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ENTREGADORES | Entregadores da Rappi fazem paralisação em Belo Horizonte contra as condições de trabalho

“Nós somos explorados, escravizados, isso é exploração que eles fazem do trabalho.” diz entregador revoltado com a expansão da precarização promovida pela Rappi. A frase foi dita no ato organizado pelos entregadores da Rappi nesta segunda-feira (15) contra o descaso da empresa.

Gabriel RodriguesEstudante de Medicina da UEMG

Mafê MacêdoPsicóloga e mestranda em Psicologia Social na UFMG

terça-feira 16 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Cerca de 40 trabalhadores de app da empresa Rappi em Belo Horizonte paralisaram nesta segunda-feira (15) em frente à sede da empresa no bairro Funcionários reivindicando melhores condições de trabalho.

O principal problema relatado é o mecanismo chamado RappiTurbo, utilizado pelo aplicativo, que controla os deslocamentos pela cidade. A ferramenta não considera o local onde moram ou onde estão os entregadores no momento, e os obriga a aceitarem as corridas. Além disso, a Rappi está impondo que os entregadores tenham que agendar os horários que vão trabalhar com antecedência, e caso isso não aconteça, ficam impossibilitados de fazer entregas.

Outro ponto levantado são os bloqueios indevidos, que ocorrem caso os entregadores não aceitem as corridas obrigatórias. A empresa não informa o motivo do bloqueio e nem por quanto tempo ficarão sem poder trabalhar, isso faz com que os entregadores mal possam parar para se alimentar ou descansar. Também protestam contra as dívidas promovidas pelo aplicativo em caso de contratempos, como o cancelamento da entrega, a falta de especificação do endereço de destino pelo cliente ou acidentes ocorridos durante o trabalho.

Os entregadores questionam ainda o valor miserável recebido por cada corrida. Um dos entregadores diz que "Se o cliente paga R$ 40 por uma corrida, eles repassam, no máximo, R$ 10 ainda com o prazo de 30 dias. Se você quiser receber antes, eles descontam. Te cobram para receber o que é seu. O seu salário." Esse valor extremamente baixo obriga os trabalhadores a cumprirem jornadas extenuantes e receberem um salário de fome.

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Relatos dos entregadores

Depois de não conseguir resolver virtualmente o ressarcimento de uma dívida indevidamente cobrada pela empresa, Renan, com quem conversamos, foi até a central da Rappi e lá se deparou com o ato dos entregadores. Disse, então, que percebeu que o que estava vivenciando não era apenas sobre o seu problema específico, mas uma questão bem maior. Cristian também coloca que o ato está sendo realizado "pra melhorar pra todos! Não pra mim. Se amanha eu saio do aplicativo, vão vir outros que vão lutar pela mesma coisa. Eu já estou lutando para futuros motoqueiros que estão vindo para trabalhar no aplicativo, que precisam trabalhar. Para não ser escravo, entendeu? Porque, às vezes, nós somos escravos.”

Sobre os acidentes de trabalho ocorridos durante as entregas, um dos entregadores que já sofreu 2 acidentes e ficou parado sem receber nada diz que a Rappi “além de pagar pouco, faz com que a gente corra dentro do trânsito de Belo Horizonte que você sabe como é doido... Então, estão acontecendo muitos acidentes, porque ela obriga a gente a correr (...) Se o pedido não está pronto lá, por que eu tenho que correr para chegar lá em 2 minutos se eu estou a 5 quilômetros? Não sou super-herói não!”

Durante o ato, dois entregadores entraram na sede da empresa em uma tentativa de negociação com os representantes. Entretanto, voltaram indignados, relatando que ninguém da empresa se responsabiliza por nada. Segundo os entregadores, “não tem ninguém que representa eles”; “a gente subiu lá agora e eles deram risada da nossa cara, risada de deboche (...) como se a gente fosse otário e burro”. Foi alegado que o tratamento dirigido a eles “é sempre ríspido e grosso, não escutam e maltratam os entregadores. Sempre.”

Um dos trabalhadores colocou que essa paralisação “é só um pouco do que a gente tem para mostrar para a Rappi”. Não é a primeira vez que trabalhadores precarizados de aplicativos têm que se organizar contra as empresas. No ano passado, ocorreram duas grandes paralisações em diversas cidades do país. O Breque dos Apps representou um avanço no processo de tomada de consciência por parte dos trabalhadores precarizados. “Não somos empreendedores, somos trabalhadores” disse um dos representantes dos inúmeros revoltados com a Rappi, iFood, Loggi e todas essas milionárias empresas que lucram rios de dinheiro, principalmente na pandemia, nas costas destes trabalhadores, em sua maioria negra, que enfrentam uma realidade brutal de fome e desemprego.

Wesley, um dos entregadores com quem conversamos, decididamente diz que “se não melhorar essa situação a gente vai ficar mais dias... 2 dias, 4 dias, 1 semana, enquanto não melhorar isso a gente vai estar reivindicando nossos direitos.”

É realmente preciso retomar o caminho da mobilização, batalhando pela unidade do conjunto da classe trabalhadora. O trabalho precário e uberizado tem classe e cor negra. Essas empresas precisam ser responsabilizadas! Nossas vidas valem mais do que os lucros deles! Que os capitalistas paguem pela crise.

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