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NPA FRANÇA | Debate com a antiga maioria do Novo Partido Anticapitalista

Debates sobre a situação atual e as perspectivas do Novo Partido Anticapitalista (NPA) da França. A participação nas próximas eleições e as “novas representações políticas”, Syriza, Podemos e o debate na França.

sábado 6 de fevereiro de 2016 | 00:00

Os debates da Conferência Nacional do Novo Partido Anticapitalista (NPA) da França, que será no fim de março, focam à primeira vista sobre uma questão imediata, a presença do NPA nas próximas eleições presidenciais e o conteúdo de sua campanha. Porém, pode-se constatar que o que está em jogo vai além disso. Por um lado, todos sabem que a ausência do NPA nas próximas eleições não aconteceria sem consequências para o futuro do partido, mas também porque por trás desse debate sobre as presidenciais se esconde outro, mais estratégico, que é o da hipótese de construção do partido depois do fracasso do projeto inicial do NPA.

Assim, não é de se estranhar que os camaradas da antiga maioria do NPA (reagrupada na plataforma C) vinculem sua proposta de abrir um processo unitário para as presidenciais com a ideia de uma “nova representação política dos explorados e oprimidos”. A avaliação da qual partem, é amplamente compartilhada: depois da metamorfose definitiva do PS em partido das classes dominantes e o declínio da influência que exercia o PCF nos meios operários, tem sido criado um vazio de representação do movimento operário no terreno político, sendo hoje por hoje a extrema esquerda demasiadamente débil. É isso o que explica o aumento da influência da Frente Nacional de Marine Le Pen sobre uma camada de nossa classe, em torno de uma demagogia supostamente popular.

Nesse contexto, para os camaradas da Plataforma C, se trataria se não diretamente de impulsionar, ao menos de “manter-se disponível” para o surgimento na França de fenômenos tipo Syriza ou Podemos, que encarnariam essa “nova representação”. A partir daqui, surgem diferentes problemas. O primeiro é precisamente o balanço sobre Syriza e Podemos e a rapidez com que essas organizações renunciaram seu próprio programa, na medida em que a gestão das instituições se convertia em uma perspectiva real.

Depois da capitulação de Tsipras, parece que chegou a hora das renúncias importantes do Podemos. Após ter encarnado durante muitos meses o rechaço do que eles chamaram de “casta” (da qual o PSOE é um dos pilares), Pablo Iglesias acaba de lançar a proposta de constituição de um governo… com o PSOE, no qual ele seria vice-presidente. Uma bela imagem de como as supostas “novas representações”, se não são realmente controladas pelos explorados e exploradas e na ausência de uma estratégia de independência de classe e anticapitalista, acabam por transformar-se rapidamente em mediações contra os interesses que supostamente representavam.

Por outro lado, tanto no caso do Syriza como no do Podemos, os laços existentes entre essas organizações e a classe trabalhadora são mais do que superficiais e débeis. No caso do Syriza, esses laços passavam centralmente pela via eleitoral e pela relação com certas direções sindicais. No caso do Podemos, tem tido desde o início uma vontade de diluir o movimento operário - que, inclusive, tem levado a cabo lutas importantes nesses últimos anos - na massa dos “de baixo”, dos “cidadãos”, dos “indignados” em geral. Tudo isso está bastante afastado das experiências de emergência de um “partido de classe” que conhecemos no passado, como o PT brasileiro, nascido nas grandes greves da metalurgia de 1978-1981, ainda que depois tenha se transformado em um partido operário-burguês.

Além disso, não estamos hoje na França - e os camaradas da plataforma C são em geral os primeiros a se recordar disso -, em uma situação de incremento da luta de classes. Não temos nem um movimento como os indignados espanhóis, nem como as greves do ABC paulista.

Nesse contexto, a política desses camaradas de fazer da campanha presidencial uma primeira expressão da perspectiva de uma “nova representação”, dirigindo-se à “esquerda da esquerda” e aos movimentos sociais, não pode ter outra consequência que situações como o episódio dramático em que os camaradas dessa plataforma, sem o acordo do Comitê Executivo do NPA, participaram de uma reunião com Pierre Laurent e Mélenchon do partido reformista Front de Gauche para discutir uma candidatura para 2017.

Mais que continuar fantasiando sobre o surgimento de um “Podemos à la francesa”, nosso partido deveria interessar-se em contribuir desde agora para um reagrupamento dos anticapitalistas e revolucionários sobre bases estratégicas claras, para reconstruir uma extrema esquerda com auditório amplo e com inserção na classe trabalhadora quando esta retome a ofensiva. Para colaborar na construção de uma “representação política” dos explorados e em defesa de seus próprios interesses.

Tradução: Cássia Rodrigues Silva

Para conhecer mais os debates dentro do NPA, leia este artigo:

A esquerda do Novo Partido Anticapitalista se uniu na Plataforma A




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