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GREVE | É hora de superar a estratégia do CPERS para levar a greve à vitória

A direção do CPERS já tem na sua bagagem a grande traição de 2015, que ficou gravada na memoria dos educadores e abriu um período de refluxo do qual somente agora a categoria se recuperou. Numa situação parecida com a de 2015, não podemos deixar que a história se repita. Dizemos não à chantagem de Sartori. Com a força da mobilização em cada escola, o apoio popular e a unidade com as outras greves é possível vencer.

terça-feira 31 de outubro de 2017 | Edição do dia

Os trabalhadores da educação do RS estão há quase dois meses em greve, e a luta segue após assembleia desta terça (31). Para conseguir iniciar essa heroica luta, praticamente tiveram que passar por cima da direção do CPERS paralisando espontaneamente as escolas contra o parcelamento dos salários feito por Sartori, já que a direção do sindicato depois de nada fazer ao longo do ano para organizar a categoria, havia afundado a curta greve de agosto.

É a revolta, a indignação, inclusive por vezes o desespero, da base da categoria depois de quase dois anos de parcelamento que explicam a força da greve. Essa força vai muito além da direção central do CPERS, que tem agido como uma contenção e impedido que toda essa revolta transborde a categoria e que a greve se transforme numa causa de todo o povo. Temer é o governo mais impopular do mundo, e Sartori não é muito mais querido pelos gaúchos. Nessa situação os educadores poderiam ser verdadeiros tribunos da insatisfação com a casta política e transformar a greve numa grande mobilização popular, numa unidade da classe trabalhadora e do povo, para dar um combate à altura de derrubar os ataques do governo de Sartori e, em unidade com municipários e rodoviários de Poa, também os ataques de Marchezan.

Desde o início de setembro, a greve seguiu com muita força, com uma adesão massiva em todo o estado, e inclusive não se deixando abalar pelas diversas ameaças de Sartori, como a absurda ameaça de demissão dos contratados ou as remoções de alunos das escolas em greve.

Em primeiro lugar, pela importância decisiva da greve dos professores, era fundamental que a direção majoritária do Cpers, ligada à CUT, convocasse uma grande campanha nacional em solidariedade à greve para fortalecê-la. Desde o início dessa luta alertávamos para essa necessidade, e procuramos impulsionar em diversos locais, como na UFRN e em outros locais (aqui também), medidas de solidariedade. Se os sindicatos da CUT, por exemplo, se colocassem essa tarefa, isso não apenas contribuiria decisivamente para a luta, mas também para que o espírito de resistência e a moral dos professores do RS se espalhasse pelo país. Mesmo à revelia de suas direções, pequenos exemplos de unidade continuaram se mostrando, como o ato unificado com trabalhadores do Correio em Caxias.

Ainda em setembro alertávamos sobre a necessidade de que as direções sindicais tivessem uma forte política para que o apoio popular a greve se expressasse com força nas ruas, a começar por um grande ato de rua unitário convocado contra os ataques de Sartori, Marchezan e Temer. Desde então, nem um dedo foi movido pelo CPERS nesse sentido. A partir do Esquerda Diário e do Movimento Nossa Classe insistimos reiteradamente na necessidade de fazer um chamado à luta para outros setores e convocar medidas de luta unitárias.

Outro ponto fundamental para conseguir fortalecer a luta, e que passou muito longe das medidas do CPERS, é a necessidade de apontar um programa dos trabalhadores para a crise do estado. Um programa que pudesse se contrapor à chantagem de Sartori, que afirma que apenas com o Plano de Recuperação Fiscal (PRF) costurado com Temer se poderia pagar em dia os salários. Apresentamos propostas nesse sentido, como a taxação das grandes fortunas e o confisco dos bens dos sonegadores. Uma resposta política dos trabalhadores para que sejam os capitalistas a pagar pela crise é necessária e possível.

A votação da greve dos municipários de Porto Alegre em 29 de setembro e o inicio da greve massiva na semana seguinte deu um novo fôlego à luta contra os ajustes no RS, e abriu um momento em que a unidade das diversas categorias de trabalhadores era ainda mais necessária e possível de ser alcançada. Nesse momento afirmamos que “ A indignação dessas duas grandes categorias deve se espalhar por toda a classe trabalhadora e pela juventude de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. É urgente que essas duas greves tenham ações unificadas, que convoquem também outras categorias e setores à luta. Um setor fundamental para isso em Porto Alegre é a categoria rodoviária. (…) É urgente também que o CPERS e Simpa convoquem atos unificados em Porto Alegre, como parte de ter uma agenda em comum de luta que possa envolver ambas as categorias mas também os estudantes, os rodoviários e outros trabalhadores da cidade indignados com os governos de Sartori e Marchezan.” Mas, mais uma vez, a perspectiva de uma unificação das lutas estava por fora da agenda das direções.

Vimos em alguns momentos iniciativas pontuais, como o ato de solidariedade à Carris convocado pelos núcleos 38º e 39º do Cpers, dirigidos pela oposição, que mostravam a possibilidade concreta de avançar na unidade. Contudo, mesmo essa oposição até agora teve apenas tímidas iniciativas e não foi consequente no combate à política das direções majoritárias de dividir as lutas.

A ausência de uma política das direções, tanto do CPERS como do Simpa, de unificar as lutas equivale a uma traição. A única explicação para a falta de uma unidade na cidade de Porto Alegre e a não realização de atos massivos contra Sartori e Marchezan é que isso não está na agenda do PT e do PCdoB, que dirigem o CPERS e o Simpa, e boa parte das organizações de massa da classe trabalhadora e da juventude gaúchas. Não querem derrotar o projeto golpista através da mobilização.

Apostam que Sartori faça o trabalho sujo e lhes entregue o governo nas eleições de 2018. Por isso passaram longe de ter iniciativas de unificar as lutas, de mobilizar nas ruas e em ações democráticas o grande apoio da população, de despertar uma campanha de solidariedade nacionalmente, ou de apresentar um programa dos trabalhadores para a crise do RS. Ao invés disso, na última semana posaram de radicais, fazendo pequenos atos radicalizados, na contramão da necessidade de massificação da greve. Ações "secretas" (não convocadas publicamente) como o fechamento da Secretaria da Fazenda e os bloqueios das CREs, por mais que às vezes tenham resultados importantes pontualmente, quando feitas isoladamente contribuem para afastar a base dos professores da vanguarda mais ativa. Podem, inclusive, em muitos casos, ajudar a consolidar as mentiras da imprensa de que a greve é coisa da oposição e não de uma massa de trabalhadores indignados com o governo.

A oposição ao CPERS, especialmente o 38º e o 39º núcleo, ttem que apresentar uma alternativa

Durante toda a greve, enquanto a direção do CPERS seguia com a sua política impotente para derrotar Sartori, a oposição que dirige os núcleos de Porto Alegre e de quase toda a região metropolitana, na sua maioria filiada a CSP/Conlutas se manteve passiva. Não apresentaram nenhuma política alternativa à da direção do CPERS, além de pequenas ações isoladas.

Agora, depois de dois meses de greve, os núcleos da capital estão se articulando para tentar convocar um ato unificado, uma iniciativa que merece o apoio de todos os educadores. Mas é preciso dizer que ainda é uma iniciativa insuficiente. Até agora sempre os trabalhadores da educação em greve têm respondido aos chamados de luta dos núcleos e ainda é tempo da oposição romper a sua paralisia, que equivale, na pratica, a fazer seguidismo à direção central.

Ainda é tempo da oposição ao Cpers, junto com à CSP/Conlutas, sindicatos e oposições sindicais combativos, os parlamentares do PSOL, movimento estudantil e coletivos de juventude, encabeçarem a convocação de grandes atos que unifiquem as greves em curso com a juventude e toda a população, obrigando as direções do CPERS e do Simpa e os DCEs dirigidos pelo PT e PCdoB a apoiarem a convocatória unificada. Igualmente essas forças poderiam encabeçar grandes plenárias do ativismo combativo de Porto Alegre para organizar um grande dia de paralisação em 10 de novembro, tornando efetivo no RS o dia nacional de lutas que a CUT e a CTB não estão fazendo nada para organizar.

A partir do 1° Núcleo do CPERS em Caxias os professores do Movimento Nossa Classe propuseram e os professores aprovaram um chamado à paralisação geral do RS para retomar o caminho da greve geral, que acreditamos pode ser uma ferramenta para fortalecer esse chamado em toda a categoria, assim como temos defendido essa perspectiva na categoria de rodoviários de Porto Alegre e no movimento estudantil da UFRGS e da UCS em Caxias do Sul, que se expressou no ato unificado de professores e estudantes em Caxias, no apoio de estudantes da UFRGS. A partir das nossas forças buscamos fortalecer o caminho que pode nos levar a vitória, contra a politica da derrota aplicada sistematicamente pelo Cpers e colocamos o Esquerda Diário a serviço de romper o bloqueio midiático contra a greve abrindo suas paginas para que seja uma tribuna das categorias em luta.




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