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EDITORIAL MRT | Defender a classe trabalhadora para enfrentar a pandemia, o governo Bolsonaro e o capitalismo

A pandemia da COVID-19 potencializa a crise econômica que já vinha em curso. Não podemos aceitar que seja descarregada sobre as costas dos trabalhadores. Proibição das demissões e da redução salarial, pagamento integral dos salários e salário emergencial de 2 mil reais para todo trabalhador sem renda ou desempregado.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quarta-feira 15 de abril de 2020 | Edição do dia

Estamos diante da mais profunda crise econômica mundial desde a Grande Depressão da década de 1930, que vai representar a descarga dos custos dramáticos sobre a vida de milhões, já sendo aproveitada pelos capitalistas para incrementar a precarização do trabalho. No Brasil, já se contabiliza mais de 1500 mortos, e segundo especialistas o país começa a entrar nas semanas mais difíceis da pandemia. Com uma crise que escancara o funcionamento irracional do sistema capitalista, vemos também os trabalhadores como peça chave para mover o mundo. Enquanto o governo Bolsonaro vocaliza o pensamento anticientífico, clerical e terraplanista é a classe trabalhadora e a população pobre que vai sentindo cada um dos efeitos dessa crise, seja com a falta de acesso à saúde seja com as demissões e reduções salariais. Neste processo há setores do regime político que aparecem como "sensatos" diante das loucuras bolsonaristas, como Mourão e os militares, Maia, o STF e os governadores que promovem a política da quarentena como resposta a todos os problemas enquanto mantém a população sem testes massivos e avalizam todo tipo de ataques aos trabalhadores.

Neste complexo cenário, em primeiro lugar precisamos levantar uma política independente. Enquanto somos milhões gritando por Fora Bolsonaro, não podemos fechar os olhos para o fato de que, como sempre, outros setores do regime político querem ocupar esse lugar pra continuar levando adiante os ataques à classe trabalhadora e à população pobre. A política de "pedir" a renúncia de Bolsonaro, além de servil ao bolsonarismo - já que ninguém em sã consciência acharia que Bolsonaro atenderia o pedido do PT, PSOL, PCB, PDT e outros partidos burgueses - na realidade termina abrindo espaço direto ao General Mourão, que vale repetir recentemente comemorou o golpe de 1964. A política de impeachment, também nos levaria a esse beco sem saída de terminar colocando no poder um militar. Realmente nosso ódio a Bolsonaro nos coloca reféns de corroborar com essas alternativas? Na nossa opinião de forma alguma, e por isso que não é um "detalhe" que ao mesmo tempo em que nos colocamos como parte deste massivo sentimento de rechaço a Bolsonaro também sejamos conscientes de que a nossa vontade de derrubá-lo é tão grande quanto a nossa vontade de que seja o povo que decida, por isso se gritamos Fora Bolsonaro também dizemos Fora Mourão e os militares, sem nenhuma confiança em Rodrigo Maia, no STF e nos governadores como João Dória, Wilson Witzel, Eduardo Leite, Romeu Zema e tantos que governam contra os trabalhadores.

Ainda assim vale dizer que o PT na última semana, em reunião da Executiva, mostra mais até o final a contracara dessa política: até mesmo do Fora Bolsonaro se retiraram, fazendo jus à quarentena que estão implementando na política e nos sindicatos. Onde está a CUT? Onde está a CTB? Estão na total passividade e esperando pra ver se Rodrigo Maia e outros golpistas do mesmo quilate assumem o controle do país. Nenhuma política de defesa dos trabalhadores, nenhuma proposta para que sejam os trabalhadores a se organizarem, mesmo com as dificuldades impostas pelo isolamento e pela crise sanitária em curso. Num momento em que a crise começa a bater duro na nossa classe é escandalosa a política dos sindicatos. Até mesmo em sindicatos dirigidos pela esquerda como o Sindicato dos Metalúrgicos em São José dos Campos dirigido pela CSP-Conlutas, com peso do PSTU, se aceita, sem nenhum tipo de luta, um acordo de redução salarial.

Isso porque, vale lembrar, apesar do PT e da CUT estarem na prática (e não nas palavras) sob orientação do Ministro Mandetta, membro do DEM e golpista de carteirinha, para que todos #FiquemEmCasa, a realidade concreta é outra. Uma ampla maioria da classe trabalhadora segue produzindo ou garantindo os serviços essenciais, muitos sem nenhuma proteção. É escandaloso que muitas direções sindicais estejam, neste momento, em quarentena, sem se colocar de corpo para defender os trabalhadores que seguem trabalhando sem medidas elementares: álcool em gel, máscaras, reposição de uniformes e principalmente testes massivos, única forma de organizar a quarentena de forma racional, separando os contaminados para poderem se recuperar. Mas mais que isso, diante da situação concreta de crise econômica seria decisivo todos os sindicatos se levantarem em uma enorme campanha pelas redes sociais e nos locais de trabalho pela proibição das demissões. Os parlamentares de esquerda deveriam estar batalhando fortemente para isso. Proteger e defender os trabalhadores diante da pandemia, não aceitar nenhuma redução salarial mantendo o pagamento integral dos salários, exigir o pagamento imediato do salário emergencial e seguir lutando para que seja valor seja elevado a R$ 2.000,00 mensais para todos os trabalhadores sem renda, informais ou desempregados congelando todos os preços de alimentos e exigindo a anistia nos pagamentos de luz, água e outros serviços básicos. É dever das centrais sindicais terem uma política que atenda também aos trabalhadores informais. Essa é uma luta pela sobrevivência da classe trabalhadora, que exigindo das suas direções sindicais que saiam das suas casas pra organizar a resistência terão que, também, superar essas burocracias e recuperar os sindicatos para as mãos dos trabalhadores.

Este é um caminho que nos levará a lutar pela ocupação e estatização sob controle operário de qualquer empresa que feche ou demita em massas. Organizando em cada local de trabalho, exigindo do sindicato, comitês de defesa e saneamento com membros eleitos democraticamente que sejam parte das decisões sobre a liberação dos trabalhadores que são componentes do chamado "grupo de risco" com 100% do salário pois se contaminados podem ter risco de morte de forma acelerada, demanda que deve ser levantada com muita força especialmente nos hospitais para os trabalhadores da saúde. Seria muito importante também defender que se pare a produção não essencial, com remuneração integral a todos os trabalhadores, e a reconversão da produção para os serviços essenciais.

Esse seria um "plano de guerra" fundamental que, combinado a batalha para que o sistema de saúde seja unificado e centralizado entre os aparelhos públicos e privados, permitiria desenvolver a auto-organização da classe trabalhadora, única capaz de levar adiante essas medidas emergenciais pra enfrentar a pandemia. Os governadores "supostamente sensatos" até agora nem a orientação da OMS seguem: o Brasil é o país com menos testes em todo mundo, apesar da enorme população e de ser um país com dados tão escandalosos como ter mais de 30 milhões de pessoas sem acesso a água. Não à toa os que mais sentem o impacto dessa crise no país pagando com sua vida são os negros. Por isso também defendemos o direito democrático da população ter acesso a todo o tipo de medicamento disponível e que as pesquisas sejam livremente liberadas para testar a eficácia de medicamentos no combate à COVID-19.

É com esta perspectiva que o Esquerda Diário vem organizando, em todo o país, Comitês Virtuais para levar essas ideias a milhares de trabalhadores, jovens, mulheres, negros e LGBT que se colocam como parte da luta contra Bolsonaro, sem aceitar que a decisão sobre os rumos do país não fique nas mãos do povo. É o povo que tem que decidir, e por isso além de colocar de pé essas medidas de emergência os trabalhadores precisam batalhar por uma nova Constituinte, que seja livre para tomar suas decisões de forma democrática e soberana a todos os poderes existentes e que caminhe pra arrancar o país das garras do imperialismo acabando com o pagamento da dívida pública, taxando de forma progressiva as grandes fortunas e anulando todas as leis anti-operárias do governo Bolsonaro e Temer, mas também dos governos anteriores do PT. Medidas assim permitiriam que os trabalhadores, neste processo pudessem levar até o final as suas demandas que não estarão plenamente contempladas dentro do sistema capitalista, mesmo que na mais democrática das formas como seria uma Constituinte: defender um governo dos trabalhadores, de ruptura com o capitalismo.

É em defesa dessas ideias, do marxismo revolucionário, que estamos na ofensiva mostrando que o tamanho da crise mundial traz a tona novos paradigmas e permite o retomar de ideias que se mostram cada vez mais atuais. Com o curso sobre o Capital de Karl Marx, ministrado por Iuri Tonelo com mais de 1700 inscritos colocamos o Esquerda Diário a serviço de um marxismo que contribua para construir uma força material conectada com os trabalhadores, cada local de trabalho e com a juventude. Assim também são nossas iniciativas com o Suplemento Teórico Ideias de Esquerda, os Podcasts Internacional, Feminismo e Marxismo e Rádio Peão 4.0, as publicações das Edições ISKRA que recentemente lancará o livro O marxismo de Gramsci, com Juan Dal Maso, Fábio Frosini e Alvaro Bianchi. Este esforço é parte de difundir as ideias do marxismo revolucionário já que as épocas de crises, como a que vivemos, preparam também o porvir da luta de classes. É para estes momentos que estamos nos preparando.




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