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OPINIÃO | Dez anos de "Guerra contra o narcotráfico" no México, seis notas

Que efeitos têm gerado para a população do país? Os resultados são catastróficos: mais de 160 mil mortos, 25 mil desaparecidos, um milhão de fugitivos, fossas clandestinas e centros de extermínios (como o recém descoberto em Torreón), feminicídeos (5 por dia), execução paramilitares de lutadores sociais (em 2011 os dirigentes de Ostula que participaram do Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade, MPJD).

Sergio MoissenDirigente do MTS e professor da UNAM

domingo 30 de outubro de 2016 | Edição do dia

Já são 10 anos da imposição da chamada "Guerra contra o narcotráfico" no México. Que efeitos tem para a população do país? Os resultados são catastróficos: mais de 160 mil mortos, 25 mil desaparecidos, um milhão de fugitivos, fossas clandestinas e centros de extermínios (como o recém descoberto em Torreón), feminicídios (5 por dia), execuções paramilitares de lutadores sociais (em 2011 os dirigentes de Ostula que participaram do Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade, MPJD). O caso mais emblemático da situação no México foi o desaparecimento dos 43 de Ayotzinapa pelo exército: o Batalhão 27. Recentemente o México ganhou o segundo lugar como o país mais violento do mundo: Síria esta em primeiro.

1º apontamento. A guerra contra o narcotráfico foi uma resposta autoritária do regime a uma crise política.

Foi uma saída reacionária as mobilizações populares de 2006. Nesse ano existia uma crise do regime com uma aparição do movimento anti fraude (centenas de milhares) sob a direção de Andrés Manuel Lópes Obrador que os levou a um beco sem saída da resistência civil e pacífica. Este movimento foi contemporâneo a Assembleia Popular dos Povos de Oaxaca e a Outra Campanha do EZLN. A repressão de Atenco e da APPO mostram a resposta do regime autoritário. Durante estas crises EZLN de forma incorreta não denunciou a fraude eleitoral e manteve uma posição sectária frente a quem votou em Andrés Manuel López Obrador.

A chegada de Calderón ao governo começou com a construção de um inimigo interno "o crime organizado", como o que construiu uma narrativa para levar o exército as ruas de todo o país: começou em Michoacán mas se estendeu para todo o território. Como dizia Walter Benjamin: "Todo avanço da reação é testemunho de um avanço da mobilização popular frustrada."

2º apontamento. A militarização é um plano de ingerência imperialista.

A "guerra contra o narcotráfico" significou um avanço da ingerência diplomática, política e militar do México aos Estados Unidos e ao mesmo tempo é um grande negócio. A continuidade e avanço da iniciativa Mérida, a presença do Comando Norte na fronteira do país o FBI e a DEA, a venda de armas das empresas dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo existe uma clara associação do regime político com a burguesia ilegal do narcotráfico: no trafego, venda e transporte como setor de exportação aos Estados Unidos. É, também, uma reconversão da economia mexicana que aporta com 5%do PIB.

A militarização se concretizou mediante a firma de planos e tratados internacionais como o ASPAN (a Aliança para a Prosperidade da América do Norte). Somente em 2013 o governo mexicano recebeu mais de 200 milhões de dólares aprovados pelo Congresso dos Estados Unidos tendo concordância com o Plano Mérida sob os vermelhos de "ajuda" das Forças Armadas. Esta guerra ao mesmo tempo é um grande negócio para as empresas de armas estadunidense; em 2013 as empresas dos Estados Unidos ganharam 127 milhões de dólares com a venda de armas ao México. Este projeto militar implementado de forma paralela as reformas estruturais que sucederam a maior integração do México a economia estadunidense (Reforma trabalhista, energética, educacional).

3º apontamento. Um regime politico degradado que utiliza-se de métodos não convencionais para implementar disciplina social.

O autoritarismo e os métodos de repressão e extermínio deram um salto histórico. Matanças, fossas clandestinas e execuções. Desde Vilas de Salvárcar, a Tlatlaya, Tanhuato, Apatzingán, até o desparecimento dos 43 de Ayotzinapa. Estamos diante de uma crise de violência sem precedentes no país.

A degradação do regime político devido ao aumento dos crimes de Estado, da impunidade, das violações a todos os direitos humanos e ao aumento da violência do Estado contra os movimentos sociais.

4º apontamento. Um novo sujeito dos protestos: as vitimas.

O aumento da violência do estado gerou movimentos de oposição. O primeiro movimento surgiu na Cidade Juarez com as mobilizações encabeçadas por Luiz K Fong (La Gota) que desde 2006 chamou as Caminhadas contra a Morte.

Este movimento da Cidade Juarez, foi duramente reprimido e gerou analises muito valiosas sobre o que começava a acontecer no país. Na Cidade do México surgiu a Coordenadoria Metropolitana contra a militarização e a violência (Comecom, 2009) logo depois do disparo a Dario Álvarez na Universidade Autónoma da Cidade Juarez. Em 2011 começou o Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade (MPJD) que encabeçou diversas mobilizações na Cidade do México e as Caravanas (ao norte e ao sul).

Este movimento foi brutalmente reprimido depois do dialogo conciliador em Chapultepec e pôs em evidencia os limites da estratégia civil e pacifica que mantinha o regime de Calderón. E seguiu o movimento que encabeçou os familiares de Ayotzinapa. Existem centenas de vitimas da violência do estado que reconfiguraram um novo ator importante dos protestos no México: as vitimas da narco guerra que tem impugnado a estratégia de militarização do país.

5º apontamento. As crises de Ayotzinapa desencadeou a natureza da narco guerra.

Este movimento apresentou como consigna central a agitação: Foi o Estado. As crises vieram logo que a juventude questionou que o narcotráfico foi responsável pelo desaparecimento dos 43. Este movimento gerou uma crise a versão imposta pelo estado e sugeriu melhores condições para enfrentar a situação do país.

É urgente a construção de um amplo movimento democrático que se organize, junto as vitimas, as organizações politicas de esquerda, as organizações de direitos humanos e as organizações operarias e populares para por um " freio de emergência" a crise que atualmente vivemos no México e desenvolva um plano de ação unitário contra a militarização do país. O Morena de Lópes Obrador, que se reivindica de esquerda, nunca questionou a implementação da militarização do país. Este é é um dos muitos pontos fracos de Morena de Lópes Obrador, como e o caso de sua localização diante de Trump e o imperialismo entre outras questões democráticas como o casamento igualitário.

6º apontamento. Uma estratégia combativa para enfrentar a militarização.

Para frear o projeto de militarização do país é necessário a participação ativa das organizações de trabalhadores com os métodos de paralisação e greve nacional, e este tem sido o ponto fraco do MPJD e do movimento pela apresentação dos 43 de Ayotzinapa.

A participação das agremiações de trabalhadores como a UNT, que agrupa os trabalhadores telefonistas (que somente agora tem acordo em fazer declarações), a NCT, com o SME e diversas organizações sindicais universitárias, o sindicato dos Mineiros Metalúrgicos, a Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) e a participação do proletariado mexicano atazanados pelas organizações como a CTM e a CROC (San Quintin e as lutas maquiadas) é vital para por uma alta militarização do regime de Peña Nieto.

No caso da EZLN, deve receber a solidariedade das organizações de trabalhadores antes que receba ataques do estado capitalista. Esta é uma posição principista a que deveria ser adotada nos sindicatos que se reivindicam oposição como a UNT, a NCT e a CNTE, Ao mesmo tempo a direção da EZLN, por sua concepção autonomista, carece de uma perspectiva estratégica para enfrentar o fenômeno da militarização do país. O movimento pela apresentação dos 43 chegou a apresentar publicamente que os que se mobilizaram eram "por moda", desestimulando os milhares que gritaram: Foi o Estado.

As organizações trabalhistas tem mais responsabilidade pois não puseram suas energias nos movimentos mais importantes da luta contra a militarização a serviço de questionar o chamado "guerra contra o narcotráfico".

No movimento mais critico, como foi a crise em Ayotzinapa, estavam mostrando o urgente chamado de paralisação nacional pelo aparecimento dos 43 e contra a violência do estado e isto gerou melhores condições políticas para os explorados e oprimidos do país, Sem embargo, as direções sindicais, se negaram a impulsionar essa luta em comum com os milhares que se mobilizaram pelo aparecimento dos 43.

Traduzido por Tatiana Ramos Malacarne




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