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CORONAVÍRUS | Distopia COVID-19 2020: Crise e Revolução Social

Vemos as notícias sobre Nova Iorque. Ouvimos sobre a existência de valas comuns, centenas, para enterrar, sem funeral, os infectados pela COVID-19.

quinta-feira 16 de abril de 2020 | Edição do dia

Nova Iorque é um dos epicentros da catástrofe. Os presos comuns produzem máscaras e cavam valas comuns. O sistema de saúde está em colapso.

Guayaquil, no Equador, ganha o prêmio de desgraça: vemos vídeos de pessoas morrendo nas ruas. Esses vídeos atingem a apoteose do desastre: abandonam-se corpos no meio da rua, alguns outros são queimados nas avenidas, abandonados.

Um dos vídeos tiram lágrimas até dos mais desalmados: uma família leva um corpo para a rua por não suportar mais o cheiro dentro de casa, pois o corpo já está há dias em decomposição. No tempo em que vivemos, já não é mais permitido o luto: melhor não se aproximar dos mortos, não podemos mais beijar suas bochechas para dizer adeus.

A quarentena é a confirmação de que chegamos ao futuro que achávamos que não chegaríamos: agora, em plena época de férias, vemos o sol pelas telas do celular, não saímos de casa e vemos a praia pelas páginas do Facebook. Uma patrulha está do lado de fora de nossas casas com um alto-falante dizendo “fique em casa”.

É a hora da política em tempo real e na tela plana: dia após dia, vemos as reportagens da Secretária da Saúde às 19h. Nosso futuro depende todos os dias dessas conferências de imprensa: tenho a sensação de que eles controlam as nossas vidas.

A COVID-19 vem dar um golpe de realidade a todos. A pandemia vem nos lembrar de que o mundo já havia se transformado em um verdadeiro pesadelo há muito tempo atrás.

A quantidade de espécies em perigo de extinção é alarmante. O controle das grandes corporativas sobre os indivíduos por meio da tecnologia é inimaginável. Hoje, elas podem saber onde estamos, onde estivemos, onde vamos e até o que queremos através dos algoritmos que estão à disposição de grandes empresas e do governo.

A migração tinha chegado a uma situação limite. Cada vez mais, as cidades são inabitadas pela falta de água e pelos preços das casas e apartamentos que não podemos pagar. A crise econômica está chegando como nunca vimos antes. O Fundo Monetário Internacional disse que a crise que se aproxima será pior do que a de 1929.

Os transtornos mentais têm adquirido um novo pico: 6 em cada 10 pessoas têm efeitos nesse sentido, como estresse e bournout. A crise climática está chegando ao seu limite: David Harvey sugere que a COVID-19 é uma vingança, pois o capitalismo destruiu a natureza. Os mares, os rios, o ar, convertidos em mercadoria, chegam ao limite: há quem diga que não demora 200 anos para desaparecer o mundo tal e como conhecemos.

A grande crise que vivemos é a síntese de todas as convulsões possíveis. É impossível enumerar as relações de domínio que geraram esta catástrofe. Mas todos, sem saber, estão conscientes dos motivos que são a essência do desastre.
A crise de energia: o fim dos combustíveis fósseis.

Crise dos empregos: 2 milhões de pessoas não têm trabalho no México, segundo o INEGI, e o número que crescerá com a COVID-19 será de um milhão a mais.
Crise ecológica: o cientista Stephen Hawking disse que estamos destruindo o planeta. Sua teoria levou a pensar a ocupação de Alpha Centauri.

Crise demográfica: não existem cálculos sobre a quantidade de pessoas que viajam com o trem da “besta” para o sonho americano. Eles vêm da Nicarágua, [El] Salvador e viajam para os Estados Unidos, sem falar da Europa.

Crise de feminicídio: 80% dos casos no continente acontecem no México como câncer, em comparação com a América Latina.

A metade da população mundial não tem acesso a água potável. O mesmo parâmetro para pensar o analfabetismo. No México, 45.5% da população, 53.3 milhões de pessoas, vivem na pobreza. Mas, no mundo, é mais do que 60%. O mundo se transformou em uma pirâmide da miséria: um monumento da exploração.

Os especialistas em economia dizem que estamos exagerando. Os políticos, que somos rebeldes. Esta é a ordem social. Garantem a polícia, o exército, os meios de comunicação. Esta sociedade não é possível sem coerção social: do exercício aos jornais do dia a dia. São as instituições.

É necessário imaginar a revolução

Fomos acostumados a pensar que essa crise seria normal em pleno século XXI. É mais fácil pensar no fim do mundo, é comum pensar que iremos nos infectar pela COVD-19 ou que milhões vão ficar doentes, em vez de pensar que podemos mudar a ordem estabelecida. Necessitamos medidas radicais e urgentes para mudar o mundo.

Este momento crítico pode ser parteiro de grandes revoluções. Já emergem lutas, gritos de protesto, paralisações, greves e assembleias em uma desesperada busca pela vida: “queremos viver” é um dos principais lemas dos grevistas da Amazon nos Estados Unidos, das grevistas enfermeiras em Nova Iorque, dos maquiladores da zona fronteiriça de Tijuana, Matamoros e Cidade Juárez.

Entre essas desesperadas ações de protesto, temos que imaginar um mundo inteiramente novo que nascerá das garras do sistema atual de domínio. Não é um mundo que emergirá da evasão, mas sim resolvendo as contradições do sistema. Devemos pensar uma sociedade da obsolescência e transitar para uma de bens duradouros. Isso significa que devemos pôr um freio de emergência na produção indiscriminada de mercadorias. É melhor mudar o sistema, não precisamos nos contentar com o que já temos e que nos levará à borda do desastre.

A burguesia arrasta o mundo para um colapso. A ideia da revolução, portanto, não é somente se uma classe vence ou não, mas a necessidade de se deter a tempo a catástrofe: isso se converte em uma urgência da civilização. A revolução é um ato que requer pressa, e não há tempo a perder. Assim, vale a pena voltar a sonhar.

Dizem que os que querem mudar o mundo são sonhadores, que o que pensam não tem princípio de realidade. Eles têm razão: a tensão é o princípio da esperança. E, com isso, vale a pena voltar ao Lenin, em seu texto em defesa dos sonhos.

Sonhar em meio a um dos momentos mais obscuros da humanidade. Imagine se quiser: em 1914, começava a Primeira Guerra Mundial. Dezenas de milhares de mortos. A Socialdemocracia Alemã, a mais forte e poderosa organização socialista do planeta naquele momento, se rendia, em agosto daquele ano, a uma das guerras mais sangrentas da história, a favor de uma carnificina imperialista.

Lutar pela revolução socialista em um dos países menos esperados por qualquer marxista alemão, a primeira revolução socialista no país mais atrasado da Europa: a gigantesca Rússia campesina. Conseguir barrar a guerra por meio das consignas: “paz, pão e terra”. No fundo, o bolchevismo rompeu com todos paradigmas do que era possível em seu tempo. Isso, segundo Ernst Bloch, é o poder da esperança. O quadrado da sinfonia é a militância: a organização da esperança, a certeza de que é possível mudar o mundo o mais rápido possível.

Disse Lenin: “‘Com o que temos que sonhar?’ Acabo de escrever essas palavras, e o pânico me invade. Imagino que me encontro em uma ‘conferência de unificação’ e que, diante de mim, se encontram os redatores e colaboradores do Rabótcheie Dielo. E o camarada Martinov se levanta e se dirige a mim ameaçadoramente: ‘Permita-me perguntar-lhe: tem uma redação autônoma o direito de sonhar sem perguntar antes ao comitê do partido?’”

“Depois, levanta-se o camarada Krichevsky e prossegue (filosoficamente aprofundando o camarada Martinov, que há muito havia aprofundado o camarada Plekhanov) em tom ainda mais ameaçador: ‘Contínuo. Pergunto se um marxista tem o direito de sonhar, a não ser que se esqueça que, depois de Marx, a humanidade só pode colocar tarefas que estão em suas mãos resolver, e que a tática é um processo do crescimento das tarefas, as quais crescem junto com o partido.’”

“É preciso sonhar, mas com a condição de acreditar em nossos sonhos. Examinar com atenção a vida real, confrontar nossas observações com os nossos sonhos e realizar escrupulosamente nossas fantasias.”

Necessitamos de novos sonhadores em pleno século XXI. Em vez de pensar que o mundo acabará, imaginaremos o novo mundo inteiramente livre de opressão e desastre. O proletariado é a classe essencial para mudar pela raiz o mundo moderno e é a classe que pode, por ser a que sofre o dobro ou triplo com as injustiças do sistema, dar uma saída de fundo à crise atual.

Somente uma economia planificada, comunista, poderia garantir que as mercadorias fossem bens duráveis, pois Karl Marx opinava que, no capitalismo, existe a anarquia da produção pela lógica da ganância. No comunismo, Karl Marx propõe a produção de mercadorias para a resolução das necessidades sociais de um modo planificado, e não para a ganância dos empresários capitalistas.

Para a grande crise, necessitamos grandes soluções. Imaginemos. E se todas as empresas farmacêuticas, de investigação genética, de biotecnologia e de medicina se colocassem a serviço de encontrar a cura para a COVID-19? E se todas as empresas se colocassem a serviço de produzir tudo o que tem utilidade social, por exemplo, [álcool em] gel e também equipamentos de proteção? E se os lucros dos empresários pudessem ser confiscados para aliviar a fome de milhões? E se fizéssemos o estado se colocar de cabeça e ajudar os mais pobres e desprotegidos? E se estatizássemos todos os hospitais privados e garantíssemos saúde pública para todos? E se fizéssemos a indústria automobilística produzir respiradores? E se colocássemos um freio na atual crise e puséssemos os produtores associados para comandar o país e o mundo? E se desaparecessem as fronteiras e garantíssemos uma vida digna para todos?

A luta contra a pandemia deve se converter na luta contra o capitalismo e pelo comunismo. As e os trabalhadores são os sujeitos centrais para transformar o mundo: somos o sal da terra, a classe com correntes radicais, a única que tem em suas mãos a chave para mudar o mundo. Somos a classe que pode dirigir os oprimidos do mundo para chegar a uma sociedade sem exploração e sem miséria.

Mas isso não será alcançado de forma automática, nem sequer pensamos que o capitalismo morrerá de doença. Para isso, temos que nos organizar, conspirar, nos reunir e construir um partido: um partido revolucionário, anticapitalista, socialista, comunista. Não acontecerá uma mudança revolucionária de forma espontânea: é necessário se organizar e lutar em uma perspectiva revolucionária.




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