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QUILOMBO VERMELHO RIO | Emocionante lançamento do Quilombo Vermelho no Rio de Janeiro: avanço na luta negra anticapitalista

terça-feira 28 de novembro de 2017 | Edição do dia

No dia 25 de novembro o Quilombo Vermelho, grupo de negras e negros impulsionado pelo MRT e independentes, foi lançado na cidade do Rio de Janeiro. O Quilombo Vermelho havia sido lançado em SP no dia 18/11 com a participação de 400 pessoas. Agora no Rio de Janeiro reuniu trabalhadores de diversas categorias, como professores, garis, servidores da UERJ, agentes de saúde, estudantes universitários e secundaristas, dezenas de negras e negros debateram a necessidade de avançar na organização da luta uma perspectiva revolucionária e anticapitalista. As falas, tanto da mesa quanto do plenário, transmitiram um enorme entusiasmo e relataram de forma profunda e emocionante a urgente necessidade de organizar as negras e negros do Rio de Janeiro para lutarem contra o racismo e o capitalismo.

A intervenção de abertura foi feita por Marcelo Pablito, trabalhador do bandejão da USP e membro da Secretaria de Negros e Negras e combate ao racismo, como diretor do Sintusp, além de militante do MRT e do Quilombo Vermelho, que ressaltou como o racismo é um produto do capitalismo, e portanto não existe possibilidade de destruí-lo se a luta contra ambos não estiverem ligadas. Em sua intervenção, Pablito ressaltou:

Precisamos tomar como exemplo para nosso combate a história que não se discute nas escolas e nas universidades. A história do nosso povo negro, que como disse CLR James só não se revoltou nos livros dos historiadores capitalistas.

E completou: "Precisamos retomar os exemplos de luta do nosso povo, como a revolução haitiana, e também das revoluções, como a grande revolução russa que foi realizada por uma classe trabalhadora descendente dos servos do campo, que tal como os negros eram marcados a ferro, como se fossem animais. O fato de terem sido esses os protagonistas da maior revolução da história, mostra que a luta contra o racismo e o capitalismo devem ser ligadas. Por isso temos também que defender a necessidade de que a classe trabalhadora e os negros possam se organizar em um partido revolucionário”.

Carolina Cacau, ex-candidata vereadora do MRT pelo PSOL no Rio, professora da rede pública estadual e estudante da UERJ, afirmou em sua fala que o movimento negro e anticapitalista precisa superar o PT, e construir uma via independente para lutar contra as reformas, sobretudo no Rio de Janeiro onde a crise golpeia duramente. Isso implica também em não confiar na justiça burguesa, e nem na polícia ou na ocupação do exército como via para responder a decomposição social que assola o estado por conta da crise capitalista. Cacau ressaltou na sua fala:

O problema da violência hoje está diretamente ligado com a crise que vivemos que os capitalistas e políticos querem a todo custo descarrega-la nas nossas costas para manterem seus lucros absurdos.

E completou: "O Estado capitalista cada vez mais repressor que atua fundamentalmente contra a imensa maioria da população pobre e negra, que são os que mais sofrem. Quando na verdade é o estado, usando dos seus meios, seja o Bope a Polícia Militar ou a Força Nacional, para amedrontarem a população e manter os negros e negras de cabeça baixa diante de todos os ataques e absurdos que temos que vivenciar. Fazem isso com o respaldo da justiça que mantém o Rafael Braga preso enquanto permite que os policias assassinos de nossos filhos, primos e amigos sigam em liberdade”.

Cacau também destacou na sua fala a importância dos negros e negras tomarem para si a construção do dia de greve nacional chamado para o dia 5, que terá sua força determinada pela capacidade da base impor que as direções vão além do que querem, como fizemos no 28 de abril. E colocou que o MRT vem se propondo a entrar no PSOL para batalhar por posições anticapitalista dentro do partido, que até agora não recebemos uma resposta oficial, e que o PSOL deveria se abrir também aos negros que constróem o Quilombo Vermelho, se postulando como uma verdadeira alternativa à esquerda do PT.

Thiagão, trabalhador negro de Mauá, fez também uma fala emotiva, na qual saudou com muita alegria a presença de todos, e reforçou a necessidade de combater o retorno às ilusões de que as demandas do povo negro poderiam ser resolvidas com melhorias graduais, tal como a propaganda petista disseminava no auge dos governos Lula.

“Minha avó, minha família, eu mesmo, trabalhamos a vida toda. Ás vezes elas pensavam que a nossa situação melhoraria. Mas olhando hoje que nós, trabalhadoras e trabalhadores temos? Não temos nada. Minha avó tem 71 anos trabalha desde os 16 e o que ela tem? Nada. Quando mais trabalha menos se tem. Nem uma aposentadoria decente. O capitalismo não nos deu nada. Por isso precisamos derrubá-lo.”

Isa Santos, do Centro Acadêmico de Serviço Social da UERJ, encerrou as falas da mesa denunciando como a crise afeta as vidas negras no Rio de Janeiro, que são os que mais sofrem com o desemprego, na fila do SUS, e como a violência e questões elementares como a disparidade salarial que afeta os negros, e especialmente as negras, devem ser combatidos. Isa ressaltou que “A situação das mulheres negras, que são hoje responsáveis pelo sustento da casa como com certeza cada um aqui conhece ao menos um exemplo, se agrava com a combinação entre o racismo e o machismo. Essa combinação, tão apropriada pelo capitalismo, fazem que nossas vidas passem a valer quase nada."

Isa também denunciou dados estarrecedores:

Nos impõe as piores condições de trabalho e uma diferença salarial que nacionalmente chega a 60% entre homens brancos e mulheres negras. Mas que no Rio de Janeiro, de acordo com dados do IBGE de 2014, a diferença salarial entre homens brancos e as mulheres negras alcançou o absurdo número de 144, 8% de diferença. Fora das estatísticas que envolvem o trabalho nossa realidade não está num quadro melhor. Enquanto os números oficiais de mulheres brancas que sofrem por violência doméstica diminuiu, o número de mulheres negras vítimas da violência machista cresceu. Tal qual os homens negros são as mulheres negras a maior parcela das vítimas da violência letal (63,7).

Em seguida aconteceram as intervenções do plenário, que foram muito profundas e emocionantes, e colocaram várias propostas que serão impulsionadas pelo Quilombo Vermelho.

A professora Eliane Peçanha propôs que as campanhas discutidas pelo GT contra as Opressões do Sepe de Niterói contra o Escola sem Partido, e outra que denuncia a escravidão de negros na Líbia, fossem encampadas pela Quilombo Vermelho e o Esquerda Diário, o que todos tiveram acordo.

Além disso, foram encaminhadas outras campanhas para serem impulsionadas pelo Quilombo Vermelho como, a campanha pela liberdade imediata de Rafael Braga, a campanha “Igual Trabalho, Igual Salário” impulsionada com as companheiras do grupo de mulheres Pão e Rosas que denunciam que as mulheres negras ganham 60% a menos que os homens brancos, e tomar nas nossas mãos para construir a paralisação nacional convocada para o dia 5 de dezembro para lutar contra as reformas do golpista Temer, em chave independente do PT.

Chamamos a todas negras e negros para construir um Quilombo Vermelho para se enfrentar contra o racismo, a violência policial e a crise do Rio de Janeiro, em defesa da cultura negra e contra todos os políticos corruptos que governam em nome dos empresários que querem descarregar a crise nas costas da classe trabalhadora, que na sua maioria em nosso estado é negra! Por isso queremos construir um Quilombo que lute contra esse sistema capitalista que só tem a nos oferecer miséria, mortes e dor! Um Quilombo Vermelho que com o conjunto da classe trabalhadora faça a burguesia racista tremer!

Veja a transmissão que foi feita ao vivo da atividade, nos dois links abaixo:

Parte 1

Parte 2

Veja mais fotos de alguns dos negros e negras que tomaram a palavra na atividade e fizeram intervenções emocionantes.




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