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DESEMPREGO | Desemprego bate recorde, mais de 11 milhões estão sem trabalho

Acordar cedo todos os dias na esperança de uma vaga no “posto de atendimento ao trabalhador”, contar as moedas para fazer cópias do currículo, andar a pé por quilômetros para economizar na passagem do ônibus, cortar drasticamente as compras do mercado, o lazer e muitos “eteceteras” é a realidade crescente em nosso país para mais de 11,4 milhões. Isso há menos de um mês do golpista Temer vir a público dizer “trabalhe e não fale de crise”.

Evandro NogueiraSão José dos Campos

terça-feira 31 de maio de 2016 | Edição do dia

O IBGE divulgou ontem os resultados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), mais um recorde no desemprego. Já são mais de 11,4 milhões de trabalhadores que estão sem ter como garantir o sustento de suas famílias. O crescimento é de 3,2% comparado ao mesmo período (janeiro a abril) de 2015, a maior taxa desde 2012. A pesquisa também aponta que o rendimento médio dos trabalhadores está em R$ 1.962, recuando 3,3% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Em relação aos trabalhadores com carteira assinada a queda é ainda maior, na mesma comparação, chegando a 4,3%, ou 1,5 milhão de pessoas.

O crescimento do desemprego no país tem se dado não somente pela maior quantidade de demissões em relação às contratações, mas também porque fruto do rebaixamento da renda média combinado ao aumento geral dos preços pela inflação, mais pessoas tem buscado se inserir no mercado de trabalho, na busca por suprir as despesas das famílias, criando ainda uma situação mais perversa de competição acirrada por vagas precárias. Não à toa entre os poucos setores que apresentaram crescimento de postos de trabalho estão os terceirizados na limpeza, segurança e telemarketing, além de trabalhos em geral sem registro, como garçom.

Outros dados divulgados pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) quarta-feira da semana passada, 25, apontam que estamos no 13º mês seguido de queda no número de vagas. Entre abril de 2015 e abril de 2016 a média é de 5 mil vagas a menos por dia. Segundo outra pesquisa, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP), pela primeira vez se inverteu o movimento de “ascensão socioeconômica” em curso desde 2008, sendo que a chamada de “classe C1”, composta por famílias com renda média de R$ 2,7 mil, encolheu em 456,6 mil famílias.

Indústria

Apesar dos números chocantes, um executivo de uma grande montadora, não identificado, declarou ao jornal “O Estado” nessa segunda-feira, 30, que “sabemos que o cenário para a recuperação está mais longe do que imaginávamos e será necessário um ajuste real”, dizendo ainda que as demissões no setor até o momento foram “pontuais”. Voltando à PNAD, a queda de emprego na indústria na comparação de novembro de 2015 a janeiro de 2016 com o último trimestre (fevereiro a abril), é de 3,9%, que em números absolutos significa 473 mil trabalhadores a menos, mais do na construção (400 mil) ou no comércio (302 mil). Em um ano o total é de 1,6 milhão de vagas a menos na indústria no país.

No início de maio o Ministério do Trabalho informou que já transferiu cerca de R$ 157 milhões para as 84 empresas que aderiram ao PPE (Plano de Proteção ao Emprego), entre elas grandes montadoras como Ford, Volks, GM, Volvo e Mercedes, que vem anunciando que deverão demitir aos milhares. A Mercedes do ABC diz que tem 2 mil funcionários excedentes, a Volks 1060 e a Ford 1110. Em Curitiba, a Volvo anunciou que demitiria 400 trabalhadores, mas recuou e apenas abriu PDV (Plano de Demissão Voluntária) devido a uma greve que parou a produção durante oito dias.

A cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba, que depende bastante da indústria automobilística e eletrônica, dois ramos dos mais afetados pela crise atual, teve alta de 17,20% para 22,20% de desempregados entre abril do ano passado e o mesmo mês deste ano, de acordo o Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômicos-Sociais) da Unitau. Com mais de 30 mil desempregados, a cidade vive um cenário pavoroso e é um dos drásticos casos da situação que avança pelo país.

CAGED: variação negativa no emprego em 22 estados

O papel da juventude

O desemprego que cresce a passos largos e aflige milhões de famílias brasileiras tem na juventude um dos setores mais atacados, já chegou a 24,1% no primeiro trimestre. Por outro lado, o único caminho para enfrentar essa situação também tem sido apontado com força pela própria juventude, com as ondas de ocupações de escolas que se espalharam pelo país, somando-se também lutas em importantes universidades. Os jovens que hoje ocupam escolas sabem que o destino preparado para eles pelo governo golpista de Temer, mas também anteriormente pelo governo Dilma, é apenas para engrossar ainda mais as filas de desempregados, disputando trabalhos precários, rotativos e sem registro, favorecendo o rebaixamento geral dos salários.

As lutas que a juventude tem levado adiante em defesa da educação são um exemplo de como resistir aos ataques aos direitos trabalhistas e às demissões. Arrancar o seu futuro na marra, fazendo greve, ocupando e enfrentando a polícia nas ruas é o exemplo que a juventude tem dado, pois também é a única opção que lhes resta. A aliança da juventude com os trabalhadores é um elemento central para enfrentar a crise na saúde, a onda de demissões, desvalorização dos salários e todos os ataques que vem sido desferidos contra os trabalhadores. Essa aliança pode impor um plano emergencial, começando com impedir as demissões e exigir a expropriação sob controle dos trabalhadores de toda fábrica que tente demitir em massa, além da sua abertura dos livros de contabilidade e, se necessário reduzir a produção ou a jornada, que seja feito sem a redução de salários. Para barrar a queda no rendimento dos trabalhadores, que os salários sejam aumentados automaticamente mês a mês na mesma proporção que a inflação. Saúde e educação tenham seu repasse de verbas aumentado com o fim do pagamento da dívida pública.

Essas medidas são parte de impedir que a juventude e os trabalhadores paguem pela crise e nesses processos de luta deve-se avançar na exigência para que as grandes centrais sindicais, como a CUT e a CTB, abandonem definitivamente seu imobilismo criminoso e construam um plano de lutas real a partir dos locais de trabalho, levantando também a necessidade de uma nova Constituinte contra o conjunto desse regime político podre, acabando com seus privilégios, para que enfim os capitalistas paguem pela crise que eles criaram.




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