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FEMINISMO SOCIALISTA | Debate na Casa Marx Rio “A Luta das Mulheres e o Feminismo Socialista”

No dia 18 de agosto a Casa Marx, situada no Rio de Janeiro, recebeu mais de 60 pessoas para debater a luta das mulheres a partir de uma perspectiva socialista.

segunda-feira 20 de agosto de 2018 | Edição do dia

Foram estudantes de universidades como UERJ, UFRJ, Unirio, PUC, e trabalhadoras de distintos setores, como professoras, trabalhadoras da UERJ, psicólogas, assistente sociais. Num contexto de eleições tuteladas pelo Judiciário, que busca escolher a dedo quem será eleito, e de ataques que os capitalistas querem fazer recair sobre os trabalhadores, das quais metade é feminina, o debate foi um momento de importante troca sobre como seguir a luta pelas demandas das mulheres.

A atividade iniciou-se com uma saudação gravada especialmente para esse debate por Natália Gonzalez Seligra, militante do PTS e deputada nacional pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT). Na saudação Natália relembrou a grande batalha das mulheres argentinas pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito e a necessidade de ligar essa luta com o combate ao imperialismo, que está intervindo tanto no Brasil como na Argentina. O vídeo também expressou a intervenção da agrupação de mulheres Pão e Rosas no Brasil, Argentina, Chile e também na Europa, em apoio à luta das argentinas e pela legalização do aborto.

Simone Ishibashi, militante do MRT e editora da revista Ideias de Esquerda, abriu o debate retomando a necessidade de encarar o combate contra a opressão do patriarcado, ligado à necessidade de derrubar o capitalismo, como sistema de exploração. “Há diversos tipos de feminismo, e o que todos têm em comum é que querem acabar com o patriarcado. Mas o feminismo socialista parte da relação indissociável que liga a exploração que os capitalistas exercem sobre a classe trabalhadora, da qual as mulheres são a metade com um processo de elevação da força de trabalho feminina que não cessa, com a luta contra a opressão. Mesmo com conquistas que as mulheres obtiveram, as democracias capitalistas não foram capazes de acabar com o patriarcado. Uma expressão disso é como os capitalistas lucram indiretamente até mesmo com o trabalho doméstico não pago, sem o qual os trabalhadores não têm como subsistir. Esse trabalho doméstico, que é praticamente invisível e responsável pela dupla jornada imposta às mulheres, é uma das chaves responsáveis pela sustentação do patriarcado”. Em seguida finalizou sua intervenção colocando como o movimento de mulheres deve se ligar aos trabalhadores, para dessa forma derrubar o capitalismo, e que isso implica em que as mulheres sejam linha de frente dos combates políticos que se colocam na atualidade. Dentre esses destacou a necessidade das mulheres lutarem contra o autoritarismo judiciário que está impedindo o povo de eleger quem quiser, com eleições absolutamente tuteladas de modo a garantir os ataques almejados pelo imperialismo e os capitalistas.

Em seguida Rita Cardia, militante do Pão e Rosas e do MRT, aprofundou o debate sobre os combates que as mulheres precisam encarar na presente situação política nacional. “As eleições presidenciais não vão ocorrer normalmente, são para aprofundar o golpe institucional. O judiciário e a Lava Jato querem escolher a dedo o próximo presidente com o objetivo de continuar os ataques. São uma série de juízes que não foram eleitos e ganham supersalários. Não apoiamos o voto no PT que abriu caminho à direita e ao golpe institucional mas somos contra a prisão arbitrária de Lula e defendemos o direito do povo de decidir em quem votar. Não podemos ter nenhuma confiança nas instituições do Estado para garantir os direitos das mulheres, ainda mais com esse judiciário que passa por cima até mesmo da declaração da Comissão de Direitos Humanos da ONU (que declarou o direito ao Lula de ser candidato). Por isso criticamos a estratégia do PSOL que está depositando suas fichas em uma ADPF que pede a descriminalização do aborto ao STF, que não tem nem data para votar e não coloca nenhuma centralidade na mobilização real construída a partir dos locais de trabalho e estudo e como as argentinas tome as ruas para impulsionar uma campanha nacional pela legalização do aborto. E nós do Pão e Rosas também lutamos para que se torne um direito e não deixe apenas de ser um crime, como faz o PSOL que reivindica apenas a descriminalização do aborto”.

Rita Cardia finalizou sua intervenção fazendo uma convocatória para que a mobilização iniciada nesse ano siga, rumo à construção de um grande encontro que o Pão e Rosas fará em setembro. “Nós do Pão e Rosas, que levantamos um feminismo socialista dizemos que não somos uma no poder somos milhares nas ruas lutando por nossos direitos. Queremos juntas com as mulheres no Rio de Janeiro construir uma força que lute pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito e o direito à autonomia em relação ao nosso próprio corpo e sexualidade. Que lute pela separação da Igreja e do Estado, que lute contra a opressão e a exploração capitalista aliada à classe trabalhadora. Por isso convidamos todas as mulheres para construir e participarem com o Pão e Rosas do Encontro Nacional que faremos dia 22 de setembro e que façamos uma forte mobilização no dia 28 de setembro, dia latino americano e caribenho pela legalização do aborto”.

Carolina Cacau, estudante da UERJ e ex-candidata a vereadora do MRT pelo PSOL em 2016, finalizou a sequência de falas da abertura ressaltando como os ataques dos capitalistas e seus governos golpeiam ainda mais as mulheres negras. “Nós somos as que serão mais afetadas pela reforma trabalhista, seja porque ela permite que as mulheres grávidas ou amamentando trabalhem em condições insalubres, seja porque veio para diminuir ainda mais direitos trabalhista e aumentar a precarização do trabalho. No Brasil as mulheres negras ganham 60% a menos que os trabalhadores homens brancos, a diferença de renda entre mulheres brancas e negras é de 56%. Em 2014 no Rio os homens brancos tinham ganho 32,7% a mais que as mulheres brancas e 144,8% em relação às negras e pardas. São as mesmas mulheres pobres e negras, terceirizadas, que moram na baixada, nas favelas, e que precisam dos serviços públicos precarizados pelo governo”. Ressaltou ainda os efeitos da intervenção federal que aprofunda a violência do Estado contra os trabalhadores e a juventude negra, e a necessidade de uma investigação independente há mais de 150 dias do assassinato de Marielle. “Não podemos ter nenhuma ilusão na polícia, Estado, ou na justiça. As hipóteses de que a alta cúpula do PMDB possa estar envolvida no assassinato de Marielle deve servir para dar mais colocar ainda mais peso na necessidade de uma investigação independentes, com especialistas dos direitos humanos, professores que possam ter acesso a toda a investigação, e para que as mulheres tomem a linha de frente da luta pelo fim da intervenção federal”.

Em seguida abriu-se para as intervenções do plenário, e várias companheiras puderam colocar suas opiniões, e relatos emocionantes das situações vividas por conta do patriarcado e do capitalismo, expressando a necessidade de organizar as mulheres para enfrenta-lo. Expressaram que o debate foi libertador e que se sentiram entusiasmadas em se organizar com o grupo de mulheres Pão e Rosas na perspectiva de encarar cada combate contra as diversas formas de opressão de maneira indissociável da luta contra o capitalismo. A maré verde na Argentina, assim como a Primavera Feminista no Brasil, e as expressões de um fenômeno internacional de mulheres mostram o potencial da força em que as mulheres podem estar na linha de frente em aliança com a classe trabalhadora nessa tarefa.

Companheiros que estiveram presentes também pediram a palavra, para expressar seus apoios às demandas das mulheres.

A atividade foi seguida de uma festa que foi bastante animada, na qual todos os presentes puderam celebrar os proveitosos debates do dia.




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