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ESCOLAS PARTICULARES | Dia 28 não tem aula mas tem luta: a greve dos professores da rede privada de ensino

Abril de 2017 já é histórico para os professores das escolas particulares de São Paulo. Isso porque decidimos em assembleia na sede do SinproSp, um indicativo favorável à paralisação no 28A contra à reforma da previdência/trabalhista proposta pelo atual governo. Esse fato é de relevada importância dada à conjuntura no qual se insere, a saber, a burocracia sindical e a escalada neoliberal de austeridade acentuada no contexto do golpismo.

terça-feira 25 de abril de 2017 | Edição do dia

Deste modo vários interesses se colocam em disputa.
Desde os patronais, interessados sobretudo na terceirização, no trabalho intermitente, no enfraquecimento sindical, no recuo do papel do Estado enquanto árbitro da relação capital/trabalho etc.

Passando pelas burocracias sindicais que se valem por hora da massa trabalhadora para entre outras demandas garantir seus interesses sobre os atuais formatos de contribuição, sem os quais suas atividades estariam comprometidas. É fato que o atual modelo do sindicalismo no Brasil não faz mais do que ser um balcão onde os interesses da classe trabalhadora ficam a mercê das direções, do governismo e dos interesses do capital. No entanto deve-se ponderar que se nossa situação está difícil tendo como retaguarda um sindicato (com todas as críticas que mereça) imagine com sua ausência.

Interesses também temos nós, a classe trabalhadora, que não foi convidada ao debate sobre que reforma é necessária. Na nossa reforma não cabe 49 ou 40 anos de contribuição, 65 ou 62 anos de idade mínima, terceirização, trabalho intermitente, negociado sobre o legislado. Na nossa reforma a meia dúzia de magistrados que se alimentam da maior parte dos fundos é que deve sim ser o quinhão reformado.

Nesta tempestade é de encher de esperança o nível de consciência genuinamente política e de classe que por hora aflora dentro da categoria. Um posicionamento político ainda que pontual faz percebermo-nos como grupo comum dentro de nossas prerrogativas. Um posicionamento que supera siglas partidárias, apartidários e até antipartidários específicos, é de um esplendor tal que rapidamente nossa aglutinação entorno das pautas desvelou que a política partidária tal qual está disposta não oferece aos trabalhadores nenhuma opção programática claramente favorável. Este nível de organização e consciência ainda que prematuro já consta entre nossas vitórias e pode de uma pequena brecha romper diques e inundar futuros cantões.

Nesses momentos agudos é que se torna visível também uma outra questão, o teor dos projetos político-pedagógicos das escolas e a distância entre o que é plano factível e o que é falácia. Ou seja, as escolas que assediam seus funcionários a não adesão ao 28A estão sepultando os itens de seu projeto que versam sobre cidadania, direitos, liberdade e principalmente democracia. É nesse momento que os slogans progressistas poderão expor o que são em prática e o que são exclusivamente em teoria. Todas as instituições que não colocarem-se em seu devido lugar neste momento, que é o respeito constitucional ao direto de greve, declaram-se indubitavelmente enquanto adeptas de uma educação tecnicista e mecanizadora. A democracia não é afinal um verbete da metafísica política, é uma ação.

Ao mesmo tempo, e dada a forte repercussão e adesão à paralisação entre os profissionais da educação, o Sieeesp, a patronal, posiciona-se como esperado. Não só em combate aos interesses dos professores mas inclusive orientando seus associados ao desconto no ponto no 28A. Em mesma nota buscam deslegitimar o movimento como sendo um ato exclusivamente de uma das centrais sindicais e com objetivos eleitoreiros. Essa não é uma posição inocente, é de fato tendenciosa. Também temos nossa tendência e é isso o que chamo luta de classes, na relação patronal/laboral, em cada um dos ganhos do lado de lá eu enxergo uma derrota do lado de cá e vice-versa. É curioso que notas das patronais que se colocam a favor da reforma trabalhista pelo bem do Brasil, nada comentam sobre as sonegações bilionárias que seus associados praticam junto, exatamente, à mesma previdência. Uma reforma que cobre este rombo, apoiamos. Da parte dos trabalhadores nossa contribuição em folha não permite um centavo não recolhido, estamos em dia com nossas responsabilidades e consciências.

O assédio, entretanto, que muitos colegas estão a sofrer e enfrentar em seus postos de trabalho, não nos deve fazer recuar. É fato que temos toda a nossa gama de incertezas e inseguranças, é fato que enquanto trabalhadores temos a dependência de nosso salário para garantir nossa existência e de nossos filhos e familiares, e isso não é pouca coisa, daí o respeito profundo a toda sorte de posicionamentos que colegas estão dispostos a bancar, não é hora de desunião, ninguém é fiscal de ninguém, cada um dentro das possibilidades materiais que dispõe. Agora, estejam certos, o assédio por hora recurso pontual é um simulacro do negociado sobre o legislado, ou seja, enfrentar as imposições verticais agora significa não aturá-las no futuro.

É certo que o professorado, especialmente da rede privada, historicamente mal representado sindicalmente, já pode comemorar sua vitória independente dos futuros resultados. Afinal nós nos unimos, discutimos, nos posicionamos, nos reconhecemos enquanto categoria e classe, e independente da estrutura carcomida do sindicalismo e da anestesia imposta nos anos de petismo, encontramos campo para organização, isso é salutar e será imprescindível nas próximas lutas.

Independente de alcançarmos ou não adesão majoritária, independente de barrarmos ou não as reformas, nós, os professores das escolas particulares de São Paulo nos identificamos e nos reconhecemos como trabalhadores em luta por nossos direitos historicamente conquistados, eis nossa vitória política. Outras virão. Os golpistas não perdem por esperar. Eis o conselho do professorado: refaçam as contas e comecemos por outras reformas indispensáveis, a política, por exemplo, que não pode, inclusive, ser dirigida por vossa casta corrupta e sim por nós trabalhadores através de participação popular ativa em democracia radicalizada. Nós professores, por fim, reprovamos a condução política de vossas senhorias, melhorem, caso contrário, não passarão!




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