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FILAS NAS CRECHES | Diana Assunção: “Covas e empresários deixam mais de 24 mil crianças sem creches”

A fila de espera de crianças na capital paulista ultrapassa 24 mil. Enquanto isto, vemos o esquema de aluguel de creches do vice de Covas, que levou seus amigos empresários a faturar R$ 1,4 milhão de reais. Convidamos Diana Assunção, da bancada revolucionária de trabalhadores do MRT, para comentar o tema ao Esquerda Diário.

segunda-feira 12 de outubro de 2020 | Edição do dia

São 24.300 crianças de até três anos aguardando vagas em creches em São Paulo. Um número que mais do que dobrou desde o início do ano, quando eram 9 mil crianças aguardando vagas. Não é acaso que os maiores números dessa fila de espera estão concentrados nas periferias, com os recordes em Grajaú, que conta com 1.605 crianças aguardando, e Cidade Ademar, onde são 1.370 crianças na fila: ambos na periferia a Zona Sul. Enquanto isso, em bairros centrais, são 155 famílias, sendo de apenas uma criança na fila na Consolação, e 62 em Moema.

A maior espera se concentra no berçário, um dos níveis mais elementares, quando as crianças precisam de acompanhamento intenso. São 14,8 mil crianças esperando por uma vaga em berçários, sendo 1.904 apenas no Jardim Ângela e Grajaú. Um levantamento feito pelo site Catho indicou que 30% das mulheres deixam de trabalhar fora para poderem cuidar dos filhos.

Em meio a essa situação de calamidade nas creches, foi denunciado um esquema de Ricardo Nunes, vereador do MDB que é vice na chapa a prefeito de Bruno Covas, em que ele favoreceria aliados em esquemas de convênios de creches privadas com as prefeituras, o que teria levado a um favorecimento de R$ 1,4 milhão a seus aliados empresários.

Diana Assunção, trabalhadora da USP que há anos luta em defesa das creches na universidade, e candidata a vereadora pela bancada revolucionária de trabalhadores do MRT, comentou a situação ao Esquerda Diário:

“A situação das filas permanentes nas creches de São Paulo é estrutural, e uma demonstração do machismo que está na base da sociedade capitalista. O que ocorre é que o Estado se isenta, e são as mulheres, as mães trabalhadoras, que ficam com o peso sobre suas costas, que tem que arcar – muitas vezes sozinhas – com todo o trabalho e os custos para cuidar das crianças. Enquanto muitas são obrigadas a recorrer a parentes, a contratar alguém para ficar com os filhos, outras são obrigadas a deixar de trabalhar.

Outras ainda são obrigadas a levar seus filhos para o trabalho, e aqui não podemos deixar de lembrar o monstruoso crime cometido contra Mirtes, que, estando justamente nesta situação, levou seu pequeno filho, Miguel, com ela ao trabalho. Por uma criminosa negligência de sua patroa, Sari Corte Real, Miguel caiu de uma janela e morreu. Esse absurdo é mais um retrato do que são obrigadas a passar as mães que lutam por vagas em creches públicas, o que ocorre em todo o país: segundo dados do IBGE de 2017, um terço das crianças mais pobres, de zero a três anos, está fora das creches por falta de vagas.

Escandalosamente, vemos a prefeitura atuar mais uma vez como uma gestora de bons e lucrativos negócios para empresários, e transformar a falta de vagas em uma oportunidade de lucros. Isto ocorre por meio de convênios entre instituições privadas e a prefeitura, que transfere as rendas públicas para estas instituições, muitas vezes de qualidade duvidosa, para que sejam elas que cumpram o papel que deveria ser do Estado. A gestão Haddad bateu recordes na assinatura desse tipo de terceirização. Na gestão do tucano Doria vimos [o superfaturamento neste tipo de contrato→https://www.esquerdadiario.com.br/Doria-prometeu-suprir-demanda-de-creches-mas-superfaturou-com-empresas-de-vereadores], e agora, seu sucessor Covas mostra que segue essa herança: vieram à tona esquemas do vereador Ricardo Nunes, com reduto eleitoral na zona sul, justamente onde mais faltam creches. Uma de suas bandeiras eleitorais são as creches terceirizadas da prefeitura, e o vereador parece estar usando delas para se beneficiar eleitoralmente ao favorecer os esquemas de convênios irregularmente.

Os tucanos já mostraram bem a sua política para as creches na USP, onde trabalho, e onde há muito anos travamos uma dura luta contra o fechamento das creches que atendem as mães trabalhadoras, e onde se desenvolve um trabalho exemplar com os trabalhadores. Mesmo de forma ilegal, o governo de Doria mantém a creche oeste da USP fechada, e a cada ano ataca mais o funcionamento da creche central.

Mas não apenas eles, como dissemos a gestão petista em São Paulo expandiu imensamente a privatização das creches por meio dos convênios, e em dezembro toda a câmara aprovou os "vouchers", mais uma forma de privatizar e terceirizar a educação infantil.

Defendemos que é papel do Estado garantir não apenas todas as creches públicas necessárias, mas outros equipamentos como lavanderias e restaurantes, que possam socializar os trabalhos domésticos que hoje recaem sobre as costas das mulheres com a dupla jornada de trabalho. Esse trabalho não remunerado é fonte de riqueza para os gananciosos capitalistas, e defendemos a taxação de suas fortunas para que esses serviços sejam mantidos pelo Estado, garantindo às mulheres sua libertação do pesado fardo do trabalho doméstico, uma das duras heranças do machismo e do capitalismo”.




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