×

QUARENTENA EM SP | Doria decreta quarentena em SP: sem testes massivos, contratação de equipes de saúde e sem leitos não salvará vidas

A medida sem testes massivos não garante uma efetiva contenção da curva de infecção do Coronavírus. A quarentena sem garantia de leitos a todos os infectados que se prevê que desenvolverão sintomas graves não salva vidas que podem ser salvas. O decreto sequer trata da garantia de emprego e renda de milhões de trabalhadores.

sábado 21 de março de 2020 | Edição do dia

O objetivo apontado pelos governos com a quarentena é cessar o contato entre as pessoas e dessas com ambientes contaminados, evitando ou pelo menos diminuindo a velocidade de expansão do vírus entre a população. A previsão do governo Dória aponta como cenário mais “otimista” a contaminação de 470mil em SP, podendo chegar a 9milhões, dos quais um quinto desenvolve um quadro grave ou crítico precisando de algum tipo de internação.

A perspectiva de contaminação é assustadora, por isso são fundamentais medidas que barrem a transmissão. Para tanto é preciso saber onde está o vírus, quais pessoas estão contaminadas, mas ainda não apresentaram sintomas. O problema é que Doria está seguindo a orientação nacional do Ministério da Saúde que reduziu a realização de testes apenas para os casos graves que precisam de internação e nos hospitais sentinela (somente 27 em todo o país). Dessa forma, a quarentena indiscriminada decretada por Dória significa juntar em cada casa indivíduos contaminados e não contaminados e, por isso, é pouco efetiva no objetivo de conter a disseminação do coronavírus.

Outro problema é que ao não realizar os testes em todos e escolher um método de amostragem pequeno e que não leva em consideração as enormes diferenças de um país continental como o Brasil, essas projeções podem não apontar a real taxa de contaminação, da necessidade de leitos de internação e de mortes.

As pessoas que são contaminadas podem desenvolver sintomas leves ou necessitarem de internação, para observação ou tratamento intensivo. À quem desenvolve sintomas leves deveria ser garantido o direito desse afastar das tarefas diárias, ter acesso à um centro de tratamento onde pudesse se alimentar bem e dessa forma combater o vírus. Aos que necessitarão de internação é preciso garantir que encontre leitos disponíveis e equipes de saúde para trata-lo e assim evitar as mortes.É preciso dizer que são mortes evitáveis se há atendimento. Para isso é urgente que se implemente a contratação emergencial de trabalhadores da saúde, readequação de hospitais e construção de novos leitos para que todos que necessitem tenham atendimento e não morram.

Agora o Ministério da Saúde anunciou a compra de 5 milhões de testes para que sejam testadas também pessoas com sintomas leves. Entretanto, já se sabe que a maior parte da contaminação se dá através de pessoas que não apresentam sintomas, que ainda estão na fase de incubação do vírus. Por isso, mesmo essa quantidade de 5 milhões é totalmente insuficiente frente a uma população de 200milhões no país e a perspectiva de contaminação de 9 milhões só no estado de São Paulo. É preciso reorganizar a produção de laboratórios privados e públicos, indústrias químicas etc para garantir a produção de testes para todos.

O decreto é para todos os 645 municípios, restringindo funcionamento de comércios e serviços considerados por ele como “não essenciais”. Entretanto, há uma enorme distância entre os dados dessas previsões e as medidas de reforço na saúde promovidas pelo governo Doria, que tem se saído nacionalmente como o governo “exemplo” para demais governadores e também ao governo Bolsonaro por ter sido o que saiu à frente das medidas de isolamento, competindo com Witzel e outros de menor projeção nacional como Ibaneis do DF quem vai implementar primeiro e em maior medida a repressão à juventude pobre e periférica.

Assim como os governadores de MG, DF e SC, Dória aposta numa medida repressiva ao invés de organizar fortes campanhas de informação sobre as formas de contaminação pelo vírus e como realizar a prevenção. A quarentena agora é justificada como uma medida sanitária, mas vai reforçar a perseguição e criminalização dos trabalhadores e da juventude em São Paulo, como acontece em outros países. Portugal proibiu o direito de greve, Itália proibiu manifestações. No metrô de SP a empresa proibiu reuniões sindicais dos trabalhadores nas estações, mas mantem poucos trens, apresentando riscos de viajar lotados.

Medidas de isolamento devem estar acompanhadas da identificação dos focos de contaminação e da contratação de equipes de saúde para garantir leitos hospitalares com respiradores para todos aqueles que se prevê que contrairão a doença É preciso também batalhar pela imediata centralização de todo sistema de saúde em um sistema único, 100% estatal, que seja controlado, gerido e administrado pelos trabalhadores da saúde e comissões populares, que coloquem todos os leitos existentes do país à disposição, estejam eles hoje em rede pública ou privada, e devem ficar à disposição dos doentes.

O estado deve confiscar os hotéis e prédios vazios, usados para especulação imobiliária, e transformá-los em centros de tratamento com equipamentos de respiração a toda a demanda (e estes devem imediatamente ser produzidos em larga escala), garantindo as condições adequadas de isolamento àqueles que pegarem o vírus, mas que não estarão com a vida em risco. A essas pessoas, é necessário garantir condições dignas também de isolamento, condições que devido a moradias precárias não levem a infecções desnecessárias.

O decreto de Doria sequer trata da garantia de emprego de tantos trabalhadores do comércio e de serviços que terão empregos em risco com a medida, nem tampouco trata de nenhuma medida para garantir a renda de milhões de trabalhadores que tem trabalhos informais. Ou seja, é preciso garantir condições de sobrevivência em larga escala. Quarentena indiscriminada sem todas essas medidas não vai resolver a questão, sequer vai atenuar o pico da curva de infecção.

A prioridade é a vida. E não se salva vidas colocando outras em risco nem priorizando o lucro. Por isso, é preciso fazer todo o necessário para impedir a disseminação do vírus, produzir insumos e equipamentos necessários para ter testes para todos e leitos para quem precise, e contratar todos os trabalhadores da saúde que sejam necessários para atender todos sem colocar suas vidas em risco. Será necessário se chocar com os governos e empresários que nos últimos anos aprofundaram os ataques a classe trabalhadora aprovando a lei do teto dos gastos, as reformas da previdência e trabalhista, desmontando o SUS, para salvar um sistema em crise.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias