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Andrea D’Atri@andreadatri

quarta-feira 29 de abril de 2015 | 00:01

Muitas vezes as mulheres escutam essa pergunta, formulada pelos homens, como uma incógnita sem solução ou como uma reprovação que não espera ser respondida. Se houver uma resposta, esta é evasiva e imprecisa, porque muitas mulheres tampouco entendem profundamente as raízes dos males do que se queixam, já que o que motiva seus lamentos está invisibilizado na sociedade em que vivemos.

Na indústria alimentícia, nas fábricas têxteis, nas linhas de embalagens de eletrônicos e em outros lugares de trabalho, são comuns as dores nas costas, as lesões causadas por esforços repetitivos - que afetam principalmente as extremidades - e outras doenças provocadas pelas más posturas, pelos movimentos forçados ou pela manipulação de cargas. Também são comuns as doenças psicossomáticas associadas à incisiva supervisão, à rotação de turnos e outras condições de trabalho. Outros procedimentos se relacionam com os trabalhos que requerem a atenção das pessoas, como a docência, a enfermaria, e inclusive, os grandes centros de telemarketing.

Mas, se esta situação é similar para homens e mulheres, porque as estatísticas mostram que são elas as que mais sofrem com as consequências?

Se todos soubessem que as jornadas de trabalho das mulheres, levando em conta tanto as atividades produtivas como as atividades para a reprodução da vida – isto é, as tarefas domésticas – superam as 60 horas semanais, boa parte da pergunta estaria respondida. Mas para o médico da empresa, para a patronal, para seus companheiros e para as próprias mulheres, esse “plus” de trabalho está invisibilizado e, portanto, não se conta na hora de registrar as consequências na saúde.

Segundo diversos estudos, se a trabalhadora está casada e tem mais de dois filhos, é mais vulnerável aos transtornos como estresse, a fadiga, a monotonia e o tédio psíquico. Mas, na maioria dos casos, estes sintomas nem sequer são registrados: médicos, patrões e inclusive a própria família os atribuem ao “mal caráter”, ao período menstrual, a uma suposta “queixa feminina” existencial e às mudanças de humor das mulheres, aumentando seus desgostos.

Quando os integrantes de uma família voltam para casa depois de seus dias de trabalho, todos diminuem seu ritmo de atividade, exceto as mulheres, que devem realizar um trabalho que se estende ao dia e à noite, todas as semanas, sem descanso, e que requer realizar muitas tarefas ao mesmo tempo.

Ainda que às vezes os homens compartilhem as tarefas domésticas, mais que em outras épocas, as mulheres seguem destinando mais tempo que eles nas atividades não remuneradas, o que não só é prejudicial para os seus níveis de saúde, mas também para as possibilidades de participação política e de recreação.

Quando se levantam as de baixo, tremem os de cima

Esta situação, que afeta mais de 5 milhões de trabalhadoras assalariadas na Argentina, não é descolada: ocorre em uma sociedade onde a cada 30 horas se encontra uma mulher sem vida, assassinada pela violência machista, onde outra mulher morre ao mesmo tempo pelas consequências do aborto clandestino¹ e onde mais de 600 jovens são desaparecidas pelas redes de tráfico de pessoas².

E enquanto os empresários enchem os bolsos com a exploração destes 5 milhões de mulheres³, a liderança sindical tradicional não dá ouvidos aos seus questionamentos e não manifesta nenhuma preocupação em encontrar as melhores condições para a participação e organização das mulheres na luta por suas demandas.

Isso dá um caráter explosivo e furioso às rebeliões das mulheres, e nessa mesma espontaneidade mora tanto seu potencial – que quebra todos os obstáculos, que supera todas as imposições – como sua debilidade.

Lamentavelmente, tampouco as agrupações de esquerda interessadas em lutar pelos direitos das mulheres – cuja participação majoritária é de jovens estudantes e profissionais liberais - têm a disposição de colaborar com a organização de centenas, milhares ou mais, de mulheres assalariadas da indústria, professoras, trabalhadoras da saúde e jovens precarizadas4 em um grande movimento de luta que abrace as bandeiras da emancipação feminina, contra a exploração e a opressão.

No entanto, desde o início da história do movimento operário, as mulheres socialistas têm realizado esta tarefa com abnegação, heroísmo e orgulho5.

O mesmo orgulho com o qual as mulheres do Pão e Rosas e o PTS na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores não só lutam pelo direito ao aborto e contra todas as formas de violência machista, mas também são parte e impulsionam a organização das mulheres trabalhadoras. Colocam de pé comissões de mulheres nos locais de trabalho e secretarias de gênero nos sindicatos - arrancados das velhas direções burocráticas -, expandindo um movimento de mulheres conscientes de que nenhuma igualdade ante à lei pode se transformar em igualdade ante à vida, sendo parte da construção de uma poderosa força material que é um passo na construção da conquista do pão e também das rosas.

Essa é a apaixonante aposta que convidamos a todos a compartilhar, chamando todos a marchar conosco na próxima sexta, 1º de maio, às 15:30, no ato que a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores realizará na Praça de Maio.




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