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COPA FEMININA DE FUTEBOL | Copa do mundo de futebol feminino e os reflexos do machismo na sociedade

No dia 6 de junho começou a Copa do Mundo de Futebol Feminino e ao contrário da euforia provocada pela copa do ano passado, onde éramos bombardeados por notícias e o país inteiro só respirava o futebol, muitas pessoas nem sabem que esse evento está ocorrendo. Além disso, as condições que as jogadoras estão enfrentando são bem diferentes, com machucados pelo corpo devido ao gramado sintético em todos os campos e sensação térmica de quase 50º graus. Uma clara demonstração da discriminação de gênero presente no mundo do futebol.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

sábado 20 de junho de 2015 | 00:00

Já faz mais de dez dias que a copa do mundo feminina de futebol começou e apesar da seleção brasileira ser uma das favoritas ao título, quase não se vê noticias a respeito da competição nem das jogadoras. O mundial está ocorrendo no Canadá, conta com a presença de mais de 24 seleções e vai até o dia 5 de julho, data da grande final.

Ao contrário do que acontecia um ano atrás, quando o Brasil parava para sediar o mega evento e toda a mídia só falava de futebol e da paixão dos brasileiros pelo esporte, ignorando os gastos absurdos, os desalojamentos, os prejuízos causados pela realização do mega evento no país e a repressão, com um aparato quase de guerra, aos que se organizavam para ir às ruas protestar contra os abusos cometidos a serviço dos interesses da FIFA e grandes empreiteiras.

A realidade enfrentada pelas mulheres que estão jogando o mundial é bem diferente da realidade dos jogadores do ano passado. O gramado de todos os jogos é sintético, composto de pneu reciclado e plástico, mais barato e fácil de manter do que a grama natural.

Coisa que nunca ocorreu em nenhuma das edições da copa do mundo masculina e não tem a menor previsão de que ocorra nas próximas. A utilização desse material traz sérios danos a saúde das jogadoras, que saem dos jogos com muitos machucados, muitas usam artifícios como bermudas de lycra e puxam o meião acima do joelho para minimizar as queimaduras da grama artificial.

Outro problema acarretado pela grama sintética é a temperatura, em alguns jogos a sensação térmica fica próxima dos 50º, temperatura considerada limite para a prática esportiva. Antes da competição começar diversas jogadoras – incluindo Marta - organizaram um abaixo-assinado contra o gramado e o sexismo da FIFA que realiza um evento desse porte, sem se importar com as condições das jogadoras.

Teste de feminilidade

Além de todo esse descaso em relação às condições das jogadoras, outro absurdo que envolve a FIFA quando o assunto é Copa do Mundo diz respeito a um artigo do regulamento da competição que permite que sejam solicitados exames quando houver indícios de que uma jogadora poderia ter sexo biológico masculino. Uma clara demonstração do machismo e da transfobia presente na instituição.

Em 2013, da jogadora sul-coreana Park Eun-Sun, de 28 anos e 1,80 m de altura, teve que se submeter a exames por conta das suspeitas de sua federação. Após isso as jogadoras conseguiram uma promessa informal da FIFA de que casos absurdos como esse não se repetirá.

O machismo no futebol

Enquanto futebol masculino e o mercado da bola gera altos lucros aos grandes empresários, o futebol feminino segue sendo marginalizado. As jogadoras seguem enfrentando diversas dificuldades pra se manter na profissão e mesmo se um dia chegam a se tornar profissionais não tem seu futuro assegurado na carreira. Como o caso da ex-capitã da seleção brasileira, Elane dos Santos, 48 anos, que hoje é motorista de ônibus no Rio de Janeiro.

Elas também precisam lidar com situações onde seu potencial esportivo é deixado de lado em detrimento de sua aparência física. Como na entrevista por telefone ao jornal canadense The Globe and Mail, do coordenador de futebol feminino da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Marco Aurélio Cunha: "Agora, as mulheres estão ficando mais bonitas, usando maquiagem. Elas vão a campo elegantes. O futebol feminino costumava copiar o masculino. Até mesmo o modelo das camisas eram mais masculinizados. Costumávamos vestir as mulheres como homens. Então, faltava ao time o espírito de elegância e feminilidade. Agora, os shorts são um pouco mais curtos, e o estilo dos cabelos mais cuidadosos. Não são mais mulheres vestidas como homens"

Uma clara demonstração do forte sexismo em relação ao futebol e de como muitas vezes mulheres que jogam são consideradas menos “femininas” e que para se enquadrar nos padrões socialmente estabelecidos são hipersexualizadas pela mídia e propagandeadas em listas como “as mais belas”, colocando de lado suas capacidades enquanto atletas e profissionais, levando em conta apenas a aparência física.

Expressão de um machismo estrutural, que faz com que a sociedade enxergue o futebol como “coisa de homem” e de como a mídia ao reconhecer as mulheres jogadoras precisa colocá-las dentro dos padrões socialmente aceitos, dentro da ditadura da beleza. O descaso da FIFA em relação as condições das jogadoras são o reflexo de uma instituição a serviço do lucro e dos interesses de grandes empresários que para isso precisam manter e reproduzir a ideologia machista e sexista que constituem um dos pilares estruturais dessa sociedade.




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