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PARLAMENTO EUROPEU | Eleições europeias: os grandes derrotados, os vencedores e as surpresas

Macron derrotado, Salvini e Le Pen comemoram, a crise do Brexit afunda conservadores e trabalhistas. Os verdes dão a surpresa e os eurocépticos avançam a 25% do Parlamento Europeu.

segunda-feira 27 de maio de 2019 | Edição do dia

O bloco de conservadores e social-democratas perde a maioria absoluta que tinham há anos, e se vêem forçados a negociar com os liberais e os verdes para aprovar medidas e conter os eurocépticos. Estes últimos avançam para ter 25% dos assentos, mas não atingem os 33% que estavam buscando para bloquear as principais resoluções.

A extrema direita vence na França, no Reino Unido, na Itália e na Polônia, como resultado da persistência da crise dos partidos tradicionais.

Alguns dos grandes derrotados são Macron, os conservadores e trabalhistas britânicos, o Movimento 5 Estrelas e Tsipras na Grécia, que é forçado a convocar eleições antecipadas para junho.

Também se constata um importante recuo dos populistas de esquerda; Melenchon cai na França e PODEMOS faz sua pior eleição, perdendo também os governos das principais cidades espanholas.

Os verdes dão a surpresa em países como Alemanha, França e Reino Unido, expressando grande parte do voto juvenil, o descontentamento pela esquerda com os partidos tradicionais e as preocupações pelo meio ambiente.
Em seguida, analisamos os principais resultados por país.

Alemanha

Os partidos da coalizão governista (conservadores e social-democratas) caem com força enquanto os verdes crescem.

A coalizão do governo é fortemente questionada. Nas últimas eleições europeias de 2014, eles somaram 62,7% dos votos, enquanto agora chegam a 44,3%, com uma queda de quase 20 pontos. O partido de Merkel, a CDU / CSU, chega a 28,9% dos votos (7,6 pontos a menos que nas eleições anteriores), enquanto os sociais-democratas do SPD ficam em terceiro lugar com 15,8% (12 pontos a menos).

Os Verdes são os grandes vencedores da eleição, passando para o segundo lugar com 20,5%. Eles capitalizaram grande parte do voto juvenil e da preocupação com o meio ambiente que tem se expressado no movimento "Fridays for Future" contra a mudança climática, além de aproveitar o desprestígio do SPD entre os jovens, depois de vários governos de "Grande Coalizão" com os conservadores. A extrema direita da Alternativa para a Alemanha obtém 10,8% (aumenta em relação às últimas eleições européias, mas cai quase dois pontos desde as últimas eleições gerais).

A retirada de Angela Merkel como chefe da CDU e a queda acentuada no apoio à coalizão governista impõem uma pressão extra sobre o governo e abrem a possibilidade de um adiantamento das eleições.

França

Le Pen vence as eleições e Macron é golpeado pelo voto de castigo.

O Partido Reagrupamento Nacional (ex Frente Nacional) de Marine Le Pen obtém o primeiro lugar nas eleições europeias (23,31%), como havia acontecido há cinco anos, embora com uma porcentagem menor.

O grande derrotado é Macron, que, embora permaneça com pouca diferença (22,41%), recebe sua primeira derrota nas urnas e acusa o desgaste profundo, produto de um grande descontentamento social e do fenômeno dos "coletes amarelos" como um conflito nas ruas que embora tenha perdido magnitude, persistiu nos últimos meses.

Também na França, os verdes tem sido uma surpresa, ficando em terceiro lugar. A direita tradicional dos Republicanos cai abruptamente para 8,4%, aprofundando a crise dos partidos tradicionais que ficam praticamente marginais.

O populismo de esquerda de Melenchon fica muito abaixo de suas expectativas, obtendo 6,31%, muito pouco acima dos socialistas franceses que mal conseguem ficar no Parlamento Europeu, com 6,19%.

Reino Unido

O partido do Brexit arrasa nas eleições, conservadores e trabalhistas punidos
O novo partido de Nigel Farage, o Partido do Brexit, obtem 30,5%, bem acima dos conservadores do governo, que estão passando por uma importante crise com a renúncia de Theresa May e caem para o quinto lugar (9%), atrás dos verdes (12%).
O Partido Liberal Democrata fica em segundo lugar, com 21,1%, seguido pelo Partido Trabalhista, que obteve 15,2%, caindo 13 pontos em relação a 2014.

Theresa May se mantem a frente do governo provisoriamente, até que o Partido Conservador resolva sua sucessão, em junho. A mensagem das eleições europeias certamente influenciará esta decisão, fortalecendo as alas que apostam em um Brexit com ou sem acordo.

Itália

A Liga de Salvini se fortalece, superando seus sócios na coalizão de governo.

A Liga consolida-se como o partido mais votado com 34,3%, seguido pelo Partido Democrático, que se recupera de sua crise, atingindo 22,7%. Atrás está o Movimento 5 Estrelas (17,1%) que faz parte da coalizão governamental e foi o mais votado nas últimas eleições.

Esses resultados podem provocar mudanças na coalizão do governo, onde a Liga busca maior poder de acordo com seus resultados. Salvini exige maior influência no Conselho de Ministros e procura impor as suas principais medidas, como a baixa dos impostos ou o aumento da autonomia das regiões. As tensões entre os dois sócios vinham crescendo antes das eleições, embora ambos tenham em comum uma política muito dura em relação aos imigrantes.

Estado espanhol

As eleições europeias, que se realizaram simultaneamente com as eleições municipais e regionais e um mês depois das eleições gerais, confirmaram a vitória do PSOE (32%), que entra no Parlamento Europeu com força. O PP está em segundo lugar (20%) e a novidade é a entrada da extrema direita do VOX com 3 assentos (menos do que o esperado há um mês). A esquerda reformista do Podemos perde cadeiras, numa tendência similar à que se vivenciou nas eleições espanholas, onde a formação perdeu quase todas as "Câmaras Municipais de Mudança" (Barcelona, Madri, Zaragoza, A Coruña) e recuou como um todo.

O maior destaque das eleições europeias é que entraram no Parlamento os líderes separatistas catalães Carles Puigdemont e Oriol Junqueras, que estão respectivamente no exílio e na prisão.

Grécia

A vitória dos conservadores da Nova Democracia (ND) levou o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, a convocar eleições antecipadas para o mês de junho.

Polônia

Os nacionalistas conservadores do Lei e Justiça (PiS) obtêm 46% dos votos, em votação com participação histórica. Os líderes do PiS fazem parte do bloco de países de Visegrad, eurocéticos e opostos a Bruxelas em questões de imigração e fronteiras.

O partido nacionalista teve como lema de campanha "A Polónia é o coração da Europa", e tentará revalidar o seu governo nas próximas eleições gerais do outono.

A nível europeu, para além das diferenças de um país para outro, a mesma tendência é expressa. Num contexto de crises dos partidos tradicionais, de relativo fortalecimento do populismo de direita e de extrema direita (embora com estagnação em vários países), o neorreformismo e o "populismo de esquerda" (Syriza, Podemos, Francia Insumia) não representam um "freio" à ofensiva da direita nem uma alternativa favorável para trabalhadores, as mulheres e os jovens. A luta por uma Europa socialista dos trabalhadores e do povo é a única perspectiva realista diante da atual crise do capitalismo.




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