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NOTA DE REPÚDIO | Entidades se unem contra a abolição do Dia da Consciência Negra em São Paulo

domingo 8 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Reproduzimos abaixo a nota em repúdio à tentativa de abolir o Dia da Consciência Negra na Cidade de São Paulo, nota assinada por diversas entidades e também pelo MRT e pelo Esquerda Diário.

Nota em defesa do Dia da Consciência Negra e dos direitos da população negra brasileira

A história do nosso país, desde a chegada dos portugueses, carrega quase 400 anos de escravidão que causaram a morte de milhões de mulheres e homens sequestrados da África para trabalhar nas senzalas. A abolição da escravidão, sem nenhum apoio do estado, jogou os escravos e escravas recém-libertos para as periferias dando origem às favelas e, mesmo no século XXI, grande parte das famílias negras chora ao ver a juventude negra morrer pelas mãos da polícia ou do tráfico por não ter condições dignas de estudo, lazer, trabalho ou moradia.

Mas outra agressão, quase velada, é a tentativa de apagar da história do Brasil a memória das lutas e dos heróis e heroínas do povo negro e suas tradições. Este ataque tem por objetivo perpetuar o mito da “democracia racial” em que todos e todas teriam condições iguais independente de sua cor.

Mais uma forma de resistência surgiu, em 2003, com o Dia da Consciência Negra que, em 2011, foi instituído nacionalmente através da Lei nº 12.519 dando origem ao feriado em mais de mil cidades brasileiras. A data criada para relembrar um dos maiores feitos da luta do povo negro por liberdade – o Quilombo dos Palmares – e seu líder, Zumbi, irrita as elites que até hoje tentam acabar com a comemoração.

Recentemente, a direita e grupos reacionários buscaram uma nova tática de confundir a população ao financiar a eleição de um vereador negro na cidade de São Paulo para atacar os direitos do povo negro. Durante a campanha e após a posse, esse vereador declarou que lutará pelo fim do feriado da Consciência Negra na cidade de São Paulo e pelo fim das cotas raciais no serviço público municipal.

Mas essa tática não é nova. Pobres defendendo interesses dos ricos e falsos moralistas atacando forças progressistas sempre foram usados na tentativa de a elite conquistar apoio entre as classes exploradas e enfraquecer o povo pobre na sua luta e na sua organização social. Por isso, repudiamos essa tentativa de enganar nosso povo negro que compõem massivamente as classes mais pobres do nosso país, aquelas que mais sofrerão com as medidas do atual governo golpista na sua retirada de direitos. O que deve ser denunciado por um representante negro eleito (e por todos e todas independente da raça ou cor) é o genocídio e extermínio da juventude negra que, no Brasil, leva um jovem negro a ter três vezes mais chances de morrer do que um jovem branco. Deve ser denunciado, principalmente nesse momento de crise econômica, o racismo no mercado de trabalho que faz um negro receber apenas 59,2% do salário de um branco (segundo a PME de 2016) e uma mulher negra receber ainda menos, além de gerar um maior índice de desemprego entre a população negra. Devem ser denunciadas diversas outras injustiças contra a população negra que não cabem em apenas uma nota, mas para ressaltar um ponto, dos presos no país, cerca de 70% são homens jovens negros que tem seu futuro destruído por uma política que retroalimenta o encarceramento em massa, consequência da falta de uma educação de qualidade e da desigualdade de oportunidades.

Ressaltamos a necessidade de que os movimentos sociais sejam construídos junto à classe trabalhadora como a melhor forma de evitar que o oportunismo de direita ganhe parte da nossa classe. Por isso, defendemos e afirmamos o Dia da Consciência Negra em São Paulo, e lutaremos para que este se torne feriado nacional. Defendemos as cotas raciais que promoveram um avanço, ainda limitado, na democratização do ensino superior. Lutamos por uma nova sociedade livre do preconceito racial para pôr fim ao genocídio da juventude negra e ao martírio de milhares de mães e famílias que choram diariamente seus filhos e filhas mortos.

Assinam este manifesto os movimentos sociais, coletivos negros, coletivos culturais, entidades e organizações de esquerda abaixo:

Movimento Revolucionário de Trabalhadores - MRT
Esquerda Diário
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)
Brigadas Populares
Movimento de Mulheres Olga Benário
Movimento Luta de Classes (MLC)
Coletivo hip-hop Diadema
Diadenegas
Fórum de Promoção da Igualdade Racial - Benedita da Silva
Associação dos moradores do Caviúna
Sarau na luta
Simbiose Urbana
XIII Marcha da Consciência Negra
Casa Amarela Quilombo Afroguarany
Anhangabaroots
Laboratório Compartilhado TM13
Buraco da Minhoca
#souguaranykayowa
OKupalco
FEMP
Coletivo Perifatividade
Cia Teatral Samá Elyon
Rede Cultural Uz300
Coletivo Encontro de Utopias
Associação Cultural Portal RAS
Banda QG Imperial
Fórum do Reggae
Cine Campinho
Rua de Fazer
Econsciencia Produções e Homens do Mato
Casa do Meio do Mundo
Banda Ambulantes
Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (FENET)
Diretório Acadêmico Sigma - UFABC
PSOL - Estado de São Paulo
PSOL – Município de São Paulo
PSOL – Guarulhos
Juventude Socialismo e Liberdade (JSOL)
Unidade Popular pelo Socialismo (UP)
Partido Comunista Revolucionário (PCR)
União da Juventude Rebelião (UJR)




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