade de se subordinar aos trabalhos ofertados pelos aplicativos. Longe de serem a solução, esses trabalhos são a própria manifestação do projeto da burguesia para os trabalhadores. De um lado, a falta de investimentos produtivos e a chantagem do desemprego para obrigar com que os trabalhadores aceitem qualquer oferta e qualquer condição de trabalho para não morrer de fome. Do outro, a tecnologia e a crescente flexibilização do trabalho, criando empregos precários como esses, isentando os capitalistas das obrigações com seus empregados, promovidos de maneira farsesca a "empreendedores" donos de si.

A cena flagrada ontem é apenas o ápice dessa realidade vivenciada cotidianamente por milhares de jovens precarizados. O discurso dos capitalistas é de que essas novas relações de trabalho libertam os trabalhadores que podem determinar seu tempo de trabalho e suas condições. O impacto e a violência da cena está justamente em desmontar esse discurso expondo o cúmulo da exploração e precarização a que tem de se submeter os trabalhadores em busca de seu sustento. Enfim, uma imagem que equivale a atualidade da realidade nacional.




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