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BOLSONARO X QUILOMBOLAS | Cunhado de Bolsonaro destrói plantação em reocupação ilegal de quilombo no Vale do Ribeira

Quilombolas dos municípios de Eldorado Paulista e Iporanga retomaram terras que foram griladas pelo cunhado de Jair Bolsonaro (PSL), Theodoro Konesuk.

terça-feira 23 de outubro de 2018 | Edição do dia

Konesuk é casado com uma das irmãs de Bolsonaro, cunhado da figura da extrema direita que fez declarações racistas ao dizer que quilombolas “não servem nem para procriar” e que para ele “não vai ter 1 centímetro demarcado para terra indígena ou quilombola”, no clube Hebraica no Rio de Janeiro em 2017. Desde 2013, ele grila terras pertencentes aos povoados quilombolas de Galvão e Barra de São Pedro, sendo que, desde a década de 1980, os remanescentes dos quilombos já estavam em conflito com grileiros, ou seja, Konesuk carrega esse legado.

Há cinco anos, o Instituto de Terras de São Paulo (ITESP) abriu um processo contra Konesuk por invadir terras quilombolas em Eldorado e Iporanga para realizar pecuária. Em 10 de setembro de 2018 ele foi condenado a devolver uma área que pertencia aos remanescentes do quilombo Galvão, em Iporanga.

“A documentação comprova a legitimidade da parte autora e de sua pretensão”, decidiu a juíza Gabriela de Oliveira Thomaze, e também que “se trata de área devoluta pertencente ao Estado, as quais foram legitimamente outorgadas à Associação dos Remanescentes de Quilombo da Barra de São Pedro do Bairro Galvão”.

Depois da condenação, em alguns dias, lavradores quilombolas dos povoados de Galvão e São Pedro começaram a plantar bananas e cercar a área com arames para reocupar as terras griladas. Isso gerou descontrole em Konesuk, que se recusou a cumprir a decisão judicial e mandou homens armados para incendiar as lavouras e derrubar os arames, destruindo todo o trabalho dos camponeses.

A formação dos quilombos do Vale do Ribeira teve início em 1833, com a chegada de Bernardo Machado dos Santos mais 8 mulheres e 4 homens, os pioneiros da comunidade de São Pedro fugidos de uma fazenda. Em agricultura de subsistência, se mantinham com roça de arroz, feijão, cará, batata, mandioca, cana, banana. Além disso, criavam porcos, galinhas e cavalos. Pescavam, caçavam e construíam suas moradias e faziam artesanatos com cipó, taquara e palha. Também faziam comércio de troca de arroz, milho e feijão com sal e tecido na cidade de Iguape, em que desciam de canoa atravessando o Rio Ribeira.

Segundo o portal Quilombosdoribeira.org, o acesso à comunidade está na altura do km 41 da estrada Eldorado/Iporanga, a SP-165, após atravessar de balsa o Rio Ribeira de Iguape, com um percurso de 2,5km em uma estrada de terra para alcançar o destino, situado na margem esquerda do Rio Pilões. Hoje, a comunidade de Galvão é formada por 33 famílias, um total de 143 pessoas. Parte das famílias mantém a roça como atividade básica para a subsistência: feijão, arroz, milho e mandioca, além de fazer horta e criação de porcos e galinhas. Boa parte deles trabalha para a prefeitura e governo do estado de São Paulo, além dos trabalhos em fazendas próximas.

Depois do início do conflito na década de 1980 entre os remanescentes do quilombo e os grileiros, segundo relatos colhidos pelo ITESP e pelo Ministério Público Federal, vários deles foram expulsos ou venderam partes de terra por valores insignificantes e deixaram os quilombos.

As declarações racistas de Bolsonaro em abril de 2017 no clube Hebraica no RJ falavam, inclusive, dessas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira: “Eu fui em um quilombo em Eldorado paulista e o afrodescendente mais leve de lá pesava sete arrobas”. E mais ainda, para Datena, na Band, ele acrescentou: “Eles não fazem nada. É um desperdício de recursos, máquinas paradas”.

Como bem sabemos, a 1ª Turma do STF livrou Bolsonaro das denúncias de racismo com a desculpa que as declarações estavam protegidas pela imunidade parlamentar. Quem votou pelo arquivamento foram os ministros Marco Aurélio Mello (relator), Alexandre de Moraes e Luiz Fux.

Todo esse cenário está envolto em uma intensificação da perseguição aos setores oprimidos. O número de assassinatos a quilombolas cresceu 350% em um ano, relacionado com o avanço do agronegócio e da mineração, principalmente no Norte e no Nordeste.

O Esquerda Diário está lado a lado com os quilombolas, e também com os povos indígenas, pela demarcação de terra, contra os ataques do Estado, do agronegócio e das mineradoras. O projeto de Bolsonaro é escravista e quer acabar com qualquer tipo de ativismo, é um projeto capitalista que há séculos assassinam o povo negro e indígena e roubam suas terras.

Em um processo eleitoral permeado de manipulação dos juízes para fazer com que Bolsonaro vença, é necessário que haja organização da aliança entre trabalhadores e os setores oprimidos para enfrentar a extrema direita. Se hoje, para garantir que a demarcação ocorra, é necessário que os latifúndios também sejam ocupados pelos trabalhadores rurais, e que organizados com os trabalhadores urbanos decidam o que fazer com cada uma das terras, é urgente que as vozes anticapitalistas ecoem em cada local de trabalho para derrotar Bolsonaro. Que quilombolas, indígenas, trabalhadores, jovens e todos os setores oprimidos se fortaleçam juntos contra os ataques e essa crise que os capitalistas descarregam sobre nós, porque a crise é deles, e não nossa.

Fonte: De Olho nos Ruralistas e Quilombosdoribeira.org




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