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Claudia CinattiBuenos Aires | @ClaudiaCinatti

sexta-feira 26 de fevereiro de 2016 | 00:00

Desta vez Trump ganhou de maneira mais do que contundente, com uma diferença de 22 pontos em relação ao segundo, Marco Rubio, senador pela Flórida.

Com seu estilo de milionário demagogo, Trump festejou eufórico sua vitória nas primárias de seu partido em Nevada frente a uma multidão reunida no cassino Treasure Island de Las Vegas.

Esta vitória eleitoral o deixa com amplas possibilidades para a “Super terça-feira”, no 1º de março, quando serão realizadas de maneira simultânea 14 primárias principalmente nos estados do sul. A “Super terça-feira” é o primeiro degrau decisivo, dali surgirão grande parte dos delegados para a convenção partidária de julho, que nomeará o candidato presidencial. A outra grande definição será 15 de março na Flórida, onde o candidato que ganhar levará todos os delegados, porque não há proporcionalidade.

Com o fiasco de Jeb Bush, que retirou-se da disputa depois das primárias de Carolina do Sul, o establishment republicano ficou sem candidato próprio. Agora tratará de projetar um candidato que represente os valores conservadores do partido republicano e que possa enfrentar Trump. Aparentemente o eleito por um seleto clube de doadores à campanha republicana e de operadores, entre os quais estão os irmãos Koch e o conhecido especulador financeiro Paul Singer, seria o senador Marco Rubio, um ex-“insurgente” do Tea Party. No entanto, remontá-lo não vai ser simples. O homem não ganhou nenhuma das quatro primárias até agora, enquanto que seu rival, Ted Cruz, ao menos tem a vitória de Iowa para iludir-se.

Ainda não há estratégia clara que supere a fragmentação do partido republicano, que para simplificar, poderíamos dizer que ficou dividido em três alas: a “puritana”, de Ted Cruz, que exagera os valores cristãos e ultraconservadores, ligado ao Tea Party; a do “mainstream” de Marco Rubio que finge de moderada, ainda que Rubio tenha surgido como figura do Tea Party; e a de Donald Trump, um demagogo em ascenso que se transformou na voz de extrema-direita do descontentamento e a insatisfação de um setor importante da população a qual Trump diz que o motivo de suas frustrações são os imigrantes, os muçulmanos, ou a China, mas nunca uma classe capitalista da qual ele é parte, que lhes fez pagar os custos da Grande Recessão.

A receita do êxito de Trump por agora é simples: detectou o estado de ânimo revoltoso de setores da base republicana, uma aliança de grandes milionários com pequenos patrões junto a setores da classe média baixa, que já deu lugar a outros engendros do estilo, como o Tea Party. Esta base barulhenta está farta dos políticos como a dinastia dos Bush.

Trump descobriu que o politicamente incorreto paga, ao menos no eleitorado republicano. Suas “soluções” parecem simples: construir um muro na fronteira com o México (e fazer com que os mexicanos paguem por ele), expulsar os muçulmanos, liquidar programas governamentais de assistência a setores de menor renda para reduzir o déficit (em um país onde cerca de 48 milhões dependem da ajuda estatal para alimentar-se); baixar o imposto às corporações. Em síntese, um programa nacionalista demagógico para devolver a “grandeza” aos Estados Unidos. O que diz um demagogo. Nisto se parece com outros fenômenos de extrema-direita, como a Frente Nacional na França.

A classe dominante norte-americana que tem dois partidos, o republicano e o democrata, vê com espanto o ascenso de Trump. Não é que não concordem com suas políticas de direita, mas tão somente pelo fato de um personagem destas características, com um discurso abertamente racista e sexista, aparecer como um concorrente sério para disputar a presidência da principal potência mundial.

Pela direita Trump e pela esquerda o fenômeno de Bernie Sanders no partido democrata mostram a polarização social e política que deixou como herança a crise econômica e que liquida o consenso de centro estabelecido entre democratas e republicanos. A corrida para a Casa Branca em ambos grupos ainda tem um final aberto.




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