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2017. O ano entrou com ares diferentes, todos esperançosos e pedindo por um ano distinto do que significou o golpe de 2016 e seus ataques aos trabalhadores e juventude. Mas já no primeiro dia fomos surpreendidos com o horror do feminicídio de Campinas. 12 mortos. 9 mulheres. Mortas pelo machismo, pela misoginia, pelo capitalismo, pelo ódio.

Livia Tonelli Professora da rede estadual em Campinas (SP)

segunda-feira 2 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Isamara, assim como tantas outras, foi assassinada pelo seu ex-companheiro, que não aceitava o fim do relacionamento. Mais 8 mulheres, assim como ela foram mortas naquela noite. Mortas porque nesse sistema em que vivemos as mulheres não têm nenhum direito sobre o seu próprio corpo, querem que a gente viva sempre em função de outros, da família, do marido, dos filhos, da casa. Não temos o direito de escolher com quem queremos nos relacionar, com quem queremos viver. Não temos o direito sobre nossas próprias vidas.

Isamara já havia denunciado as atrocidades do seu ex-companheiro há anos atrás, quando fez uma denúncia de abuso sexual ao filho, mas a justiça determinou que a criança não deveria ser excluída do convívio com o pai. O autor do crime, deixou uma carta asquerosa, muito difícil pra qualquer um ler, mas principalmente para as mulheres. Quando lemos, sentimos ódio e muita dor, não conhecíamos Isamara, e nada da realidade em que ela e sua família viviam, mas parece que ao ler aquilo, tudo nos é familiar, porque é sempre muito presente nas nossas vidas. E é isso que faz o machismo e o capitalismo, nos trata como coisa, como posse, e quando dizemos não, querem nos fazer pagar por isso e só podemos recorrer a nossas próprias forças.

A carta nos evidencia quem são os que muniram a arma que fez tantas vítimas. Não à toa pedíamos na virada por um novo ano, já que no ano de 2016 se fortaleceram os discursos mais retrógrados e conservadores. O golpe institucional veio com tudo pra cima dos trabalhadores, mas principalmente das mulheres, com Bolsonaros e Malafaias ganhando cada vez mais espaço e querendo arrancar todos nossos direitos. Foram esses que muniram a arma que fez 12 vítimas, eles também são culpados pelo feminicídio de Campinas.

E é em Campinas que reacionários como os vereadores Campos Filho e Cid Ferreira, defendem na câmara que não deve existir debate de gênero nas escolas, ajudando a perpetuar com que seja normal matar uma mulher porque ela decide se separar do seu companheiro e porque ela quer seguir a sua vida sem aquele que a privou de viver, sem aquele que o filho se retorcia pois não gostaria de ir visitá-lo.. Campos Filho, Cid Ferreira e todos aqueles que coadunam com o seu reacionário projeto de lei que proíbe o debate de gênero e sexualidade na escola, que naturalizam todas essas atitudes frente às mulheres e aos LGBTS, são mais que culpados e carregam o sangue de todas as vítimas da opressão nas mãos.

Querem que as mulheres sigam sofrendo, seja de forma estrutural pelo seu trabalho precário, ou pelo assobio na rua e medo constante de sofrer uma violência ao voltar para casa do trabalho ou da escola, sem poder ao menos discutir sua realidade no lugar que de alguma forma deveria servir para educar, para ensinar as meninas que não é normal sentir medo e ajudar os meninos a desconstruir tudo aquilo que lhes é ensinado, que a mulher não é sua, e ela tem o direito de não estar com eles se quiser e devemos respeitar. Querem que cada vez mais casos como esses sigam ocorrendo, mais mulheres sejam vítimas dessa violência absurda. Mas somos muitas e não deixaremos que isso passe calado!

Não somos apenas vítimas da violência patriarcal, somos também sujeitas da transformação da realidade de opressão e exploração em que nós mulheres vivemos, e é contra todos esses reacionários e toda violência machista, que devemos transformar o ódio que sentimos já nesse início de 2017, para nos levantar e gritar com muita força em Campinas: NENHUMA A MENOS!




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