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EDUCAÇÃO PÚBLICA | Em vídeo reacionário candidatos derrotados na eleição para reitoria na UFCG prometem entrega da instituição a Bolsonaro.

Na Universidade Federal de Campina Grande os professores John Kennedy e Marcus Vinicius candidatos a reitoria na chapa 2, “Plural e Democrática” derrotadas na eleição gravam vídeo arqui-reacionário endereçado ao presidente Jair Bolsonaro, defendendo a família tradicional, a subordinação da universidade as empresas e aos militares para clamando a defesa desse projeto ser escolhidos contra a vontade da comunidade acadêmica. A chapa havia contado com apoio de uma heterogênea aliança de setores de opositores de direta e “esquerda” a atual reitoria (falamos isto com total independência desta), como a Correnteza, braço estudantil da Unidade Popular e setores da Consulta Popular.

terça-feira 16 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Dentro de um marco conjuntural onde existe ainda a antidemocrática lista tríplice e a crescente intervenção de Bolsonaro nas eleições de reitores violentando a autonomia universitária, é que justamente se manifesta uma submissão que temos visto se materializar no último pleito à reitoria da Universidade Federal de Campina Grande pela chapa Kennedy-Vinicius.

A eleição para reitoria ocorreu no dia 20 de novembro de 2020 e teve a participação de três chapas. De acordo com informações da própria Universidade Federal de Campina Grande o colégio de eleitores apresentou o seguinte quantitativo: 1.501 professores; 1.329 técnico-administrativos; 19.638 estudantes. O resultado da eleição, antidemocrática, após a apuração dos votos deu vitória a chapa composta pelos professores Vicemário e Camilo, que estavam concorrendo à reeleição, atual gestão. Nesse sentido, a lista tríplice a ser encaminhada a Bolsonaro seguiu a seguinte ordem de acordo com o resultado:

1º Lugar - Chapa UFCG que avança, Reitor: Vicemário Simões, Vice-Reitor: Camilo Allyson Simões de Farias;

2º Lugar - Chapa UFCG plural e democrática; Reitor: John Kennedy Guedes Rodrigues, Vice-Reitor: Marcus Vinicius Lia Fook e

3º Lugar - Chapa UFCG inovadora, inclusiva e descentralizada, Reitor: Antônio Fernandes Filho, Vice-Reitor: Mario Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti Mata.

No próprio pleito as chapas assinaram termo se comprometendo a respeitarem a decisão de eleger aquela chapa que teve maioria dos votos como observamos.

Contudo, o resultado das eleições nunca foi de fato aceito pela Chapa composta pelo professor Kennedy e Marcus.

Para a surpresa da comunidade acadêmica, no dia 11 de Fevereiro de 2021 começou a circular nas redes sociais um vídeo no qual os professores Kennedy e Marcus suplicavam ao presidente Bolsonaro que o escolhessem para reitoria da instituição, nos dizeres dos professores, que em um tom de oportunismo colocaram argumentos como:

“Queremos Administrar a UFCG, Universidade Federal de Campina Grande, nos moldes da administração do governo Federal, em parceria e da mesma maneira, com a mesma indicação de honra, respeito à família e com princípios éticos baseados no artigo 37, impessoalidade, legalidade e trabalhar na eficiência do setor público”.

O professor Kennedy ainda coloca:

Trabalho na área de pavimentação e tenho convênio com a Petrobrás e com o exército brasileiro. Especificamente, trabalhei e formei vários mestres em nível de mestrado, oficiais do primeiro grupamento de engenharia e atualmente sou consultor do Exército Brasileiro nas obras da Transamazônica aqui do início de Cabedelo na Paraíba, que está sendo feito pelo Exército Brasileiro. Quero compartilhar essa administração que o senhor tá fazendo no Governo Federal com a UFCG [...].

Em seguida, o professor Marcus também aponta:

Olá Presidente Bolsonaro, obrigado por nos escutar. Nós estamos concorrendo à indicação para reitor e vice-reitor da nossa universidade. Nós queremos dar a essa universidade uma experiência nos moldes que o Governo Federal tem implantado nesse país.

O professor Marcus também aponta que tem atuado junto a agentes do exército e cita como exemplo:

[...] no projeto de telemedicina, sob a coordenação dos Generais Pafiadache e General Martin. Temos uma estreita parceria também com o Hospital das Forças Armadas em Brasília. Tenho tido a satisfação de trabalhar muito estreitamente com o general Matsuda [...].

Não é necessário ser nenhum analista de discurso para perceber que os professores a todo instante tentam acionar um sistema de signos e símbolos, tais como: Família, honra, exército, forças armadas, empresas, para que assim, ganhe uma aderência do presidente Bolsonaro. O nível de degeneração é tamanho que nem mesmo respeito ao termo que assinaram que citamos anteriormente os professores cumpriram, o que demonstra o grau de submissão a um projeto de poder personalista e burocrático.

Além disso, a defesa pela administração que o governo federal tem empreendido no país chega a causar ânsia de vômito em qualquer pessoa séria que esteja comprometida com o ato de ser professor no Brasil. Não é segredo para ninguém que Bolsonaro tem atacado de forma frontal a educação brasileira, não apenas em nível de autonomia e escolha de reitores, mas no corte de gastos públicos e manutenção de uma política fiscal que prioriza o sistema da dívida pública brasileira e que suga os recursos produzidos pela classe trabalhadora em detrimento à fração financeira da burguesia.

Diante desses apontamentos e do vexame público, após a divulgação do vídeo, uma série de notas de repúdio foram emitidas, nessas notas o caráter de desapontamento era tamanho que até mesmo de ativos apoiadores dessa chapa.
Nesse ínterim, chamamos atenção para o apoio que o movimento Correnteza deu a chapa, inclusive, colocando que dentre àquelas chapas que estavam concorrendo ao pleito, a do professor Kennedy e Marcus era a que detinha um maior compromisso com o ensino público.

Em nota , o agrupamento de juventude da Unidade Popular (UP), chegou a fazer críticas ao governo Bolsonaro, da mesma forma que setores da Consulta Popular. Todavia, sem retirar o peso desse golpismo e do estelionato eleitoral cometido pelos professores Kennedy e Marcus, se faz necessário uma visão mais ampla sobre a universidade brasileira, só assim teremos a oportunidade de construir uma educação pública e de qualidade para os filhos da classe trabalhadora, expurgando todo o privilégio e integrando de fato o ensino às reais necessidade da sociedade.

Se as Universidades brasileiras já são marcadas pelo grau de profunda desigualdade social, sendo uma instituição criada de fato para a burguesia do país, os processos ditos “democráticos” no interior dessas, não são nada democráticos. Como é de conhecimento comum, em boa parte das instituições de ensino superior aquele direito mais básico de uma pessoa um voto, que a Revolução Francesa promoveu, não é sequer garantido. Nas eleições para escolha de reitor, por exemplo, não existe o nem sequer o também antidemocrático voto paritário.

É de posse desse “poder” que Bolsonaro vem justamente nomeando reitores alinhados ao seu projeto político. De acordo com a Associação de Docentes da UFRGS (ADUFRGS) , Bolsonaro teria intervindo nas seguintes nomeações.

Nomeações de interventores fora da lista tríplice: Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ), Universidade Federal da Cidade do Rio de Janeiro (Unirio), Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN)

Nomeações do 2º ou 3º nome da lista tríplice: Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A essa lista também adicionamos o caso da Universidade Federal da Paraíba

A partir do Esquerda Diário defendemos voto nulo nessas eleições, mas estaremos na linha de frente contra a intervenção do governo, Ministério da Educação e a Capes para colocar neobolsonaristas de forma autoritária na reitoria.
Mas é preciso dizer que a revelação do vídeo mais uma vez reafirma a necessidade fazer um balanço político das frentes amplas opositoras que agrupam direita e esquerda sem programa, sem princípios, sem delimitação e independência política, pois sem esse balanço estaremos desarmados, e não superemos a lógica de “mal menor” na esquerda, que termina levando a apoiar até mesmo figuras que tem apreço ao Bolsonaro e fazem vídeos como esse.

A partir do Esquerda Diário convocamos a comunidade acadêmica a lutar de forma unitária contra essa nominação caso se efetive na UFCG e por um programa de educação que busque uma universidade à serviço da classe trabalhadora, colocando sua produção de conhecimento e pesquisa voltada as necessidades da população e não do grande capital, questionando a atual estrutura de poder, buscando um governo universitário tripartite com sufrágio universal. E que tenha como objetivo uma educação pública, gratuita e universal, colocando como grande bandeira a estatização dos grandes monopólios que tratam a educação como mercadoria, permitindo milhões de novas vagas públicas e colocando em xeque os filtros sociais, como o vestibular, que impedem o acesso da população trabalhadora e a juventude.




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