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LETRAS USP | Dois mil e crise: os grandes debates da crise sob a ótica do Marxismo

Neste último mês de aulas, o Grupo de Estudo de Cultura e Marxismo (GECM), que se organiza semanalmente nas quintas-feiras às 12h e às sextas-feiras às 18h no curso de Letras da USP, se encontrará para debater os principais temas foco dos ataques da burguesia sobre os trabalhadores.

quarta-feira 11 de novembro de 2015 | 00:00

Na semana passada, após a importante jornada de protestos contra o fechamento das escolas, o GECM se reuniu sob o tema “Dois mil e crise: marxismo e educação”, quando discutimos a declaração de Herman, publicada no jornal Folha de São Paulo, sob o título “Estudante deveria ir às ruas contra greve, diz secretário de Alckmin”, onde o atual secretário da educação de Alckmin defende que a reorganização escolar é para o bem dos alunos e que estes deveriam protestar contra as longas greves que, segunde ele, “maltratam a educação”.

Em contrapartida à declaração de Herman, discutimos o texto de Afonso Mesquita, intitulado “Por que Vigotsky é importante para pensarmos a escola hoje?”, publicado pelo Esquerda Diário.

Nesse confronto, o vencedor não poderia ser outro que não Vigotsky. Apesar da ausência de um debate sobre a estrutura escolar – fortemente questionada pelos estudantes que se sentem aprisionados e reprimidos dentro dela – foi clara a diferença entre o marxista Vigotsky que tem como norte refletir como a escola pode ser um espaço para potencializar cada qualidade humana ao nível individual e social, enquanto que Herman se utiliza de argumentos “pedagógicos” (como a necessidade de que a escola se foque apenas em um ciclo educacional) para defender uma ajuste material que o Estado vem fazendo, a nível federal e estadual, de todo o sistema educacional. Vestido de um discurso pedagógico, o que Herman quer de verdade é poder fechar escolas públicas e aprofundar a privatização da educação.

12-13/11: Marxismo, capital e trabalho

Um dos campos onde a burguesia vem atuando para fazer os trabalhadores e a juventude pagarem pela crise é a partir da reestruturação do trabalho, como é por exemplo a tentativa de aprovação do PL 4330, que aumenta a terceirização e a divisão da classe trabalhadora entre efetivos e terceirizados.

No próximo encontro do Grupo de Estudos de Cultura e Marxismo, à luz das reflexões de Marx em “Teses sobre Feuerbach”, refletiremos a relação entre trabalho, capital, alienação e a única via de superação do sistema capitalista que é a revolução pela via da insurreição de trabalhadores.

Essas teses, além de profundamente sensíveis em relação à realidade encrudescida dos trabalhadores, carregam em si uma profunda luta política e filosófica de Marx contra duas vertentes dominantes na academia desde 1845 (data da publicação) até os dias de hoje: o idealismo e o materialismo vulgar.

O idealismo, forte concorrente das teses revolucionárias, consiste no discurso que diz que as ideias surgem antes dos homens e que elas são as responsáveis por moldar a realidade social. Do ponto de vista dessa tese sobre o mundo, bastaria transformar as ideias que o mundo seria mais justo, a vida mais plena, e ignora que é tanto a partir de mecanismos materiais que lidamos com a realidade e apreendemos consciência e linguagem, quanto que é por vias materiais que os detentores do capital nos fazem agonizar a cada tentativa de libertação material que buscamos conquistar.

O materialismo vulgar considera que, apesar de vida consciente, os homens e mulheres que são moldados pela vida material que os circunda e que, em relação a ela, nada podem fazer já que são produtos inalienáveis dessa mesma realidade.

Contra isso, Marx vai produzir essas 11 teses, famosas de conteúdo e fundamentais para lutar contra nossas amarras. Reconhecer que somos moldados pelo mundo que nos circunda é fundamental para decidir realizar transformações materiais nele, ao passo que reconhecer o papel da dialética, ou seja, da relação não determinista entre meio e ser, é fundamental para ter certeza de que os homens não são produtos imediatos do meio, e que pela via de sua consciência do mundo são capazes de organizar partidos e fazer revoluções, transformando assim as relações materiais.

Neste sentido, nessa reunião debateremos porque há grande interesse na burguesia em desunir e precarizar as condições de vida dos trabalhadores, assim como qual nosso papel enquanto estudantes, pensadores e intelectuais em meio a uma realidade tão agonizante como a que vivemos. Nas palavras de Marx: Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.

18-19/11: Diálogos negros brasileiros

Na proximidade do dia da Consciência Negra, nos reuniremos para debater dois autores fundamentais para o pensamento literário nacional que seguem sendo, infelizmente, ignorados pela grande maioria da academia.

Talvez pelo que disseram, ou por quem foram, mas certamente por serem negros, Lima Barreto e Cruz e Sousa seguem apartados dos debates literários oficiais da Academia, por exemplo no curso de Letras da USP, onde cabe a decisão do docente ministrar ou não currículos que debatam esses autores.

O Grupo de Estudos de Cultura e Marxismo debaterá para que nesse dia 20 de novembro, esses autores possam fazer parte de nosso imaginário e ampliar nosso conhecimento sobre Brasil, negritude e racismo.

26-27/11: Diálogos negros em África

Ainda como parte de nossos debates de Consciência Negra e consideramos que viemos de um curso onde o que prima são as reflexões literárias em torno de uma série de autores de diversas nacionalidades, percebemos que além do curso de português da Letras/USP ignorar a existência de uma série de autores negros, os cursos de espanhol, inglês e alemão ignoram inclusive que esses países colonizaram países inteiros, o que nesse caso não significa ignorar autores isoladamente, mas a produção literária de nações inteiras que ficam ainda apartadas de nosso currículo.

Autores lusófonos, anglófonos e francófonos, seus movimentos literários e trajetórias de luta seguem alheios ao curso de Letras, e nesse encontro confrontaremos dois deles para que possamos dar um pequeno, mas importante, passo na direção de ampliar nosso conhecimento e abrir os olhos para a existência desse continente.

Chimamanda, jovem autora nigeriana, escreveu livros que percorreram todo o mundo, defendendo ideiais de igualdade de gênero e de luta anti racista. Junto dela, estudaremos um importante militante e autor moçambicano, Craveirinha, com algumas de suas poesias que preencheram páginas de jornais dedicados à luta por libertação nacional.

Ao fim desse ano de intensas atividades do GECM, decidimos fechá-lo com esses debates sobre nosso país, a crise que vivemos e a condição de invisibilidade da produção literária de autores negros. Saudamos aqueles que desde a fundação do grupo, há 4 anos atrás, já se propunham a criar uma trincheira ideológica no curso de Letras, debatendo marxismo e também construindo lutas e intervenções no seio da luta de classes. O momento da crise alcançou o Brasil, e aos olhos da miséria que o capitalismo se comprovou ser, convidamos todos a refletirem e a lutarem lado a lado conosco, armados até os dentes de teoria marxista.




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