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JUVENTUDE | Eleições para o DCE da UFRJ e governo golpista de Temer: momento exige ação e menos discursos

Nessa semana está acontecendo a inesperada eleição para o DCE. Na disputa pelo diretório da maior federal do país estão quatro chapas. A Chapa 1 “Mobiliza UFRJ Vai Ter Luta”, a chapa 2 “Não Há Nada para Temer”, a chapa 3 “Há Quem Sambe Diferente” e a chapa 4 “Pés no Chão”.

quinta-feira 9 de junho de 2016 | Edição do dia

Primeiramente, temos que denunciar o caráter burocrático do processo das eleições, feito sem nenhum chamado público por parte do DCE para que os estudantes soubessem. Muito pelo contrário, o que aconteceu novamente foi aquela aparição do nada de chapas, debates e urnas que só aparecem em massa, com suas centenas de CRID’s, em dias como esses, ou seja, de eleições.

A partir daqui, não vamos ficar nos alongando sobre os problemas da universidade, pois muitos estudantes sabem disso porque sofrem na pele a falta de bolsas, a incompatibilidade de trabalhar oito horas e estudar ao mesmo tempo, não ter um alojamento adequado para todos, ter seu RioCardbloqueado e esperar no mínimo um mês para obtê-lo novamente, dentre inúmeros problemas.

Conjuntura nacional, juventude radicalizada e eleições

Nessa nota focaremos no plano de lutas, que deve ser o eixo central do programa de qualquer chapa, porque não adianta falar que vai ter luta ou que a saída é ir para as ruas só no papel da campanha. Tem que abrir o jogo e dizer quais serão os métodos que nos levarão à vitória de nossas demandas por permanência.

Para nós, do coletivo Faísca Anticapitalista e Revolucionária-UFRJ, acreditamos que o caminho é a radicalização, seguindo os exemplos dos secundaristas do RJ, SP, RS, CE, GO, dos estudantes universitários da USP, UNESP, Unicamp e Unipampa e do poderoso movimento estudantil francês nesse momento, todos eles dando uma aula de combatividade com suas ocupações de prédios, secretarias, reitorias e escolas e aliança com os trabalhadores, que devem servir de exemplo para nós da UFRJ.

Todos os programas das chapas expressam a necessidade de se lutar contra o governo Temer, pois seria absurdo não relacionar a conjuntura política nacional e as consequências disso na nossa universidade. O governo golpista de Temer veio para aplicar ataques mais duros que o PT estava fazendo, como o corte de bolsas permanência, cobrança de mensalidade nos cursos de pós-graduação e fechamento de ministérios como a da Ciência e Tecnologia.

Isso é só uma amostra da “Ponte para o Futuro” que esse governo quer nos levar e para isso o movimento estudantil precisa se organizar e combater esse inimigo.
No entanto, nem todas as chapas que disputam essas eleições deram exemplos reais de luta contra esse governo golpista, e enquanto toda a sociedade e a própria UFRJ estavambastante envolvidas nos fatos que estavam desencadeando a articulação do golpe, nosso DCE foi extremamente omisso e ausente para impulsionar assembleias e atos contra o impeachment.

Nomes diferentes com políticas iguais

Não chamamos voto na chapa 1 nem na chapa 4, pois tanto o programa de um quanto o do outro é de aplicação das políticas petistas. A chapa 1 (UJS e Kizomba) e a chapa 4 (Levante) sempre defenderam o governo PT, mesmo quando esse aplicava os ajustes, e não deram nenhuma luta séria contra os ajustes de seu próprio governo. Muito menos houve críticas aos ajustes implementados, é só perceber os discursos vazios de “unidade” e “guinada à esquerda”, quando sabemos que mesmo durante os momentos mais tensos da articulação do golpe o PT e suas centrais sindicais não se colocaram numa luta radical, paralisando a produção com greves e atos de rua combativos contra o golpe, pois ainda contava com sua ex-base aliada de direita, tentando fechar negociatas com os golpistas por cima para salvar o governo. E nas estruturas essas chapas não agiram diferente.

A chapa 2 não se movimentou, isso é verdade, porém a iniciativa contra o golpe tão defendido pela chapa 1 e também pela 4, era de compor e conscientemente impulsionar apenas atos-festivos desmoralizantes que fez, no final das contas, nenhuma diferença para barrar o golpe institucional da direita. Sem contar que nesses atos impulsionados pela Frente Brasil Popular, a qual a chapa 1 e a 4 compõem, as palavras “ajuste” ou “cortes” não apareciam, manobrando para que a imagem do ajustador e repressivo governo de Dilma ficasse com um aspecto mais popular e de esquerda.

Há quem sambe diferente para legitimar o golpe

No lado oposto do “VoltaDilma” está o “Fora Todos!” da chapa 3, formada em sua maioria por militantes do PSTU. Em seu programa eles conseguem chegar ao máximo de seu delírio em apontar como “petistas” todos aqueles que lutaram corretamente contra o golpe da direita, financiado e articulado pelas patronais industriais, Globo e Judiciário para que ataques mais duros sejam aplicados a nós, trabalhadores e estudantes.

A política do “Fora Todos” vê como progressista o show de horrores que aconteceu na votação do impeachment na Câmara, com os discursos racistas, machistas e LGBTfóbicos daqueles golpistas, compreendendo dessa forma a primeira parte do “Fora Todos”, ou seja, a “progressista” política da direita que era o “Fora Dilma”.Os companheiros não conseguem entender que nada progressista pode vir das mãos da direita e nem do Judiciário.

A chapa 3 defende que nós, estudantes, impulsionemos uma greve geral junto com a classe trabalhadora para impor “eleições gerais”, mostrando a adaptação do PSTU ao eleitoralismo burguês. Isso é auxiliar a política golpista, pois quem ganharia essas eleições não seria a esquerda, pois segundo pesquisas de intenção de voto, ganharia hojeou a conservadoraMarina Silva, da Rede, ou o ex-presidente Lula, dessa forma compactuando com o golpe, para que dessa vez venha uma “Ponte para o Futuro” com a legitimidade do voto popular.

Ao contrário do PSTU, acreditamos que uma greve geral ou a luta dos trabalhadores e da juventude devem impor uma nova Constituinte, pois precisamos colocar abaixo as regras atuais de nosso regime e dessa forma construir um regime mais democrático e com mais controle popular.

É urgente acabar com os privilégios absurdos dos políticos e juízes, com a autonomia do incontrolável Poder Judiciário e fazer com que cada juiz e ministro desse poder seja eleito pelo povo, e que o vestibular seja extinto e que a universidade seja um direito básico de toda pessoa.

Análise coerente da conjuntura, porém na prática impera o imobilismo

A chapa 2, composta pelos coletivos Não Vou me Adaptar, Correnteza, Coletivo Marxista e UJC, corretamente analisa o processo de impeachment como um golpe institucional articulado por empresários e políticos para aplicar ajustes mais duros e aprofundar a retirada de direitos.

A saída que os companheiros colocam é a mobilização e a radicalização nas ruas, e exigir o “Fora Temer” nas pautas do movimento estudantil. Programa coerente, porém na prática essa chapa não vem se colocando como gestão impulsionadora da mobilização e muito menos da radicalização.

Durante o processo de impeachment, por incrível que pareça, a reitoria da UFRJ foi mais radical que o próprio DCE, com a chapa 2 na majoritária da gestão proporcional. A reitoria convocou atos contra o golpe, os cursos de História e Ciências Sociais fizeram assembleias para votar paralisações e atividades na universidade contra o golpe também, enquanto o DCE nada fez.

Apesar de sempre possuir muitos CRID’s e apoio para sua chapa, não se vê na política cotidiana esse número de apoiadores. Com o número de apoiadores que essa chapa tem ao longo de sua gestão, não há motivo para não impulsionar, no mínimo, assembleias de base por curso, em vez dos falidos conselhos de CA’s, para tirar propostas de ações contra o desmonte da universidade pública.

Mas o que aconteceu durante toda essa gestão foi o predomínio do modo burocrático de lidar com os estudantes,o que acabou gerando um ambiente de desconfiança e altas críticas em relação ao DCE, que é ausente da vida dos estudantes na universidade, o que não deveria acontecer, fruto de uma política de afastamento do cotidiano político.

Por uma nova tradição de movimento estudantil

Para nós, do coletivo Faísca Anticapitalista e Revolucionária-UFRJ, o DCE tem que ser um instrumento de luta militante dos estudantes e que impulsione mecanismos de organização de base, como assembleias, e que jogue todas as suas forças em solidariedade e aliança na luta dos trabalhadores e dos estudantes.

Enquanto pipocam várias ocupações de escolas, greve de professores e estudantis, como a da UERJ aqui no Rio, e a das universidades estaduais paulistas – com o exemplo da Unicamp, que em assembleia geral que decretou a greve estudantil votaram como eixo político da greve a luta contra o golpe e os cortes de 40 milhões e pela implementação de cotas raciais – nosso DCE mais uma vez ficou omisso e com a cabeça enterrada na areia dentro de um clima de ascenso das lutas da juventude em um nível nacional e internacional que não condiz com seu imobilismo atual.

Nesse sentido, vemos que nenhuma das chapas é no momento capaz de realizar a unificação dos estudantes da UFRJ com os diversos setores em luta no momento e nem ao menos construir e impulsionar espaços de democracia de base. Por isso chamamos o voto nulo nessas eleições.

Para que a crise de representatividade que vivemos seja superada, acreditamos que devemos estimular as assembleias gerais e de cursos pela base, para que no fim esses organismos se tornem os espaços de decisão e organização do movimento estudantil para colocarmos nossas propostas de ação para a ofensiva contra o governo golpista de Temer e seus ataques, nos espelhando nos métodos de luta dos secundaristas e dos estudantes franceses, para que dessa forma superemos também a tradição burocrática e aparelhada do nosso atual DCE, e que o movimento estudantil da UFRJ conflua no processo de radicalização que vem ocorrendo no Brasil desde as ocupações de escolas dos secundaristas de SP e que se espalharam pelo país inteiro.




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