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As imagens não poderiam ser mais eloquentes. No Brasil a esquerda institucional de mãos dadas a personagens como Frota e Joice Hasselman. Mais ao sul, no Chile, os portuários tomando as ruas para lutar pelas aposentadorias e para derrubar Piñera, enquanto em Neuquén, os profissionais da saúde pisam firme na defesa dos seus direitos e sacodem a Patagônia.

Thiago FlaméSão Paulo

quarta-feira 28 de abril de 2021 | Edição do dia

A central sindical chilena, que por acaso também se chama CUT, convocou para o dia 30 de abril uma greve nacional contra a política do governo de direita daquele país e uma série de reivindicações. Mas a ira popular não esperou tanto. Pinera tentou proibir o terceiro saque do fundo previdenciário e isso desencadeou a revolta. Lá no Chile, graças a ditadura do general Pinochet já vigora o plano que Guedes tentou aplicar no Brasil: a privatização completa da previdência, cada pessoa faz sua própria previdência. Os portuários pararam e se mobilizaram em várias cidades, porém, exigindo muito mais. Querem o fim desse sistema de aposentadoria, querem derrubar o nefasto governo da direita.

Não pedem um impeachment. Não pedem que o Congresso ou o STF deles decida. Simplesmente dizem: renuncie, vá embora, vamos derrubá-lo. Como? Convocando e ativando a greve geral do dia 30 de abril, indo além do que a direção da CUT quer. Na região mineira de Antofagasta, a coluna dos portuários se unificou com diversos setores de trabalhadores, com os profissionais da saúde na linha de frente, com amplo apoio popular. Como disse Lester Calderón, dirigente do sindicato da fábrica de explosivos de Orica e militante do PTR (que no Chile impulsiona “La Izquierda Diário”), “é preciso que a CUT e os 190 dirigentes convocantes organizem a partir das bases e em assembleias um plano de luta para a greve, que tem que ser efetiva e ativa”. Em Antofagasta e entre os portuários já deram o primeiro passo.

No sul da Argentina o outono está sendo mais quente esse ano. Frente a negativa do sindicato de organizar a luta os profissionais da saúde tomaram a dianteira. Se reconhecem como uma manada de elefantes, que pisa firme e faz a terra tremer em defesa de suas demandas. Sua luta conflui com a das comunidades afetadas pela extração de petróleo pelo método do fracking, que cortam acesso vitais na região petroleira de Vaca Muerta, que setores da imprensa brasileira comemoravam meses atrás como a única boa noticia que vinha da Argentina. Devem estar ainda mais preocupados agora, por que somos nós que podemos dizer: são boas as notícias que chegam do sul.

Que esses ventos do sul tragam muitas sementes, pois encontrarão terreno fértil para germinar por aqui. Por mais obtusa que seja a esquerda institucional, por mais que ela se curve a cada momento para somar apoios tão duvidosos como o de Kim Kataguiri e outros piores, há esperança por que a resistência a Bolsonaro não resume a esse teatro burlesco encenado via zoom.

Na luta das trabalhadoras da LG – diretas e terceirizadas – contra o fechamento da fábrica. Na paralisação dos bancários da Caixa contra a privatização. Na revolta das merendeiras cariocas que de uma hora para a outra deixaram de receber seus salários. Em cada uma das lutas por EPI e por vacinas que percorreu vários hospitais, como vimos no HU da USP, na unidade entre efetivos, terceirizados e estudantes. Em cada fila da fome, em cada corpo não velado, vai se acumulando o ira popular.

E aqui que coloca a bifurcação do nosso caminho. Organizar a revolta, cercar essas lutas iniciais de apoio, levar a solidariedade operária e popular a cada bairro, a cada canto do país, nos irmanarmos com nossos vizinhos do sul que já começam a se levantar. Ou canalizar toda a ira e insatisfação para as eleições de 2022, na esperança vã de que um futuro governo Lula vá melhorar as coisas, enquanto esse perdoa os golpistas, dialoga com os generais, busca apoios do centrão. As possibilidades estão abertas, cabe a nos escolher qual caminho vamos trilhar.




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