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TRIBUNA ABERTA | Encruzilhada: artistas e quarentena

A pandemia colocou sobre a mesa, de forma ainda mais clara, a enorme desigualdade social existente. O governo não apresenta respostas, colocando idosos, mulheres, trabalhadoras negras, trabalhadores precários e/ou informais e, também, quem tenta viver da arte, em uma situação ainda mais vulnerável.

sexta-feira 27 de março de 2020 | Edição do dia

Micaela Gazzano

Texto publicado originalmente em espanhol no La Izquierda Diario, integrante argentino da Rede Internacional de Diários La Izquierda Diario.

Após o avanço do COVID-19 em todo o mundo, na Argentina, como em outros países, foi determinada a quarentena estrita da população. Essa medida, apesar de necessária em um determinado momento, gera grandes contradições para a população e põe sobre a mesa, ainda mais claramente, a enorme desigualdade social existente, à qual o governo não está respondendo. Toda essa crise coloca em situação ainda mais vulnerável os idosos, mulheres, trabalhadoras negras, precárias e/ou informais e, também, aqueles que tentam viver da arte.

Para os artistas, a situação se torna muito complicada. Muitos de nós enfrentamos a realidade de conseguir empregos mensais, viver dia a dia ou por pedidos, etc. Assim, a subsistência se torna praticamente insustentável. Muitos de nós perdemos o emprego, pois nossa capacidade de obter renda se torna insustentável. Além disso, todos os eventos culturais e instituições de arte foram fechados e os espaços não subsidiados são particularmente afetados, assim como os artistas performáticos, de atores a cenógrafos, mas também técnicos que perdem grande parte de sua renda e, além disso, precisam pagar o monotributo.

Alguns artistas, como músicos e atores, optaram por alternativas on-line para fazer seus shows ou dar aulas. No entanto, nem todos os artistas têm essa possibilidade, especialmente na Argentina.

Cayetina Arte, uma artista empreendedora de Mar del Plata, afirma: “Particularmente o meu trabalho relacionado à arte é afetado das seguintes maneiras: não recebo pedidos e não posso fazer entregas. Como a forma de empreender que tenho é on-line, neste caso, não tenho um local físico, um lugar, mas eu vendo, recebo pedidos através das redes sociais. Essas medidas de restrição não levam em conta as milhares de pessoas que têm pequenas empresas, muitas delas não registradas como eu. Não podemos gerar remessas, não podemos trabalhar e isso nos afeta não apenas financeiramente, mas emocionalmente.

Não sendo capazes de gerar renda com o que costumamos trabalhar dia a dia, vivemos na incerteza de não saber o que acontecerá em uma semana, nem quando isso terminará e seremos capazes de ter uma vida "normal". Nem mesmo tendo a contemplação do estado, nem dos microempreendedores, autônomos não registrados, acrescentando que muitas pessoas como eu vêm estudar e devemos pagar aluguel, serviços. Mas parece que não existimos.’’
Perguntamos sobre sua visão das medidas do governo Alberto Fernández:

“Acho que isso precisa ser acompanhado de medidas como teste para saber se estamos infectados ou não, e daí podemos ter outro panorama sobre esse vírus. Não podemos estar na incerteza de não saber, se nossa garganta dói, se é uma gripe ou se realmente estamos infectados! Agora: Quanto à restrição, isolamento. Parece-me necessário, mas também acredito que nem todas as pessoas estão preparadas ou têm algum tipo de suporte para lidar com essa situação, que de alguma forma nos influencia em menor ou maior grau."

Enquanto esse problema afeta milhões, o governo propõe apenas um subsídio de $10.000 (pesos argentinos) que é suficiente para viver apenas 5 dias por mês. Esse "auxílio", inferior ao Salário Mínimo, Vital e Móvel (SMVM), que, mesmo quando não é atualizado pela inflação, é de $16.875. O subsídio equivale a apenas 73% do que o Banco Central paga em um mês pelos juros da Leliq (Letras de Liquidez) aos bancos. No entanto, o governo não exige uma contribuição "solidária" de bancos e especuladores de dívida.

Para enfrentar a crise em que milhões de pessoas serão afetadas perdendo sua fonte de emprego, precisamos estabelecer prioridades. Não se pode continuar beneficiando bancos, especuladores e empresários, deixando as maiorias populares e sua saúde em segundo plano. Precisamos de subsídios extraordinários de pelo menos $30.000 para trabalhadores desempregados, monotributistas e autônomos.

Impondo o não pagamento da dívida pública e impostos progressivos e extraordinários aos grandes capitalistas, para pensarmos em um novo esquema de medidas econômicas emergenciais, onde a crise é paga pelos empresários e não carregada pelos trabalhadores em seus ombros.




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