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DONALD TRUMP | Entre o protecionismo e a xenofobia, Trump ataca a Alemanha

Nesta segunda-feira as declarações de Donald Trump sobre a União Europeia estavam na capa dos principais diários internacionais. Suas declarações foram particularmente agressivas contra a Alemanha. Mas irá Trump além de declarações ao assumir o poder?

quarta-feira 18 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Trump respondeu sobre questões europeias a dois periódicos conservadores: ao britânico The Times, cujo representante era o ex-ministro conservador Michael Gove, e ao alemão Bild, cujas posições xenófobas e nacionalistas ficaram célebres. Nesta entrevista Trump desenvolve em primeiro lugar toda uma série de afirmações racistas contra os refugiados.

Para Trump, a política supostamente “acolhedora” de Angela Merkel para os refugiados seria na realidade um “erro catastrófico”: “creio que (Merkel) cometeu um erro catastrófico acolhendo todos esses ilegais, sabe, tomando todas as pessoas sem importar de onde vêm. E ninguém sabe de onde essas vêm”. Em seguida, cinicamente, afirmou: “as pessoas não querem que outra gente venha a seus países e as incomodem”. Como se as guerras e a miséria das quais os migrantes escapam não fossem responsabilidade direta das intervenções dos exércitos imperialistas no Oriente Médio, na África e por todo o mundo.

Mas Trump não para por aí. Para ele, o Brexit é igualmente o resultado da política migratória da União Europeia: “as pessoas e os países querem sua identidade. Os britânicos queriam sua própria identidade. Creio sinceramente que se não tivessem sido obrigados a acolher tantos refugiados – com todos os problemas que vêm com eles – não teria havido Brexit”. Como se a identidade de uma potência imperialista como a Grã-Bretanha tivesse sido ameaçada por alguns milhares de migrantes.

A realidade é que tanto na Europa como nos EUA, Trump busca desviar as verdadeiras preocupações das classes populares (desemprego, degradação das condições de vida e trabalho, etc) para o ódio contra os estrangeiros acusados de “roubar” o trabalho e de serem responsáveis pelos sofrimentos dos trabalhadores e das massas locais. Trata-se de uma velha técnica dos capitalistas para dividir os explorados. E quando isso não for mais suficiente para conter o ódio popular, não tardarão em encontrar um “inimigo interior” no “campo nacional” (empregados estatais, trabalhadores fixos, etc).

Protecionismo anti-alemão

Enquanto se trata de atacar os migrantes, Trump não vacila em apresentar o Brexit como uma “má notícia” provocada pelos refugiados, porém não se incomoda de logo felicitar a Grã-Bretanha por ter votado pelo Brexit... para atacar a Alemanha. Para Trump, a União Europeia não é mais que “um veículo para a Alemanha”. E é precisamente por isso que o Brexit foi uma “decisão inteligente” por parte dos britânicos. E Trump assegurou que outros países a seguirão.

Mas com essas declarações, Trump não busca propor outro “modelo” para a União Europeia, mas sim atacar a Alemanha e suas exportações para os EUA. Enquanto que na semana passada o presidente eleito dos EUA havia centrado seus ataques na Ford, GM e Toyota, entre outros, sobre suas produções no México destinadas ao mercado norte-americano, desta vez decidiu ameaçar a indústria automotriz alemã. Assim declarou: “queria dizer para a BMW que se constroem uma fábrica no México e querem vender automóveis nos EUA sem pagar 35% de impostos por automóvel, podem esquecer. Se querem fabricar carros para vendê-los no resto do planeta, lhes desejo o melhor. Podem construir carros para os EUA. Mas deverão pagar 35% de impostos por automóvel exportado aos EUA. O que quero dizer é que deverão construir sua fábrica nos EUA”.

Evidentemente, essas declarações provocaram agitação na Alemanha. Assim o Vice-chanceler alemão e Ministro da Economia, o socialdemocrata Sigmar Gabriel, declarou: “em vez de penalizar os construtores automotrizes alemães, os EUA deveriam produzir melhores automóveis”.

Efetivamente, se essas declarações se transformam em uma política concreta, o risco de uma guerra comercial é grande. E contrariamente às ameaças ao México, um país semicolonial, Trump decidiu agora passar à ofensiva contra uma das potências imperialistas mais importantes do mundo, como é a Alemanha. Mas em uma eventual guerra comercial com medidas protecionistas, os trabalhadores, tanto de um lado como do outro, não obterão mais que inflação do preço dos produtos da vida corrente, fechamento de empresas por “perda de mercados”, e sobretudo, o crescimento do nacionalismo que poderia conduzir inclusive a conflitos maiores entre potências mundiais.

Grã-Bretanha, futuro “agente” de Trump contra a Alemanha?

Nessa entrevista Trump se mostrou muito elogioso e interessado em chegar rapidamente a um acordo comercial com a Grã-Bretanha. Nesse giro conflituoso com a União Europeia, e sobretudo com a Alemanha, Trump parece ver na Grã-Bretanha um aliado privilegiado na Europa.

Enquanto o Brexit dava a aparência de um claro risco de isolamento internacional e de perda de influência do imperialismo britânico, este giro político nos EUA poderia oferecer um novo caminho para a classe dominante na Grã-Bretanha depois da saída da União Europeia. Mas essa opção implicaria uma relação mais conflituosa com seus “sócios-competidores” da União Europeia e talvez uma dependência maior do apoio de um governo norte-americano “hostil” à Europa.

Entretanto, tudo isso não são mais que hipóteses. No momento, todo o mundo espera para ver quais serão as políticas efetivas de Trump uma vez que se instale na Casa Branca. É nesse momento que veremos a passagem dos tweets e discursos aos atos concretos. E é então que começarão os verdadeiros problemas.




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