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ELEIÇÕES ARGENTINAS | Debate argentino: Intervenção destacada de Nicolás del Caño

Em um debate que teve importante repercussão midiática, o jovem candidato da Frente de Esquerda se destacou. Daniel Scioli finalmente não foi e houve um púlpito vazio.

terça-feira 6 de outubro de 2015 | 02:25

As 21h em ponto, como estava programado pelos organizadores do Argentina Debate, o evento se iniciou. O primeiro debate com essas características na Argentina, começou depois de uma breve apresentação dos jornalistas Rodolfo Barili, Marcelo Bonelli e Luís Novaresio.

O conjunto do debate estava dividido em três blocos. Os dois primeiros se formaram com dois temas em cada um e cada candidato tinha um minuto de fechamento. No primeiro bloco os temas foram desenvolvimento econômico e humano por um lado e infância e educação por outro. O segundo esteve destinado a previdência social e direitos humanos em primeiro lugar e, posteriormente, o fortalecimento institucional. Os candidatos tinham a possibilidade de realizar uma pergunta sobre um determinado tema a algum de seus oponentes. Ademais, a ausência de Scioli dava a cada expositor 30 segundos adicionais em um momento determinado do debate.

No conjunto, o mais irreal dos candidatos foi Mauricio Macri do Cambiemos. A ausência de Daniel Scioli (da kirchnerista Frente pela Victória, FpV) o impediu de polemizar abertamente e chamar ao voto útil contrário ao candidato oficial. Ao longo da noite repetiu suas propostas de campanha e tratou de colocar-se como um tipo de catalisador do conjunto do arco opositor, propondo políticas a toda oposição.

Sergio Massa manteve seu discurso de linha dura ao longo de todo programa, tanto nas medidas que propõe para combater o Narcotráfico, como no ingresso das Forças Armadas nos bairros mais pobres da província de Buenos Aires e também nas propostas destinadas a combater a corrupção. Se pode dizer que foi consistente com o eixo de campanha escolhido e isso permitiu destacar-se "O meu pulso não vai tremer para chamar as Forças Armadas" foi uma das frases que lançou para reforçar esse perfil.

Rodriguez Saá realizou anúncios com tom imponente e muita pompa. Entretanto, quando foi perguntado sobre situações concretas que ocorrem na província de San Luis, que propõe como modelo para o país, viu-se em situação difícil e teve que esclarecer que ele "não governava San Luis"

Os questionamentos a Macri, Massa e Rodriguez Saá vieram de Del Caño e Stolbizer. Os outros três candidatos pareciam ter combinado não agredir-se. Pelo contrário, foi muito comum que cada um fizesse perguntas que os permitissem ao outro desenvolver parte de suas propostas.

Margarita Stolbizer, dos Progresistas, manteve um discurso marcado pelo combate a corrupção e a pobreza, criticou o crescimento do Narcotráfico e chamou a melhorar as instituições. Porém, em um tema tão sensível como o direito ao aborto, não se pronunciou diretamente, o que pode se enxergar como uma negativa de assumir essa reivindicação. Assim mesmo, diante de uma pergunta de Del Caño, viu-se obrigada a justificar sua aliança com o Macrismo em várias províncias. O jovem candidato da FIT perguntou-lhe se não considerava contraditório defender a educação pública e fazer aliança com um privatista como Macri. A líder do Progresistas considerou que "não há incompatibilidade de qualquer tipo", ratificando sua aliança.

Del Caño crítico de seus oponentes

As análises que circularam nas horas seguintes ao debate dizem que Nicolás del Caño foi uma das figuras do debate. Tanto dirigentes da esquerda como vários jornalistas reivindicaram muitas de suas intervenções e respostas ante os outros candidatos nas redes sociais.

Del Caño, além de defender suas propostas, atravessou o caminho de seus rivais. Criticou Sergio Massa por exigir o controle do absenteísmo dos docentes quando, como deputado federal, faltou a mais de 90% das votações nessa casa. Essa crítica foi celebrada por muitos jornalista no Twitter.

Del Caño também foi crítico de Macri pela situação dos apartamentos populares na cidade de Buenos Aires, onde o governo do PRO não cumpriu a construção de apartamentos em lugares como o Parque Indoamericano ou no bairro Papa Francisco, onde também houve repressão daqueles que exigiam seu direito a moradia.

A Rodriguez Saá, Del Caño recordou-lhe que, na sua província, cerca de metade dos trabalhadores estatais são de contratos temporários e existem setores de trabalhadores que não tem direito a afiliar-se a uma organização sindical.

Em cada bloco temático ficou clara a diferença entre o que propunham de conjunto os candidatos e a Esquerda. Del Caño já começou arrancando forte ao denunciar que tanto as equipes do ausente Scioli como as de Massa e Macri preparam um ajuste contra o povo trabalhador, muito além de suas declarações que fizeram no debate.

Frente a isso assinalou que a Frente de Izquierda não faz promessas de ocasião como o restante das forças e defendeu uma série de medidas que atacam claramente os interesses do empresariado que deseja que os trabalhadores paguem a crise. "A FIT é a única força política que defende que a crise seja paga pelos capitalistas e que governem os trabalhadores" afirmou nesse momento.

Del Caño assinalou assim mesmo que a escola pública encontra-se em situação de emergência por causa dos salários de fome dos professores e da situação da infraestrutura. Fustigou aos candidatos que atacam aos docentes enquanto esses trabalham inclusive fora do horário escolar. " A qualidade educativa não se consegue atacando aos trabalhadores da educação", sentenciou.

Sobre a situação da infância assinalou que a Argentina tem uma enorme quantidade de recursos e que isso deve impedir que haja crianças que morram de fome. "Olhemos Cuba" afirmou Del Caño para dar conta da situação de um país aonde uma revolução social permitiu conquistas que fazem a mortalidade infantil seja lá a mais baixa do continente , junto com o Canadá. "Nós não compartilhamos seu regime político porém defendemos as conquistas sociais da revolução", disparou Del Caño.

Espionagem e quadrilhas

Nicolás del Caño afirmou ao início do segundo bloco, que "estamos a favor da descriminalização da maconha e também estamos a favor do direito ao aborto, um direito elementar para evitar que morram mais de 300 mulheres ao ano".

Ao mesmo tempo assinalou, contra o discurso de "segurança" de outros candidatos, assinalou que as ’ forças de segurança são as que organizam os grandes delitos" e que, em muitas ocasiões, o papel que tem essas forças é de espionar aos lutadores operários e populares. Nesse ponto lembrou que Mauricio Macri esta sendo processado por escutas ilegais.

No tema denominado "fortalecimento das instituições", Del Caño denunciou a lei de quadrilhas, usada pelo oficialismo e pela oposição em Tucumán e denunciou que em Jujuy propõe utilizar mecanismo similar até as eleições de outubro. Enquanto Gerardo Morales (UCR) tem 187 listas coletoras, as da Frente de Izquierda é uma só. "O escândalo da fraude em Tucumán ao que assistimos foi denunciado em primeiro lugar pela FIT. Isso acontece hoje mesmo em Jujuy. Tanto Fellner como o opositor Morales os usam. Morales leva como candidatos a presidente todos que estão aqui menos Nicolás del Caño e o oficialismo. A lista que encabeça Alejandro Vilca da Frente de Izquierda em uma só porque não utilizamos esses métodos fraudulentos".

Del Caño denunciou também a casta política que se fez milionária em seus cargos, como os juízes, funcionários e incluindo deputados que recebem dezenas de milhares de pesos. Nesse marco, ratificou a prática e o compromisso de que os legisladores da FIT de receber o que recebe uma professora ou um trabalhador. Esse compromisso é parte do apoio aos trabalhadores e setores que saem a lutar.

Um fechamento oposto aos dos candidatos dos empresário

Contra as afirmações gerais que fizeram a maioria dos candidatos presentes, Del Caño fechou sua participação no debate afirmando que "nessas eleições existem seis listas, porém só a da Frente de Izquierda se coloca ao lado dos trabalhadores e contra os interesses dos poderosos. Te pedimos o apoio para conseguir mais deputados no congresso. Uma boa votação da lista que integro junto a Myriam Bregman será uma clara mensagem contra os poderosos, o ajuste e o poder. Temos sido consequentes em cada luta dos trabalhadores, defendemos a recuperação dos sindicatos para o povo trabalhador e não para os dirigentes atuais. Gritamos, junto com as mulheres, Ni Una Menos, como fizeram este ano centenas de mulheres".

O fechamento de Del Caño no debate deu conta da diferença substancial com o conjunto das forças presentes. Claramente comprometido com as reivindicações populares e operárias.




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