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Movimento estudantil | Em meio aos atos e ataques, um Conune escondido para legitimar uma direção burocrática?

Você sabia que entre os dias 14 e 18 de julho está sendo chamado o Conune extraordinário em formato online? Provavelmente você, como milhares de estudantes em todo país, nem sequer ouviu falar que a direção da nossa maior entidade estudantil decidiu fazer um congresso nacional e não está promovendo nenhum debate sobre isso com a base dos estudantes.

Mariana DuarteEstudante | Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

domingo 27 de junho de 2021 | Edição do dia

Também não deve estar por dentro do fato que para além de ser um Congresso chamado as pressas praticamente de forma escondida dos estudantes, este também não terá a participação de delegados eleitos nas universidades. A votação da diretoria será em base apenas em base a uma mudança de diretores, mas mantendo as mesmas forças políticas que já estavam. Essa prática não é uma novidade para a direção majoritária da entidade dirigida pelo PT, PCdoB e Levante Popular da Juventude, mas também foi acordada entre os setores que se dizem oposição, as juventudes do PSOL, como Juntos, Afronte e Rua, a UP/Correnteza e o PCB/MUP/UJC, ambos com membros na direção da entidade.

A pergunta que fica é: porque estão escondendo dos estudantes que irão fazer um congresso nacional?

Já são mais de meio milhão de mortos pela pandemia e o escândalo de superfaturamento na compra das vacinas Covaxin, mais uma vez escancara como a prioridade do governo Bolsonaro sempre foi o lucro das empresas. Mas também devemos ter claro que não virá pela via da CPI ou de convencer o centrão - os mesmo parlamentares que aprovam a privatização da Eletrobrás e defendem o PL 490 contra os povos indígenas - uma saída diante da fome, do desemprego, dos cortes e ataques que vêm sendo implementados dia a dia. A UNE juntamente com outras organizações chamou o próximo ato somente para daqui um mês, e agora é obrigada a convocar uma manifestação com urgência para o próximo sábado (03), enquanto busca conter a indignação diante da revelação de que Bolsonaro sabia do superfaturamento na compra das vacinas, dizendo que no dia 30 de junho acontecerá uma grande ação que deve canalizar todas as aspirações, a entrega de mais um pedido de impeachment para Lira.

Sobre esse debate, esse vídeo da nossa companheira Letícia Parks expressa bastante da nossa visão, ao contrário das saídas institucionais, nós acreditamos em outro caminho, o da mobilização.

O Conune poderia ser um espaço importante nesse cenário, reunindo a vanguarda dos estudantes para debater os desafios do movimento estudantil na luta contra os ataques de Bolsonaro, Mourão e os militares, o que para nós também passa por uma estratégia que não deposita nenhuma confiança no Congresso ou no STF golpistas, mas sim na aliança com a classe trabalhadora. Sua construção poderia ser encarada como forma de fortalecer a organização dos atos e manifestações, seria parte de um plano de lutas que nos permitiria inclusive preparar com muito mais força uma paralisação nacional. Só que para conseguir tudo isso, é necessário superar as barreiras dentro do próprio movimento. Esconder da base a realização desse espaço é uma forma de manter seu controle burocrático, impedindo que os estudantes tenham sua voz e poder de decisão sobre a política e os rumos da entidade. Não compactuamos com essa lógica.

Assim como nos debates sobre os atos de rua, nós defendemos a auto organização dos estudantes. Para a direção da entidade, a realização desse Congresso é completamente formal, está muito mais vinculada a suas disputas pelo aparato do que a necessidade de organizar os estudantes e nossa luta. Nós da juventude Faísca defendemos que é preciso uma organização desde a base, e que todas as correntes que estão na direção da UNE tem obrigação de debater com o conjunto dos estudantes sobre esse espaço. As condições excepcionais da pandemia, que nos obriga a realizar um congresso online, não podem servir como justificativa para que seja ainda mais burocrático do que nos outros anos, onde era comum as denúncias de fraudes e as imposições da UJS, que atuava como se fosse a dona da entidade. Que essa organização e a burocracia petista queiram fazer dessa forma já era de se esperar, afinal, para eles o que importa é se manter no aparato e controlar qualquer disposição de luta dos estudantes para canalizá-las para sua estratégia eleitoral, esperando 2022. As correntes que se dizem oposição de esquerda são coniventes, como o Juntos, o Afronte, o Rua, o MUP e o Correnteza, o que se soma ao fato de que nas universidades em que dirigem DCEs e Centros Acadêmicos tão pouco constroem espaços reais de organização estudantil desde a base para que possam ser os estudantes a decidirem os rumos da nossa mobilização.

Construir um verdadeiro polo antiburocrático alternativo a direção majoritária passa por ter como primeira tarefa denunciar essa prática de esconder o congresso, exigindo que este possa ser organizado desde a base, com votação de delegados em cada universidade a serviço da construção da nossa luta, rompendo com essa lógica burocrática e debatendo com a base dos estudantes em cada curso onde estamos sobre a importância que poderia ter realizar um congresso nacional estudantil nesse momento. Por isso, é absurdo que tenham aceitado que não se tenham eleições de delegados. A forma como se elegeria os representantes poderia ser discutida, se por assembleias ou votações onlines, como tem se dado em algumas universidades para eleições de CAs e DCEs. Mas simplesmente manter a mesma proporção da votação do congresso passado, realizado a mais de dois anos, é aceitar que os ingressantes de 2020 e 2021, justamente aqueles que não puderem ter a experiência mais profunda com o movimento estudantil presencialmente, dessa vez nem sequer tenham direito de escolher seus representantes.

Nós da Faísca lutamos contra essa prática burocrática, e por isso, estaremos em todas as universidades onde atuamos debatendo com os estudantes o papel que poderia cumprir a realização de um Conune nesse momento. Debatendo como esse congresso poderia expressar a organização desde a base dos estudantes, mesmo sendo em meio a pandemia e em especial como poderia ser um espaço para fortalecer um plano de lutas contra os ataques em curso e contra Bolsonaro, Mourão e os militares e não gerar ilusões no teatro da CPI da Covid, Congresso e STF que estão unificados para implementar os ataques.

A primeira batalha colocada é justamente combater as práticas burocráticas dentro do movimento estudantil, defendendo que os estudantes possam ter direito de decidir os rumos da maior entidade estudantil do país. Vemos que essa seria uma tarefa comum, que poderia unificar todos os setores que fazem oposição de esquerda a direção majoritária, construindo um polo antiburocrático contra essas práticas, que poderia atrair milhares de estudantes que também não compactuam com essa lógica. E no marco dessa luta comum poderíamos pensar nas formas de avançar para debater nossas propostas políticas, programáticas e estratégicas para o movimento, debatendo as diferentes políticas que temos dentro dos próprios setores da oposição. Esse é o chamado que fazemos, essa é a batalha que daremos nas assembleias, no dia a dia dos nossos cursos, nas ruas e em todos os espaços do movimento estudantil. Não compactuamos com as burocracias que querem retirar dos estudantes o direito de decidir sobre os rumos da maior entidade estudantil do país, estaremos lutando pela auto organização desde a base para que os estudantes tomem em suas mãos os rumos da nossa mobilização. É urgente a unificação junto aos trabalhadores e movimentos sociais, a mesma direção burocrática que marca um CONUNE escondido às pressas sem votação de delegados é a que está à frente da CTB e da CUT, as duas principais Centrais Sindicais do país que convocam dias de ações separados dos estudantes. A hora de lutar e reconstruir um movimento estudantil aliado aos trabalhadores é agora.




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