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Luta de classes | Coréia do Sul: trabalhadores dos transportes, educação e saúde preparam onda de greves nesta semana

Sindicatos de diversos setores, como caminhoneiros, ferroviários, metroviários e trabalhadores da educação e saúde, preparam greves de impacto nacional essa semana na Coréia do Sul. Reivindicam aumentos salariais, direitos trabalhistas e se mobilizam contra as privatizações do governo reacionário de Yoon Suk-yeol.

quarta-feira 23 de novembro de 2022 | Edição do dia

A Coréia do Sul atravessa uma onda de lutas sindicais que incomoda o novo governo do conservador Yoon Suk-yeol, um reacionário “Sérgio Moro” coreano eleito em março. A classe trabalhadora coreana se soma na tendência incipiente que vemos também nos Estados Unidos e na Europa, de categorias sindicalizadas tomando a frente com seus métodos operários contra os efeitos da alta inflação mundial, a precarização do trabalho e os ataques impostos pelos capitalistas.

  • A Confederação Coreana de Sindicatos (KCTU), uma das maiores centrais sindicais no país, com mais de um milhão de membros, declarou na terça-feira que entraria em greve geral e hoje (23) cerca de mil trabalhadores da saúde em Wonju, na Província de Gangwon, foram às ruas pela contratação regular dos trabalhadores temporários e o aumento dos salários. Foram acompanhados dos trabalhadores médicos sindicalizados do Hospital Universitário Nacional de Seul, que paralisaram suas atividades por melhores condições de trabalho e mais contratações.
  • O Sindicato Solidariedade dos Caminhoneiros de Carga (CTSU) anuncia que entrará em greve geral, a partir de amanhã, pela continuidade e expansão do sistema de taxas de frete conquistado esse ano. O governo concedeu uma ampliação de mais 3 anos do programa, buscando desarticular a greve, mas os caminhoneiros se mantém firmes por suas demandas. Planejam 16 piquetes por todo o país, incluindo em locais estratégicos como o porto de Ulsan, sede da fábrica da Hyundai Motors. O sindicato informou que quase todos os seus 25 mil membros (6% da frota nacional) e outros caminhoneiros não-sindicalizados participarão da greve.

O governo de Yoon considera despachar caminhões militares para furar a greve e garantir o escoamento de capitais aos empresários, e a associação patronal do petróleo aconselha os postos de gasolina que abasteçam os estoques. Em Junho, uma greve caminhoneira de 8 dias atrasou a logística de gigantes da industria coreana, a quarta maior economia da Ásia, custando mais de 1,2 bilhões de dólares aos bolsos dos capitalistas.

  • Na educação, um sindicato que reúne trabalhadores escolares subcontratados anunciou que 15.000 escolas irão parar na sexta-feira. Entre as demandas estão a reforma do sistema salarial e proteções trabalhistas contra doenças ocupacionais.
  • Metroviários e ferroviários também anunciam que irão aderir ao movimento. O sindicato dos ferroviários planeja um protesto para a manhã de quinta-feira contra a privatização das ferrovias pelo governo Yoon Suk-yeol e ameaça entrar em greve geral a partir de 2 de dezembro caso Yoon avance com a venda das estatais.

Com uma forte indústria concentrada nas mãos de conglomerados conhecidos como chaebols (como Hyundai, Samsung e LG), a Coréia do Sul tem atualmente o terceiro maior volume de horas de trabalho anual e em 2015 ficou em terceiro lugar em acidentes de trabalho entre os países membros da OCDE. No ano passado, a central KCTU convocou uma jornada de protestos com várias reivindicações, incluindo o fim do "trabalho irregular" (trabalho a tempo parcial, temporário ou contratado com poucos ou nenhum benefício) e a extensão das proteções trabalhistas, mais poder aos trabalhadores nas decisões de reestruturação econômica em tempos de crise e a nacionalização de indústrias-chave juntamente com a nacionalização de serviços básicos como educação e moradia.

Yoon Suk-yeol, um capacho do imperialismo norte-americano com retórica de extrema-direita, que hoje pediu à Elon Musk que construísse uma de suas mega fábricas no país, chegou ao poder com 0,7% de diferença em eleições polarizadas, opondo à implementação de uma renda básica universal sua ambiciosa agenda neoliberal: flexibilização trabalhista, conservadorismo fiscal, redução do salário mínimo e fim do limite de jornada de trabalho. Apesar do perfil anticorrupção do “ceifador de chaebols” – pois foi procurador no caso da ex-presidente Park Geun-hye, destituída em 2017 em meio a uma imponente mobilização social – sua política vem sendo de submissão aos interesses das famílias donas dos maiores conglomerados industriais do país com uma ofensiva liberal sobre os trabalhadores.

Diante das tensões mundiais derivadas da guerra na Ucrânia e da crescente rivalidade entre Estados Unidos e China, na arena internacional o governo conservador de Yoon busca uma política externa de maior atrito com a Coréia do Norte e tem como um de seus pilares a cooperação militar com os EUA, já sinalizando ser favorável a aderir ao “Quad”, coalização de segurança anti-China formada por Estados Unidos, Japão, Austrália e Índia.

A classe trabalhadora coreana já protagonizou grandes batalhas em sua história, como as greves gerais que derrubaram a ditadura militar em 1987 e que se enfrentaram com a ofensiva neoliberal dez anos depois, em 1997. Os conflitos no terreno da luta de classes que vêm se desenvolvendo hoje podem ser precursores de futuras crises políticas e sociais na Coréia do Sul contra os capitalistas dos chaebols, seu governo reacionário e a política belicista do imperialismo na Ásia.




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