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Chile | Declaração: Derrotar Kast e a direita, sem confiar em Boric e seu projeto

Estamos lado a lado com todos os trabalhadores, mulheres, população periférica, imigrantes, mapuches e jovens que odeiam Kast e querem enfrentá-lo. Nosso chamado é para derrotar Kast e a direita com a força e mobilização da classe trabalhadora e dos setores populares, mas sem confiar em Boric e seu projeto. Hoje estamos promovendo uma ampla campanha contra Kast, o conjunto da direita e dos grandes empresários, colocando à disposição o Izquierda Diário (jornal Esquerda Diário no Chile - NT) e nos colocando na vanguarda da organização nos locais de trabalho, de estudo e em todos os espaços onde estamos, sem fazer parte da campanha de Boric nem do Apruebo Dignidad.

quinta-feira 9 de dezembro de 2021 | Edição do dia

Kast representa tudo contra o que lutamos na rebelião de outubro. Trata-se de uma tentativa de restaurar a "ordem" às custas de uma repressão maior contra todos nós que saímos para nos mobilizar para exigir o que os donos do Chile nos tiram. Representa a reação autoritária do "velho regime" contra as bandeiras da Revolta Chilena e a defesa da constituição de Pinochet.

Seus primeiros alvos são as mulheres, a diversidade sexual, o povo Mapuche, os imigrantes e a juventude militante. E um de seus eixos centrais é o discurso da ordem e da repressão. Mas seu projeto visa atacar as condições de vida de todos os trabalhadores. Possui um programa voltado para os grandes empresários e as multinacionais: elevação da idade de aposentadoria e defesa das AFP’s (Administradoras de Fundos de Pensão implementado por Pinochet - NT) ; precarização do trabalho e perda de direitos sindicais, menos impostos para milionários e um ajuste fiscal que significa um ataque direto aos trabalhadores do setor público, saúde e educação pública. Ainda que modifique os aspectos mais chocantes e absurdos de seu programa, esses pilares são o núcleo central. Um verdadeiro Piñera com poder de fogo.

Esta é a razão pela qual, após o triunfo de Kast, muitas e muitos companheiros decidiram votar em Boric no segundo turno para impedir que a extrema direita chegue a La Moneda (sede da presidência da república - NT). Muitos o farão com o "nariz tapado", porque não esquecem que foi o próprio Boric quem se sentou com os partidos dos "30 anos" no Acordo de Paz e na Nova Constituição para salvar Piñera.

Desde o Partido de Trabalhadores Revolucionários - PTR (partido irmão do MRT no Chile - NT), estamos lado a lado com todos os trabalhadores, mulheres, jovens e da diversidade sexual que odeiam Kast e querem enfrentá-lo. Nosso chamado é derrotar Kast e a direita com a força e a mobilização da classe trabalhadora e dos setores populares, mas sem nenhuma confiança em Boric e seu projeto.

Hoje estamos promovendo uma ampla campanha contra Kast, o conjunto da direita e os grandes empresários, colocando o La Izquierda Diario à disposição e nos colocando na vanguarda da organização nos locais de trabalho, de estudo e em todos os espaços onde estamos. Mas não fazemos parte da campanha do Boric nem do Apruebo Dignidad. Compartilhamos essa batalha com as companheiras e companheiros que, sabendo o que Boric representa, vão votar nele criticamente, bem como com aqueles que querem enfrentar a direita e não votarão porque consideram que Boric não representa as demandas de Outubro.

A todos esses, chamamos a promover esta campanha em todos os espaços, impulsionando comandos independentes contra Kast e não subordinados ao Apruebo Dignidad. Precisamos da unidade e da organização independente da classe trabalhadora, do movimento feminista, estudantil, territorial, do povo Mapuche para derrotar a direita e os capitalistas que se beneficiam da ditadura de Pinochet e do regime de 30 anos.

Por que não confiar em Boric?

A política da Frente Ampla e do Partido Comunista de trazer toda a energia das ruas para uma suposta mudança institucional que não deu ao povo nenhuma conquista, é o que tem permitido que se fortaleça a direita. A decepção com a Convenção Constitucional, amarrada a dois terços e longe das urgências populares, explica em grande parte por que hoje muitos não vão votar e por que a direita no parlamento ou variantes populistas neoliberais como Parisi foram fortalecidas. Isso, sem falar no papel desastroso da CUT e das lideranças sindicais que não se mobilizaram nem enfrentaram os ataques do governo de Piñera em meio à pandemia, com o PC votando a lei que legalizou as suspensões (demissões disfarçadas) ou o aprovação da Frente Ampla à lei anti-barricada.

Hoje Gabriel Boric pretende reforçar esse caminho. Nas últimas semanas, vimos um rápido giro ao centro e a moderação. Longe de ser uma mera tática eleitoral, o que está em jogo é qual será o caráter de seu eventual governo. O apoio de Ricardo Lagos e de todos os partidos da ex Concertación e o desembarque dos antigos economistas concertacionistas dos anos noventa buscam assegurar que haja um “ajuste de expectativas” e um compromisso com a chamada “responsabilidade fiscal”. Agora Boric argumenta que nem todos os prisioneiros da revolta podem ser perdoados, que "mais polícia" e uma agenda de segurança pesada são necessários.

Boric está reeditando uma aliança com os antigos partidos da Concertación, uma “Nueva Mayoría” com partidos do regime de 30 anos. Isso não pode significar outra coisa que liquidar a agenda de outubro e suas reivindicações, preservando as odiadas instituições do regime, como os Carabineros.

Retomar a agenda de outubro e preparar o caminho para a mobilização

Os grandes empresários têm se fortalecido e querem ataques às nossas condições de vida, em um contexto de estagnação econômica, mais inflação, aumento do emprego informal e precariedade. A crise política continua sem solução e as demandas sociais das grandes maiorias permanecem pendentes. Um congresso com uma espécie de "empate de forças" não permitirá impor nenhuma mudança profunda contando com alianças com os antigos partidos da Concertación.

Os grandes empresários apostam na restauração da ordem e da governança, e anunciam um plano de ajustes e ataques ao bolso da população, que está por trás da rejeição da quarta retirada e do fim do IFE (espécie de auxílio emergencial chileno - NT). Hoje eles apostam em Kast, mas vão empurrar essa agenda mesmo se ele perder. Boric hoje representa outro tipo de restauração, que é a reconstrução de uma centro-esquerda e uma via social democrata para garantir a governabilidade.

Por isso, desde agora devemos preparar a unidade e mobilização dos trabalhadores, sindicatos, coordenações e movimentos sociais, mulheres e dissidentes, organizações sociais e territoriais, famílias e organizações de presidiários e dos Direitos Humanos. Desde agora é necessário promover amplamente assembleias e comitês de luta, desenvolvendo a auto-organização democrática de base para defender todos os nossos direitos elementares e conquistar as demandas pelas quais milhões de nós saíram às ruas e são ainda mais válidas do que nunca.

Hoje as lideranças sindicais e os movimentos sociais mantém a passividade. Chamam a votar em Boric para "enfrentar o fascismo", mas não convocam assembleias, não permitem discussões políticas e não defendem um programa que parte das demandas não resolvidas de outubro. O caminho do esvaziamento da rua, já vimos, só fortalece a direita e os grandes empresários. Esse caminho, de confiança em um “caminho institucional” sujeito às regras do partido de 30 anos e de esvaziamento da organização e das ruas, levou à ascensão de Kast. Hoje é mais necessário do que nunca fortalecer a organização e retomar o caminho de mobilização ampla e unitária para nossas demandas.

O programa de Boric não responde às urgências sociais das grandes maiorias operárias e populares, e menos ainda às demandas expressas na rebelião. Por isso, é necessário fortalecer uma alternativa dos trabalhadores, com um programa que enfrente Kast, a direita e todos os partidos dos 30 anos e fortaleça a auto-organização e mobilização para vencer as demandas pelas quais temos lutado para enterrar definitivamente a herança da ditadura, na perspectiva de um governo dos trabalhadores.

Um programa que começa o aumento geral dos salários, por um trabalho genuíno sem precariedade, por uma educação de qualidade e saúde pública a serviço do povo, pelo o fim das AFPs, um salário e uma pensão mínima de 600 mil pesos chilenos que são automaticamente ajustados de acordo com a inflação, por uma moradia digna para todos, pondo fim a ganância dos bancos e imobiliárias. Pela liberdade dos presos políticos, pelo julgamento e punição dos repressores, e pela dissolução da polícia. Para enfrentar a agenda e a ofensiva criminalizadora com amplas campanhas pela desmilitarização do Wallmapu e, em última instância, pela devolução das terras ancestrais ao povo Mapuche. Pelos direitos das mulheres, como aborto legal, seguro e gratuito. Lutar para acabar com a pilhagem de recursos, nacionalizando a água, o cobre, o lítio sob gestão dos trabalhadores e da população, e recuperando as empresas privatizadas de gás e eletricidade, a preço de custo para os usuários e colocando esses recursos à serviço das necessidades sociais e não do lucro.




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